Homilia no XXIV Domingo Comum A 2017
7.º dia da morte de Dom António Francisco
1.Tivemos o nosso 11 de setembro! Não caíram torres gémeas, não houve sismos, nenhum furacão deu à costa! Não houve nenhum ataque terrorista. Mas a cabeça do ministério apostólico da nossa diocese caía por terra! A morte súbita do nosso bispo, Dom António Francisco, abala profundamente a sua amada diocese do Porto; deixa em choque a Igreja em Portugal, com réplicas de lágrimas, por Lamego, Braga, Aveiro e pelo país inteiro. Na verdade, um abalo imenso estremece o coração de uma enorme multidão, de homens e mulheres, que foram alguma vez acariciados pela sua quase infinita bondade, de todos aqueles a quem reconhecia o rosto e chamava pelo nome, por quem se interessava, de perto e em concreto. Um ataque fulminante traía o coração do nosso bom pastor, que nos amou tanto, “tanto que o coração não aguentou mais” (Dom António Taipa)!
A notícia chega mais veloz que um relâmpago e provoca um turbilhão de emoções, de recordações, de gratidões, como se todos e cada um tivessem uma bela história de vida e de amizade, uma palavra, uma carícia, um gesto de atenção concreta e de bondade, para contar e agradecer, acerca deste grandioso Bispo do Porto, um bispo sábio e bondoso, que se despedira da sua Diocese, em Fátima, num largo abraço, para assim nos confiar à Mãe do Senhor, como Jesus ao discípulo amado.
Foi aliás esse o evangelho proclamado na belíssima celebração, em que nos deixara uma espécie de testamento pastoral: “Igreja do Porto: Vive esta hora, que te chama, guiada pelas mãos de Maria, a ir ao encontro de Cristo e a partir de Cristo a anunciar com renovado vigor e acrescido encanto a beleza da fé e a alegria do Evangelho. Viver em Igreja esta paixão evangelizadora é a nossa missão. A vossa e a minha missão”!
2.Neste domingo, que é também o do 7.º dia da sua morte, a vida bela, o mesmo é dizer, a vida santa do nosso querido bispo, resume-se nas palavras lapidares do Apóstolo Paulo: “se vivemos, vivemos para o Senhor, se morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,7-8). Ele viveu como Pastor que conhece, guarda e dá a vida por cada uma das suas ovelhas, sem se poupar. Viveu para o Senhor, porque viveu d’Ele e viveu n’Ele, para nós. E assim morreu, dando tudo, dando-se todo! Morreu assim, não para desaparecer, não para deixar ficar apenas na retina dos nossos olhos o seu sorriso, ou a sua bondade, na memória eterna dos nossos corações. Morreu para o Senhor, para que, no Senhor, a sua vida consumida por nós, seja consumada por Ele, e se torne vida plena, definitiva, coroada de honra e de glória.
3.“Se vivemos, vivemos para o Senhor, se morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor”(Rm 14,7-8).
Irmãos e irmãs: o Senhor é a origem e a meta, o princípio e o fim da nossa Vida! D’Ele vimos: é d’Ele que recebemos esta Vida. Para Ele vamos e n’Ele morremos, porque só n’Ele a nossa vida se realiza e finaliza. E, entretanto, como disse o mesmo Apóstolo, é o mesmo Senhor a fonte e o sustento, o alento e o alimento do nosso viver, pois “é n’Ele que nos movemos, somos e existimos” (At.17,28). Sim, é n’Ele que nos movemos!
4.“Movidos pelo amor de Deus” (2 Cor 5,4): eis o lema deste ano pastoral 2017/2018, que não vamos deixar ficar no papel, mas que queremos assumir e cumprir, com renovado entusiasmo, dando corpo e vida ao plano diocesano de pastoral, [para o qual tanto trabalhei, com outros colegas, ao lado do nosso bispo, que ficava ora na retaguarda, ora adiante, mas sempre por perto, de olhos visionários. Fui muitas vezes o seu lápis e a sua folha, o confidente e o amanuense dos belos sonhos que Deus lhe inspirava, para a esta Igreja do Porto. Não sei como o hei de agradecer[1]].
5.Escutemos e vivamos, pois, o testamento pastoral do nosso bispo, em Fátima, como um desafio irrenunciável: «vamos partir daqui movidos pelo amor de Deus, para que cresça, no Porto, [e na nossa Paróquia], “uma Igreja bela, verdadeira casa de família, sensível, fraterna, acolhedora e sempre a caminho, mãe comovida com as dores e alegrias dos seus filhos e filhas, cada vez menos em casa, cada mais fora de casa, a quem deve fazer chegar e saber envolver, na mais simples e comovente notícia do amor de Deus” (cf. CEP, Carta Pastoral, 16.7.2010). Como disse de modo extraordinariamente belo e sucinto [aqui], em Fátima, o Papa Francisco: “o rosto jovem e belo da Igreja que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor(Plano Diocesano de Pastoral 2017/2018, pág. 45)».
Foi assim que ficou a Igreja do Porto: pobre de meios, porque nos sentimos órfãos de um pai amoroso, de um mediador atento, de um pastor tão bom. Mas rica de amor, pela sua imensa bondade, cujo perfume se derrama agora por toda a parte. Ele partiu. E nós ficamos, com Ele, junto de Deus, a interceder por nós, para que levemos por diante os seus belos sonhos, agora e sempre “movidos pelo amor de Deus”.