Homilia no II Domingo do Advento B 2017
1.Movidos pela Estrela que brilha no amor, propomo-nos nesta 2.ª semana do Advento preparar a vinda do Senhor, tornando mais acolhedora a nossa vida, a nossa família e a nossa comunidade! Acolhedora é, pois, a imagem de marca deste segundo par de pegadas, rumo ao Presépio de Belém, que sinalizámos há pouco com umas sandálias, na prontidão de uma vida que não se cumpre nos mapas, mas no caminho e na viagem. Acolher é, pois, a nossa forma de preparar o caminho do Senhor, que vem hoje ao nosso encontro e espera encontrar o Seu justo lugar.
2. Na passada sexta-feira, dia 8, Maria, a Virgem fiel, ensinava-nos a acolher a graça e a surpresa desta vinda do Senhor. Maria dispõe-se, com toda a pureza e atenção do coração, a escutar e a pôr em prática a Palavra de Deus, acolhendo no seu seio uma nova vida, a de um Filho que não estava nos seus planos e que viria a desarranjar por completo a sua vida, a dar-lhe outro rumo, uma nova direção. Neste domingo, a figura austera e humilde de João Batista, a pregar no deserto, ensina-nos a acolher a vinda do Senhor, que veio a primeira vez na humildade da Sua natureza humana, assumindo, na nossa própria carne, o estilo de uma vida sóbria, pobre e simples, centrada no essencial, longe do ruído que dispersa e da fartura que enfastia, para despertar no coração o desejo de Deus.
3.Acolher Aquele que vem pede-nos atenção e prioridade ao outro, disponibilidade e generosidade de coração. É assim quando está um filho para nascer… e lá em casa tudo se reorganiza para o acolher com a alegria ansiosa de uma mãe que o recebe como um presente de Deus. É assim quando, de repente, os filhos, desempregados, separados ou desencontrados, voltam a casa dos pais e os fazem sair da sua zona de conforto. É assim quando se é tocado e afetado pela fragilidade de um doente, de um deficiente, de um idoso, de uma pessoa que ficou só ou que perdeu a sua autonomia. De repente, estão em nossa casa, precisam de cuidados redobrados, de afeto e ternura, de uma palavra ao coração, de um gesto de consolação. Acolher é deixar a nossa vida mudar, como da noite para o dia, é estar disponível para se deixar afetar e condicionar por uma visita, por uma presença, por um acontecimento, que vêm para mudar e desarrumar a nossa vida, desorganizar os nossos horários e alterar as nossas rotinas. Mas é nesses, nos pobres e frágeis, que Deus hoje nos visita e pede acolhimento generoso.
4.Acolhedora deve ser a nossa comunidade, como uma mãe de coração aberto, capaz de receber com alegria quem quer que chegue. Edifiquemos uma paróquia acolhedora, que não impõe os seus horários e esquemas, as suas regras e hábitos, a quem não está em condições de os cumprir, mas se dispõe a acolher e a acompanhar a cada um com as suas possibilidades e limites, capaz de encontrar lugar para “mais um”, mesmo se chega tarde e a más horas, mesmo se vem movido pela necessidade ou interesse, mesmo se é um desastrado no caminho da vida ou da fé. Quem chega não deve encontrar portas fechadas ou o lugar ocupado, ou deparar-se com grupos e serviços paroquiais semelhantes a uma repartição. Numa comunidade acolhedora, cada um está disposto a ceder o lugar a quem chega, disponível para mudar de posição ou de horário! E façamo-lo não com tédio, aborrecidos porque alguém chegou e nos alterou os esquemas e estragou a vidinha. Mas felizes por dar lugar a outro, a um irmão que volta a casa e precisa de ser amado, com todo o coração. Não nos tornemos pessoas rígidas, de nariz empinado, a marcar o próprio território, coladas ao lugar. Tornemo-nos um lugar onde os outros, a começar pelos mais pobres e frágeis, se possam encontrar e sentir como em sua própria casa. Não queiramos uma comunidade obcecada pelo zelo de uma organização impecável, mas pronta a ser desarrumada, a ser empestada com o odor das suas ovelhas e do pastor.
5.Acolhedora seja a tua forma de esperar e de preparar o caminho do Senhor que está a chegar e em ti, no teu coração e na tua casa, procura o Seu lugar.