Homilia no III Domingo de Páscoa C 2025
1. Um apagão pela noite, no mar da Galileia! Mas a luz voltou, com Jesus, ao romper da manhã. É assim a nossa vida: noite e dia. Há a noite e há o romper da manhã. Há a noite, sem Jesus, sem luz, a noite do desânimo e do regresso à velha profissão de pescadores, a noite da tristeza e do vazio, cuja pesca não dá em nada! Há o romper da manhã, a luz do nascer do novo dia, como no terceiro dia, na manhã de Páscoa, com Jesus a manifestar-Se, agora pela terceira vez aos discípulos, sem que eles O reconhecessem ainda, envoltos que estavam pela neblina do desencanto e da tristeza. Há ainda a noite, sem Jesus, sem a Ceia, com o estômago vazio que toda a noite rabeia, a noite sem nada para comer, a noite sem luz, a noite do apagão total da esperança. E há ainda o romper da manhã, com Jesus, no horizonte, que traz a luz nova e a esperança de um novo dia, de um tempo novo. Há a noite da desistência, do desencanto, da frustração, da crise do sentido da vida. E há o romper da manhã, não já para lançar a âncora, mas para pôr o coração ao largo, lançar a rede para o outro lado, virar a página da vida. E, na luz do dia, o barco volta com a rede a abarrotar de peixes e Pedro desnudado a vestir de novo a túnica e a fazer-se ao mar! Faz-se luz e o discípulo amado exclama: «É o Senhor». O mesmo Senhor senta-os, uma vez mais, à volta da mesa, para lhes abrir os olhos, para reacender neles a chama viva da sua esperança. Jesus tem para eles algo mais elevado do que voltar à pesca de antigamente. “Cada vocação na Igreja é sinal da esperança que Deus nutre pelo mundo e por cada um dos seus filhos” (cf Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações 2025).
2. Esta noite, com o apagão total da esperança, é a noite de muitos jovens “que se sentem perdidos face ao futuro. Frequentemente vivem na incerteza quanto às perspetivas de emprego e, lá no fundo, experimentam uma crise de identidade que é uma crise de sentido e de valores, que a confusão digital torna ainda mais difícil de atravessar. Contudo, o Senhor, que conhece o coração de cada pessoa, vem ao encontro de cada um de nós e não nos abandona na insegurança; pelo contrário, renova a confiança na nossa missão, quer suscitar em cada um a consciência de ser amado, chamado e enviado como peregrino de esperança” (cf Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações 2025). A pergunta de Jesus a Pedro «amas-me, amas-me mais do que estes?» renova-se a cada um de nós. O dom da vida exige uma resposta generosa e fiel. Em que forma de vida é possível retribuir o amor com que Ele primeiro nos ama? No Matrimónio, na vida consagrada, no ministério ordenado? Cada resposta vocacional corresponde ao desejo de fazer da vida um dom de amor. Toda a vocação é assim animada pela nossa esperança no Senhor, que se traduz em confiança na Sua Providência, mas cada vocação é igualmente “um sinal da esperança que Deus tem pelo mundo e por cada um dos seus filhos” (bidem). Esperamos tudo d’Ele. Ele espera tudo de nós.
3. Neste Domingo, início da Semana de Oração pelas Vocações, celebramos também em Portugal o Dia da Mãe, que nos desafia a«elevar o coração». “A mãe é, sobretudo, a heroína que eleva o coração do marido, dos filhos, dos netos, hoje, amanhã e sempre, nos momentos de alegria, assim como na angústia e na tempestade. A força do seu coração chega a todos, impercetivelmente ou com gestos, silenciosamente, ou com palavras” (Comissão Episcopal da Família, Mensagem para o Dia da Mãe 2025). De algum modo, no dom da vida, que brota do coração de uma mãe, como do seio materno de Deus, aprendemos todos a fazer da nossa vida um dom de amor aos outros. O coração da mãe que se eleva, em discreta doação e humilde serviço, mostra-nos que somos feitos para coisas mais elevadas, que somos peregrinos de uma esperança maior. O coração que se eleva em cada mãe é também «o coração que se põe ao largo», que não hesita em fazer-se ao mar, contando sempre com Cristo, ora como timoneiro, ora como âncora segura e firme. Neste «pôr o coração ao largo», para o que Deus quiser, contemos sempre com a proteção e guia de Maria, a nossa Estrela do Mar!