Homilia no XXXIII Domingo Comum A 2017 - 1.º Dia Mundial dos Pobres
1.Se é para discutir o género da Igreja, não restam dúvidas! A Igreja leva o seu artigo definido no feminino! Por isso, depois de meditarmos no rosto da Igreja, como Mãe de coração aberto, e de contemplarmos a visão da Igreja, qual Esposa, adornada para Cristo, seu Esposo, o poema da primeira leitura permite-nos, hoje, desenhar a imagem da Igreja na figura genial da “Mulher forte”. Trata-se de um raro e rasgado elogio ao génio feminino, que resplandecerá, de forma inigualável em Maria, e se aplicará, por consequência, à Igreja.
2.Eis por que é necessário deixar que esta Mulher forte inspire a edificação da Igreja, à luz do génio feminino, que atinge a sua mais bela expressão em Maria, Virgem, Esposa e Mãe! Se pensarmos bem, é graças à fé acolhedora e fecunda da Virgem Maria, que o Filho de Deus vem ao mundo, “nascido de uma Mulher” (Gl 4,4). E é graças à fé confiante da Mulher das bodas de Caná (Jo 2,1-11), atenta ao concreto, que se abre caminho à Hora da manifestação gloriosa de Jesus. E é graças à fé de Maria, a Mulher forte, de pé, e junto à Cruz (Jo 19,25-27), que a Igreja nasce do lado aberto do Senhor Crucificado. A fé pura de Maria é anterior no tempo, e é superior na santidade, à fé dos Apóstolos (cf. DM 27, nota 55). Pelo que a Igreja, antes de ter a sua estrutura apostólica e masculina, é gerada na fé genuína e feminina de Maria, a “bendita entre todas as mulheres” (Lc 1,43). E, ao longo da história da Igreja, no coração da sua luta contra o mal, na sua missão de dar à luz o Filho Jesus, a Mulher forte, revestida de sol (Ap 12), é a figura da Igreja, movida pelo amor de Deus, que “tudo espera e tudo suporta” (1 Cor 13,7).
3.Precisamos, portanto, de uma Igreja mais feminina. Não porque a “cota” da participação das mulheres esteja em baixa. Bem pelo contrário. Precisamos de uma Igreja mais feminina, nestas três atitudes, que me permito destacar, tendo também, como pano de fundo, a celebração deste 1.º Dia Mundial dos Pobres:
3.1.Como é próprio do ser feminino, a Igreja deve tornar-se acolhedora do bem e da vida que lhe são confiados, deve deixar-se fecundar pela graça e pelo amor de Deus. Mais dos que as iniciativas e os eventos, uma Igreja Mulher deve especializar-se na arte do acolhimento cordial a cada pessoa; deve tornar-se, em cada membro, uma ouvinte capaz de escutar a Palavra silenciosa de Deus e o clamor dos pobres, na sua indigência, solidão, carência de recursos, de afeto e consolação. Uma Igreja Mulher recebe o amor para logo o doar, sabe “estar com os pobres” e sabe muito bem “quando é justo falar de Deus ou quando é justo calar, deixando falar somente o amor” (DCE 31c).
3.2.Como é próprio do ser feminino, a Igreja deve viver o amor concreto, “não com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade” (1 Jo 3,18). A mulher intui depressa o que há a fazer e fá-lo “não apenas com a necessária competência profissional, mas com a atenção do coração” (DCE 31a). O seu amor não é teoria, abstração, aparência. “Ela põe mãos ao trabalho alegremente” (Pr 31,13). É um amor concreto, criativo, atento, delicado, gratuito. Uma Igreja Mulher vê com os olhos do coração e age em consequência (cf. DCE 31b): “Abre as mãos ao pobre e estende os braços ao indigente”(Pr 31,20). Diz-nos hoje o Papa: “somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, n.º 3). Isto é bem feminino!
3.3.Por último, é próprio do ser feminino amar primeiro. No amor, a mulher sabe por intuição, muito antes de se saber por outros meios. As mães, por exemplo, sabem dos filhos muito antes dos filhos dizerem o que sentem ou precisam. A mulher sai ao encontro dos problemas, antecipa-se, sem demora, sem álibis, aos pedidos e às necessidades, movida apenas pelo amor (cf. 2 Cor 5,14), sem pedir nada em troca.
[Omitir, se necessário, ponto 4]
[4.Agradeçamos ao Senhor todas as manifestações do talento feminino, na vida da Igreja e da sociedade, porque “uma Igreja sem as mulheres seria como o Colégio Apostólico sem Maria” (Papa Francisco, Encontro com os jornalistas durante o voo de regresso da viagem ao Rio de Janeiro, 28 de julho de 2013). O génio feminino é muito necessário, nos lugares de acolhimento, de discernimento, de reflexão, de programação, de decisão, de ação e de revisão de vida, pois o olhar próprio da mulher enriquece e completa a visão e a construção da realidade da Igreja e do mundo].
5.Que a nossa Igreja seja, à imagem da Mulher forte, uma comunidade aberta e acolhedora, atenta e pronta a acudir às necessidades concretas, de modo que os pobres, de todas as pobrezas, sintam “a Igreja como sua própria Casa” (NMI 50; EG 199; PDP 2015-2020, p. 13). “E as suas obras a louvem às portas da Cidade” (Pr 31,31).