Homilia na Solenidade de Pentecostes C 2016
1.E a Páscoa chega à sua plenitude, com a festa do Pentecostes. Volvidos cinquenta dias de Páscoa, celebramos o dom do Espírito Santo! Em pleno Ano da Misericórdia, é sempre bom recordar que é o Espírito Santo que “faz brotar e fluir do coração da Trindade o rio inesgotável da misericórdia divina” (MV 25). Mas este mesmo dom do amor divino foi derramado em nossos corações (Rm 5,5; 8,11). E, nessa medida, o Espírito Santo brota do “coração de todo aquele que crê, como um rio de água viva” (Jo 7,37-39). Somos enviados, pelo mesmo Espírito, a fazer correr esse rio, para transformar os desertos deste mundo. E, por isso, “onde houver cristãos, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia” (MV 12), de consolação e de esperança.
2.Irmãos: depois de termos percorrido a caminhada diocesana, sob o lema «pratica a misericórdia com alegria», deixemo-nos mover continuamente por esta torrente do Espírito Santo, que brota do lado aberto de Cristo, na Cruz. Sem o Espírito Santo, a misericórdia é uma palavra vazia, uma vez que o Espírito Santo é o nosso companheiro invisível, em todas as obras de misericórdia. Por isso, precisamos de nos deixar mover por Ele.
3.Na verdade, sem o Espírito Santo, podemos praticar a misericórdia, como obrigação da consciência moral, mas faltar-nos-á aquela «alegria», que só o Espírito Santo faz frutificar em nós! Sem o Espírito Santo, podemos fazer obras sociais e de beneficência, mas, só com Ele, podemos tratar a todos misericordiosamente! Sem o Espírito Santo, podemos organizar serviços sociais e paroquiais, para pôr em prática as obras de misericórdias corporais: dar de comer, de beber, de vestir, dar hospitalidade, assistir na enfermidade, visitar na reclusão, dar sepultura na morte. Mas só com o Espírito Santo, podemos despertar a fome de justiça, saciar a sede de Deus, revestir de dignidade, tornar-se morada de Deus, encontrar remédio para a cura, companhia na solidão, esperança no luto.
4.Sem o Espírito Santo, como poderíamos praticar, com alegria, as ditas obras de misericórdia “espirituais”? Como se poderá aconselhar os indecisos, sem o dom espiritual do bom conselho? Como se poderá ensinar os ignorantes, sem o dom espiritual da sabedoria? Como se poderá corrigir os que erram, sem o dom espiritual da ciência? Como se poderá consolar os tristes, sem a consolação do Paráclito? Como se poderá perdoar as ofensas, sem o próprio dom do perdão, que é o Espírito Santo, Enviado do Pai, por meio de Seu Filho, para a conversão, o perdão e a remissão dos pecados? Como se poderá suportar as fraquezas do próximo, sem o dom espiritual da fortaleza, que vem do alto? Como poderemos rezar e interceder uns pelos outros, se o Espírito Santo não vier em auxílio da nossa fraqueza? Na verdade, sem o Espírito Santo, podemos usar de humana compaixão, para com os mais frágeis, mas só o Espírito Santo fará brotar em nós a ternura e a consolação da misericórdia divina.
5.Que Maria, cheia do Espírito Santo, espelho da misericórdia divina, se torne, para nós, o modelo resplandecente de uma Igreja e de uma cultura da misericórdia e nos ajude a remar contra as correntes frias do nosso mundo e a avançar corajosamente “por um rio de misericórdia”.
«Por um rio de misericórdia» é o caminho a percorrer agora e sempre! «Por um rio de misericórdia» é a meta que desejamos alcançar: um mundo novo, habitado por pessoas misericordiosas como o Pai, e prontas para a ternura da consolação, à imagem de Maria, nossa Mãe!