Homilia na Festa do Batismo do Senhor C 2025
1.O Batismo, por João, no rio Jordão não é o Batismo de Cristo, nem o Batismo cristão! No Jordão, o povo, em febril expetativa, aproximava-se de João, pedindo o batismo, em sinal de penitência. Aquele mergulho nas águas do Jordão era apenas um sinal público que as pessoas davam, manifestando o seu desejo de conversão, de predisposição, para a mudança, que Jesus oferecia ao mundo. O batismo no Jordão era apenas o sinal do esforço humano de cada um, para acolher, em esperança, o Messias!
2.Jesus – sem grande cerimónia e sem direito a celebração especial de um Batismo «só para Ele» – entra na fila dos pecadores e, quando todo o povo recebeu o batismo, Ele também foi batizado. Batizado, porque precisava de conversão? Não. Batizado, porque precisava de ser santificado? Não. Batizado, para nos dar um exemplo? Também não. Então, que significa o gesto de Jesus, ao deixar-se batizar? Jesus continua a sua descida até nós, identifica-Se connosco, “faz-Se pecado por nós” (2 Cor 5,21), mistura-Se entre os membros do seu povo, sem se envergonhar de nós. Jesus desce ao fundo do nosso mundo mais imundo, de onde nos quer levantar, resgatar e salvar. Por isso, o verdadeiro Batismo de Jesus, como Ele próprio o disse, será com o Sangue da Cruz (Mc 10,38), de donde nos libertará, para sempre do poder do pecado e da morte!
3.E o que acontece de especial neste Batismo no Jordão? Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens! O Céu abriu-se. O Espírito Santo desceu como uma pomba, que anuncia um tempo novo. E a voz do Pai declara Jesus, como o Seu Filho muito amado (Sl 2,7). Estes são os sinais que apontam para o nosso Batismo. No Batismo, somos imersos e salvos, na corrente do amor divino. Pelo Batismo de regeneração e renovação do Espírito Santo, tornamo-nos filhos de Deus e, por isso, em esperança, herdeiros da vida eterna. Não por acaso, começamos a celebração do Batismo à porta da Igreja, para nos recordarmos que esta Porta alta da fé (Sl 24, 7-9; At 14,27), esta Porta formosa da esperança (At 3,2)está sempre aberta para nós!
4.Por isso, de todos os sinais maravilhosos, por ocasião do Batismo do Senhor, eu gostaria de destacar hoje este tão belo: “o céu abriu-se” (Lc 3,21). A porta do céu, que estava fechada, é aberta de par em par! Podemos alcançar a Deus, porque Ele abriu todas as portas, rompeu as comportas do Céu, para chegar até nós e nos inundar da Sua graça. Na Sagrada Escritura, quando se diz que “os céus se fecharam” (2 Cr 6,26;7,13; 1 Rs 17,1-24; Tg 5,17.18), não se quer dizer apenas que veio a faltar a água da chuva, mas que faltavam sinais de esperança e da presença de Deus, que se remetera ao Seu silêncio. A imagem do céu aberto e a voz do Pai sugerem uma chuva de bênçãos, a abundância da graça, a manifestação da bondade e da ternura de Deus! Agora a Porta santa da salvação está aberta! Para nós, esta Porta é Cristo. Ele é a Porta escancarada, que somos convidados a atravessar. Ele é a Porta da salvação, que o Pai misericordioso abriu, para que todos possamos voltar para Ele! Está perdoada a nossa culpa.
5.Irmãos e irmãs: foram abertas, desde a noite de Natal, até à Epifania do Senhor, as Portas Santas, nas diversas Basílicas de Roma, nas Igrejas Catedrais e agora nas Igrejas de Peregrinação jubilar, para vivermos este Ano de 2025 como um ano de graça, “de céu aberto e de Deus tão perto”. Abre-se, para nós, neste Jubileu, a porta da esperança: há esperança para ti e para cada um de nós. Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre!
6. Lembra-te: esta Porta alta abriu-se para ti, com o Batismo, Porta da Vida e do Reino, Porta da Fé e da esperança, com saída para a vida eterna. Falta agora a tua parte: abrires a porta do teu coração a Cristo, que bate sempre à tua porta, pelo lado de dentro (Ap 3,20), para que te deixes curar, amar, perdoar, salvar. Não fiques à soleira da Porta. Atravessa a Porta Santa, atravessa o limiar da esperança. Dá um passo em frente. Deixa para trás mágoas, ódios, violências e dá lugar à reconciliação, ao perdão das ofensas e das dívidas. Responde ao grito dos pobres. Multiplica gestos de consolação, levando a esperança aonde ela é mais precisa. Não caminhes, no Ano Jubilar, “por entre os pingos da chuva”. Irmãos e irmãs: Vivamos este Ano Jubilar de 2025, a céu aberto, como peregrinos de esperança, com todos e para o bem de todos!