1. O exemplo mais tocante vem de cima e começa por baixo: o gesto do lava-pés. Um gesto inesperado e, de tal modo perturbador, que Pedro não queria aceitá-lo. Era o serviço prestado pelo escravo ao seu Senhor. Deste modo, Jesus indica aos discípulos o serviço como caminho a percorrer, para viver a fé n’Ele e dar testemunho do Seu amor. Lavando os pés aos apóstolos, Jesus quis revelar o modo de agir de Deus, em relação a nós, e dar o exemplo do Seu «mandamento novo» (Jo 13,34),de nos amarmos uns aos outros, como Ele nos amou, ou seja, dando a vida por nós. Por conseguinte, o amor é o serviço concreto que prestamos uns aos outros. O amor não são palavras; são obras e serviço. Na visita aos doentes e idosos, conheço tantas pessoas que passam a vida a cuidar dos outros, da mãe idosa, do irmão deficiente. A vida destas pessoas consiste em servir, ajudar. E isto é amor! Com o lava-pés, o Senhor ensina-nos a servir, a tornarmo-nos servos como Ele e a fazer como Ele faz. E seremos felizes se o pusermos em prática (cf. Jo 13,17)! “Pratica a misericórdia com alegria! Felizes os misericordiosos”!
2. Mas este gesto do lava-pés exprime também a prática da misericórdia, na humildade de quem aceita ser lavado do pecado, para se tornar capaz de perdoar ao irmão, de todo o coração. No Presidente, que hoje lava os pés, é Cristo que Se debruça sobre mim, é Cristo que me lava, me enxuga, me põe a mão na cabeça, me toma pela mão, me levanta, me abraça e me beija. É como se o homem pecador dissesse ao Senhor «porque é que ainda gostas de mim e me amas?» e Ele, abraçando-nos, respondesse, em lágrimas escondidas, como o Pai do filho pródigo: «voltaste, Meu filho. Sou, para ti, a misericórdia». O gesto do lava-pés é escola prática de misericórdia! Irmãos e irmãs: seja de perdão o bálsamo do sabão que nos lava a sujidade do coração. E de lágrimas a água que nos purifica a alma.Pratica a misericórdia com alegria! Felizes os misericordiosos!
3. Associado a este gesto do lava-pés, está aquele outro gesto definitivo e identificativo de Jesus: Ele tomou o pão e o vinho, para fazer do Seu Corpo dado alimento do homem novo e do Seu Sangue derramado a bebida verdadeira. Realizar, em Sua memória, este gesto, não é apenas perpetuar os frutos do Seu sacrifício, cada vez que celebramos a Eucaristia. É também sair e partir… e a partir de cada Eucaristia aprender a repartir o pão e a repartir-se como pão, para a vida do mundo. “Na Eucaristia, Jesus faz de nós testemunhas da compaixão de Deus por cada irmão e irmã e assim nasce à volta do mistério eucarístico o serviço da caridade com o próximo” (Sac. Carit. 88). “O alimento da verdade leva-nos mesmo a denunciar as situações indignas do ser humano (…) É impossível calar diante das imagens impressionantes dos grandes campos de deslocados ou refugiados, amontoados em condições precárias, para escapar a sorte pior, mas carecidos de tudo» (Sac. Carit. 90).Por isso, São Paulo qualifica como «indigna» de uma comunidade cristã a participação na Ceia do Senhor, que se verifique num contexto de discórdia e de indiferença pelos pobres (cf. 1 Cor 11,17-22.27-34). Vai neste sentido o apelo que temos feito a marcar o ofertório das missas do primeiro domingo do mês, para o cuidado dos pobres da nossa comunidade, e o contributo penitencial diocesano, destinado este ano ao acolhimento dos refugiados. Em tudo isto e sempre, “pratica a misericórdia com alegria! Felizes os misericordiosos”!
Irmãos e irmãs: honrar o Corpo de Cristo, na Eucaristia, é reconhecê-l’O e servi-l’O no irmão com quem partilho o perdão, no pobre com quem reparto o pão! Assim, a Eucaristia torna-se escola autêntica de misericórdia, que atualiza a compaixão de Deus, por cada um. “Pratica a misericórdia com alegria! Felizes os misericordiosos”!