Homilia na Solenidade da Santíssima Trindade A 2017

1. O brinquedo da moda

Andava eu a dar voltas e mais voltas, para ver como havíamos hoje de entrar nesta dança do amor, em que Se movem continuamente as três pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo… e eis que acaba por me chegar às mãos o brinquedo da moda, que dá pelo nome de spinner. Trata-se de um pequeno objeto de plástico, com três pontas circulares e um centro giratório. Move-se a altíssima velocidade, na mão de qualquer um. Tudo o que o spinner faz é girar, mas as cores e figuras diferentes provocam efeitos visuais atraentes! As embalagens promovem-no, como um produto para combater o stresse nas crianças! Mas o brinquedo, está a tornar-se, uma “fonte de distração”, de isolamento, de conflito e de separação entre os seus utilizadores.

2. A dança da Trindade

Por alguma semelhança, mas com a devida diferença, este brinquedo da moda, sugeriu-me, de algum modo, a imagem deste Deus que dança, ou desta dança de Deus, em que Se movem eternamente as três pessoas da Santíssima Trindade, nas Suas relações de amor recíproco: O Pai, fonte do Amor, dá-Se no Filho e dá-nos o Seu Filho, em doação eterna. O Filho, Amado pelo Pai, é a Sua cara, e entrega-Se ao Pai, por nós, numa resposta de amor, sem medida. E o Espírito Santo, laço deste infinito amor, entrelaça o Pai e o Filho e faz-nos entrar, por assim dizer, no “spinner” da Trindade, quer dizer, na roleta desta doação, deste movimento imparável de Amor, que é Deus e há em Deus. É uma perfeita dança circular aberta: ora a pessoa está no centro, ora dá lugar à outra.Parece mesmo a dança da roda! Quem não a recorda, das brincadeiras antigas da sua infância?!

3. A regra desta dança

Cada um de nós, criado à imagem e semelhança deste Deus, que não é solidão, mas é família e comunhão, traz no seu "genoma" o vestígio profundo, destedinamismo do Seu Amor. E por isso, a nossa regra de vida e de salvação é ser, mover-se e existir, dentro deste movimento expansivo do amor divino: viver não uns sem os outros, não uns sobre os outros, não uns contra os outros, mas viver sempre unscomos outros, uns pelosoutros, unsnos outros, uns graças aos outros. E também aqui, como na dança da roda, é preciso cuidar por não pisar, nem passar por cima dos outros, sabendo dar as mãos, dar o passo, a vez e o lugar aos outros. Este é o segredo da relação marido-esposa, em que cada um se dá ao outro e se recebe do outro, na comunhão das diferenças, que os distinguem, sem os separar. Este é também o segredo de uma família e de uma paróquia, em que as diversidades de estilo, de dons, de idades, de capacidades, devem contribuir para formar uma "parábola de comunhão”. Esta não resulta em diluição de pessoas ou na confusão de papéis, mas na unidade de alma e coração, em que são um por todos e todos por um, na comunhão da mesma missão.  

4. Entrar no “jogo” da Trindade

A Trindade não é, de facto, nenhum jogo! Mas, no seu movimento de amor, pode ser o "spinner” da nossa vida, que nos faz relacionar assim, em rotação permanente, no dom de si, no acolhimento do outro, no amor recíproco. Só assim, o Deus do Amor e da Paz estará connosco (2 Cor 13,11), e só assim poderemos viver na alegria da comunhão. Entrar no movimento desta dança de Deus é entrar na onda da paz! Se precisares de serenidade e de paz, não te agarres então a um brinquedo de ilusão! Deixa Deus entrar, deixa que Ele te habite, te mova e te remova o que for preciso, sempre na direção do próximo, na atenção concreta ao teu irmão.

Celebremos, então, a festa da Trindade, como pessoas amadas por Deus e que não se cansam de amar; como pessoas agradecidas, que contemplam a beleza do colorido de Deus, nas suas criaturas, e no rosto belo de cada um. Entremos no seu “spinner”, na sua dança, no seu movimento imparável de amor. “É n’Ele que somos, nos movemos e existimos” (At 17,28)!