Homilia no IV Domingo da Quaresma C 2025
1. Na Casa do Pai, há uma porta santa, uma porta sempre aberta para o regresso, para a reconciliação, para a indulgência, para a Festa do Perdão. De algum modo, todos precisamos de uma porta que se abra para a liberdade de partir e se feche para a intimidade do regresso e do encontro familiar. A porta da Casa diz-nos que precisamos de uma raiz, de uma de âncora, de um lugar estável. Mas hoje, ancorados na Casa do Pai, destacaria não tanto a tal porta aberta, mas sobretudo a janela, de onde o amor do Pai nos espreita, acompanha e espera. O pai que vê o filho bater com a porta, passa a vê-lo, a acompanhá-lo, a esperá-lo à janela: é uma janela da esperança!
2. Aquele pai humilde, que se dobra diante dos filhos e suplica pelo seu regresso a casa; aquele pai que transforma a justiça em compaixão; aquele pai corajoso que sofre do coração; aquele pai que se alegra com o regresso dos filhos sem pedir contas de nada… é sobretudo um pai animado pela esperança. É um pai que espreita à janela e acompanha, de perto, vendo ao longe, os passos do filho mais novo: «quando ainda estava longe, o pai avistou-o e teve compaixão» (Lc 15,20). É um pai que permanece firme e fiel ao seu amor, na expectativa do regresso do Filho mais novo. É também um pai que espera instante e insistente o ingresso do filho mais velho. É, pois,um pai sempre à janela: daí vela pelos passos de ambos os filhos. É um pai que não desiste do futuro dos filhos. Espera e não desespera. Porque o amor tudo espera, o amor tudo suporta (1 Cor 13,7). Este é um pai à janela, com largas vistas no coração!
3. Irmãos e irmãs: esta atitude do pai à janela, pode chamar-se «a esperança de Deus». Deus também espera. Deus também nos espera. Deus também tem esperança em nós. O Deus cristão é o Deus da esperança, não só no sentido de que é o Deus da Promessa a Quem esperamos e de Quem tudo esperamos, mas também no sentido de que Ele é um Deus que espera de nós e espera por nós. Ele faz festa pelo nosso regresso. Parece estranho que até Deus conheça a esperança! Na verdade, Deus teme pela perda, para sempre dos seus filhos, e este medo faz brotar n’Ele a esperança do regresso. Cada conversão de um filho é o coroar de uma esperança de Deus. Voltemos então para Deus e não frustremos a Sua esperança em nós!
4. O cristão sabe que, na casa do Pai, há muitas moradas e sabe que na Casa do Pai há sempre aberta uma janela de oportunidade. Aquela janela é sinal de que é preciso abrir os olhos do coração, nem que seja por um segundo, para deixar entrar o sopro imprevisível de Deus, que nos surpreende sempre com o excesso do seu amor por nós. Cabe-nos agora acolher o convite e regressarmos a casa. Na certeza de que não há festa em casa do Pai, que não seja também uma festa de irmãos!
5. Pensemos nesta janela aberta na casa do Pai. Precisamos todos de ver o Pai à janela! Por isso nos faz tanta falta, por exemplo, ver o Papa Francisco, em cada domingo, vir à janela, dizer-nos palavras de esperança. Por isso, nos emocionámos tanto há oito dias, quando o Papa, tão frágil, antes ainda de regressar a casa, veio à janela, para nos ver e para agradecer, especialmente, as rosas amarelas daquela senhora, que todos os dias rezava por ele. Na base da nossa âncora, neste domingo, cor-de-rosa, colocamos rosas amarelas. Lembremo-nos que as rosas amarelas só se veem da janela da esperança!
6. Irmãos e irmãs: no caminho de regresso a Casa, recordemos então que há uma janela, de onde o amor de Deus nos espreita, acompanha e espera. Por isso, o apelo desta semana é este: ancoraja-te e reconcilia-te, com o Pai, com os irmãos.
Faz uma boa Confissão: cai em ti; regressa a casa do Pai, cheio de confiança, dizendo ‘no caminho, eu confio em Ti’; entra pela porta santa do perdão; confessa os teus pecados; deixa-te sobretudo abraçar pelo amor do Pai. Não desprezes esta janela de oportunidade, que o Pai te oferece, no Sacramento da Reconciliação, para que atravesses a Porta Santa do Perdão. Ancoraja-te e reconcilia-te!