Homilia no IV Domingo Comum B 2018
Jesus, Supernanny
1.Jesus não é a Supernanny, a ama televisiva, ou a super-ama, que põe na linha os filhos malcriados e maldizentes, os teimosos e os hiperativos e que, ainda por cima, dá lições de parentalidade a pais desorientados! Jesus goza de grande autoridade, e até os espíritos impuros, os mais violentos e indomáveis, Lhe obedecem, sem precisar do estímulo de nenhum programa de televisão! Não consta que Jesus tivesse aulas de Psicologia do Desenvolvimento ou que frequentasse um Curso de Relações Humanas ou andasse em exercícios de terapia familiar. A autoridade de Jesus não tem sequer título académico, nem Lhe vem do sufrágio popular, nem de uma especial competência na arte de comunicar. É uma autoridade muito simples, que Lhe vem do testemunho, daquela profunda coerência e unidade entre o que Jesus é, o que Jesus diz e o que Jesus faz. Ele não fala por falar, mas diz-Se Ele mesmo no que diz aos outros. As suas palavras são expressão do Seu Ser mais profundo e por isso a Sua autoridade não é apenas a da Palavra que profere, mas a d’Aquele que a anuncia. A autoridade de Jesus reflete-se num ensino, que não se esgota em palavras avulsas, mas que se traduz em ações e gestos concretos, que falam por Ele e nos curam a nós. Jesus não nos propõe uma coisa, uma ideia, um caminho. Ele mesmo é, em pessoa, aquilo que diz. Ele mesmo percorre o caminho que propõe e vai à nossa frente. Ele é, aliás, o próprio Caminho. O que diz aos outros, não precisa de guião. Está no Seu rosto, na Sua vida, nos Seus gestos. A Sua Palavra é audível porque é visível a todos. E, quando a Palavra brota de dentro, o povo mais simples, na sua fé mais genuína, intui que é verdadeira, que não é como «a dos escribas», que falam como quem debita palavras, mas não tocam o coração de quem os escuta. E, depois, esta autoridade de Jesus, é tão forte, que não precisa de falar alto ou de se pôr em bicos de pés. É uma autoridade que não incha de poder. Pelo contrário, a autoridade verdadeira, como a divina, faz crescer e engrandecer o outro, tal como reza o salmista “abaixando-te, fazes-me grande” (Sl 17/18,36). É uma autoridade de serviço e não de poder.
2.Dito isto, está praticamente tudo dito, se quisermos reconquistar a autoridade dos pais, dos professores e dos educadores. Sem desconsiderar aspetos de cultura e de conjuntura, em que outros contextos educativos têm grande influência no perfil dos filhos ou dos educandos, a verdade é que a cena do Evangelho põe a nu aquela divisão que mina o exercício de qualquer autoridade: a incoerência. Vede: no homem impuro, há uma contradição mortal entre o que ele diz e o modo como vive, entre o que ele professa com os lábios e o que lhe vai no coração, entre a sua doutrina e a sua prática. Ele diz e bem que Jesus é o Santo de Deus. Mas não quer nada com Ele: “Vieste para nos perder”?! Ele professa a fé em Jesus Cristo, conhece-O e reconhece-O na Sua singularidade, mas não quer que Ele entre na sua vida, nem tampouco se compromete a segui-l’O até ao fim. Por isso, é um homem dividido, aos gritos, agitado, enrolado na sua própria contradição!
3.Irmãos e irmãs: não tenho receitas nem recomendo um programa para resolver conflitos familiares. Mas recordo aos pais e demais educadores cristãos: “A autoridade, em educação, passa mais pelo que viveis e fazeis, e não tanto pelo que dizeis. Na tradição cristã, o testemunho faz parte essencial do anúncio. O testemunho da vida é a forma simples e espontânea de irradiar valores, é mesmo a credencial das palavras que dizeis, do ensino que praticais”. Portanto, a primeira e principal educação tem lugar através do testemunho (CEP,Educação: Direito e dever, n. 14)! O testemunho é também a primeira e fundamental forma de evangelização. Num tempo como o nosso, em que conta tanto a imagem, o que a nossa vida mostra, no dia a dia, é a primeira mensagem que cada um anuncia aos outros. E é com tal autoridade, que até os maus da fita lhe obedecem, sem TV nem publicidade!