HOMILIA NO XIV DOMINGO COMUM A 2017
1. Exulta de alegria a Diocese do Porto, solta brados de júbilo a “filha de Jerusalém”! O Senhor vem ao nosso encontro, não montado em cavalos de guerra, exibindo o poder e a força das armas, mas na humildade e na mansidão do serviço aos outros, a que se entregam os novos diáconos e presbíteros ordenados este domingo na Sé. Medito a Palavra de Deus, deste domingo, com os olhos postos neles e naqueles que, por estes dias, celebram os seus aniversários ou jubileus sacerdotais. E penso então que se me fosse permitido "recomendar" alguma coisa a mim mesmo ou a um qualquer jovem aprendiz de pastor, seria precisamente a de começarmos por pôr em prática a terceira bem-aventurança: a dos "mansos de coração" (Mt 5,5).
2. É, de todas, a bem-aventurança que mais me toca, porque é aquela que mais luta me dá, aquela que mais exige de mim, aquela que mais tenho de reaprender, no acolhimento afável de quem se aproxima e me bate à porta, no diálogo atento e paciente com quem me aborda, nem sempre com as motivações tão justas e tão esclarecidas quanto desejaria! É a mansidão de coração que me defende, como pobre homem de Deus, da rigidez, da dureza e de qualquer forma de sobranceria. E não é fácil convencermo-nos disto, de que nunca resulta a agressividade, a aspereza, a altivez, de que“a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentirem importantes” (EG 288).Só o coração manso e humilde pode desarmar as variadas resistências, por parte dos que nos olham e nos abordam e, quantas vezes, se aproximam de nós "com duas pedras na mão". E dar a outra face é vencer o mal com o bem, a amargura com a docilidade, a arrogância com a humildade.
3. Esta imagem tão sugestiva do Messias que troca os cavalos de combate pelo seu humilde e manso "burrinho de carga" (Zc 9,9-10; Mt 21,4; Jo 12,15), desafia-nos a todos, aos pastores e aos fiéis, aos cidadãos e aos políticos, aos candidatos e aos eleitores, em tempos quentes do combate eleitoral, a não cedermos à agressividade, a não cairmos na tentação de "falar de cima da burra", de nos pormos em bicos de pés, pois o que devemos, em primeiro lugar, é aprender a “descalçar os pés diante da terra sagrada do outro” (EG 169, cf. Ex 3, 5).
4. No final de um ano pastoral, laboral, escolar, talvez nos sintamos mais cansados, com os “nervos à flor da pele”, já sem grande paciência para “aturar” ou “suportar” os que se aproximam de nós, a pedir ou a reclamar alguma coisa. Por isso, reconquistar a mansidão de coração exige também aprender a repousar no Senhor! Também a nossa fadiga é preciosa aos olhos de Jesus, que assim nos acolhe e nos faz levantar o ânimo: «Vinde a Mim todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei» (Mt 11,28).
5. Na verdade, a mansidão do coração não é instintiva; ela exige uma imersão e uma conversão do coração, em sintonia com o coração do Bom Pastor, que, humilhado, não respondia palavra e ferido tampouco se queixava (cf. 1 Pe 2,22-23). Precisamos de haurir continuamente do Coração manso e humilde do Senhor esta mansidão, para não exasperar com ninguém, nem desesperar com nada, porque em tudo e sempre a nossa vida está ancorada no Seu amor. Sem esse “banho de imersão”, nas fontes de água viva, que brotam do Coração de Jesus, tampouco alcançaremos a mansidão e a paz! Mortos de cansaço, prostremo-nos em adoração, e digamos simplesmente, em oração: Senhor, por hoje basta! E assim vivamos o repouso deste tempo de verão, guiados pelo sopro do Espírito Santo, que é descanso na luta e na paz encanto, no calor é brisa e conforto no pranto (cf. Sequência do Pentecostes)!