Liturgia e Homilias no X Domingo Comum B 2024
Destaque

Na quinta-feira do Corpo de Deus recordávamos que a Eucaristia instaura uma nova consanguinidade, uma nova familiaridade, uma nova fraternidade entre nós, em Cristo. Os que comem do mesmo Pão e à mesma mesa e os que bebem do mesmo cálice do Sangue de Cristo tornam-se consanguíneos, única família de Cristo, nutrida e reunida à volta da mesa do seu Senhor.  Neste X Domingo do Tempo Comum, é bom pensar que esta família também se afirma e cresce, à mesa da Palavra de Deus. A nova família de Jesus reúne-se, em cada domingo, nesta Casa, à volta de Jesus, para se sentar à mesa da Palavra e à mesa da Eucaristia. E assim nos tornamos irmãos.

Homilia no X Domingo Comum B 2024 – forma mais longa

 

Com o Verão, o tempo de antena para a Homilia é ainda mais curto. Se me permitem, fixemo-nos em três breves pontos, para daí sugerirmos três indicações práticas.

1.º:Jesus ama a Sua família de sangue. Mas não Se deixa limitar pelas suas expetativas. Os parentes de Jesus querem, a toda a força, prendê-l’O, e poupá-l’O a mais desventuras, que, a seus olhos controladores, só desonram o bom nome da família! Dizia-se por lá que “Jesus está fora de si”.  Talvez fosse mais correto dizer com toda a sinceridade: «Ele está fora de nós». Quer dizer: Jesus não corresponde à nossa linha. Não entra nos nossos esquemas e modelos de vida. Não segue os nossos caminhos. Não aceita as nossas seguranças e previsões. Põe em causa as nossas certezas e equilíbrios. E mostra-nos, até pelo facto de não formar uma família de sangue, que o Absoluto da Sua Vida é Deus, é o Pai que está nos Céus. Importa fazer a Sua vontade, prosseguir o Seu desígnio e não Se deixar amarrar aos sonhos da família.

2.º:Jesus faz-nos irmãos e irmãs. Jesus não Se envergonha de nos chamar irmãos e irmãs. Sua mãe, seu irmão, sua irmã, é todo aquele que faz a vontade de Deus; noutro Evangelho (cf. Lc 8,21), diz-se claramente: sua mãe e seus irmãos são todos aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática! Está instaurada uma nova fraternidade, na escuta partilhada. Somos todos irmãos e irmãs do Senhor.

3.º:A nova família de Jesus não se constrói com laços de sangue, mas pelos laços da fé. Na nova família de Jesus, não há direitos naturais ou adquiridos de pai, mãe, de primo ou de irmão. Todos podem entrar nesta casa, fazer parte desta família, desde que se sentem à volta de Jesus, e procurem como Ele, realizar a vontade de Deus, pôr em prática a sua Palavra! Eis uma nova consanguinidade espiritual, iniciada no Batismo, alimentada pela Palavra e pela Eucaristia. Somos familiares de Deus.

 

Três indicações práticas a partir daqui:   

1.ª:Deixemos que cada criança, cada adolescente, cada jovem, cada pessoa siga a sua vocação singular, segundo e seguindo o desígnio de Deus, e não à medida das expetativas ou dos sonhos do pai, da mãe, dos avós, da família. Deus chama a todos, cada um por seu caminho. Dizia o poeta libanês Khalil Gibrain, a respeito dos filhos: “Os vossos filhos não são vossos filhos: são filhos e filhas do chamamento da própria Vida. Vêm por vosso meio, mas não de vós; e apesar de estarem convosco, não vos pertencem […]. Podeis esforçar-vos por ser como eles; mas não tenteis fazê-los como vós. Porque a vida não vai para trás, nem se detêm com o ontem”. Deixai que cada pessoa seja única e original e não a fotocópia dos seus ascendentes!

2.ª:Somos chamados irmãos e irmãs. Assim nos saudamos e tratamos na celebração. Mas não basta sê-lo pela nossa cédula de batismo. É preciso que nos tornemos irmãos e irmãs de todos, sem complexos de inferioridade ou de superioridade, de concorrência ou de competição, sem cedências à difamação ou diminuição dos outros, para ganhar estatuto ou lugar, sem divisões entre «nós» e «os outros», «os de baixo» e «os de cima», «os velhos» e «os novos». Tornar-se irmão de todosé um enorme desafio de conversão, que começa na escuta dos outros e na identificação com os últimos. Que Deus nos inspire este ideal: todos irmãos, irmãos de todos.

3.ª:Edifiquemos a nossa comunidade paroquial, como família espiritual. Que a Paróquia deixe de ser um posto de abastecimento ou uma repartição de serviços religiosos ou um condomínio fechado e se torne verdadeira família de famílias, casa hospitaleira, de portas abertas! Saibamos dar uma dimensão familiar à organização e à vida da comunidade, no trato afetuoso entre nós, na estima recíproca dos dons, no acolhimento pessoal e cordial aos que chegam de longe e de fora, de modo que todos, a começar pelos mais pobres e últimos, se sintam aqui como em sua própria casa! 

Podeis crer – se formos mesmo por aqui – Satanás está perdido!

 

Homilia no X Domingo Comum B 2024 – forma mais breve

 

Com o Verão, o tempo de antena para a Homilia é ainda mais curto. Se me permitem, fixemo-nos em três breves pontos, para daí sugerirmos três indicações práticas.

 

1.ºJesus ama a Sua família de sangue. Mas não Se deixa limitar pelas suas expetativas. Dizia-se por lá que “Jesus está fora de si”.  Quer dizer: Jesus não corresponde à nossa linha. Não entra nos nossos esquemas e modelos de vida. Não forma uma família de sangue, porque o Absoluto da Sua Vida é Deus, é o Pai que está nos Céus. Daqui tiremos uma primeira indicação prática: Deixemos que cada criança, cada adolescente, cada jovem, cada pessoa siga a sua vocação singular, segundo e seguindo o desígnio de Deus, e não à medida das expetativas ou dos sonhos do pai, da mãe, dos avós, da família. Deixemos que cada pessoa seja única e original e não a fotocópia dos seus ascendentes!

2.º Jesus faz-nos irmãos e irmãs. Jesus não Se envergonha de nos chamar irmãos e irmãs. Sua mãe, seu irmão, sua irmã, é todo aquele que faz a vontade de Deus, todo aquele que escuta a Palavra de Deus e a põe em prática! Está instaurada uma nova fraternidade. Somos todos irmãos e irmãs do Senhor. Daqui resulta uma segunda indicação prática: tornemo-nos irmãos e irmãs de todos, sem complexos de inferioridade ou de superioridade, de concorrência ou de competição, sem cedências à difamação ou diminuição dos outros, para ganhar estatuto ou lugar, sem divisões entre «nós» e «os outros», «os de baixo» e «os de cima», «os velhos» e «os novos». Que Deus nos inspire este ideal: todos irmãos, irmãos de todos.

3.ºA nova família de Jesus não se constrói com laços de sangue, mas pelos laços da fé. Eis uma nova consanguinidade espiritual, iniciada no Batismo, alimentada pela Palavra e pela Eucaristia. Na prática, isto significa e implica edificarmos a nossa comunidade paroquial, como família espiritual. Que a Paróquia deixe de ser um posto de abastecimento ou uma repartição de serviços religiosos ou um condomínio fechado e se torne verdadeira família de famílias, casa hospitaleira, de portas abertas! Saibamos dar uma dimensão familiar à organização e à vida da comunidade, no trato afetuoso entre nós, na estima recíproca dos dons, no acolhimento pessoal e cordial aos que chegam de longe e de fora, de modo que todos, a começar pelos mais pobres e últimos, se sintam aqui como em sua própria casa

Podeis crer – se formos mesmo por aqui – Satanás está perdido!

Homilia na Festa da Profissão de Fé | São Martinho de Guifões

X Domingo Comum B 2024

Celebramos hoje a Festa da Profissão de Fé. E a Liturgia põe-nos diante de duas figuras, que nos permitem compreender o que é a fé e qual o seu principal inimigo.

 

 

1.A figura luminosa e feliz da fé: São Paulo: com toda a audácia da fé, ele cita a Escritura (Sl 116,19) e aplica-a a si mesmo: “Acreditei, por isso falei. Com este mesmo espírito de fé, também nós acreditamos e, por isso, falamos” (2 Cor 4,13). A fé não é um assunto privado! A fé verdadeira não se guarda para si. A fé diz-se, proclama-se, testemunha-se diante dos outros. É isso mesmo a Profissão de fé: dizer, de viva-voz, não só com as palavras da boca, mas sobretudo com as obras da vida, que Jesus vive e nos quer vivos. Mais do que valores, mais do que doutrinas, a fé é o encontro com esta Pessoa de Cristo vivo, que ninguém pode guardar só para si.

2.A figura sombria e triste da fé: Adão. Deus pergunta-lhe «Onde estás» e Adão responde: “Tive medo e escondi-me”. Eis, portanto, o grande inimigo da fé, da nossa relação com Deus: o inimigo não é a inteligência, não é a razão. Não. O grande inimigo da fé é o medo. O medo de Se entregar a Deus, o medo de pôr a vida nas Suas mãos, o medo de Se deixar guiar por Ele, o medo de que Deus, entrando na nossa vida, nos tire alguma coisa de belo ou de bom. Este medo paralisa-nos, afoga-nos, não deixa a vida fluir e avançar. Este medo é o contrário da fé.

3.Qual é então a fé, que Deus nos pede? A fé é um ato de abandono, de confiança no Senhor. Diz o salmista hoje: “Eu confio no Senhor, confio na sua Palavra”. “Abandonar-se” significa aqui entregar-se, fiar-se, confiar-se, colocar-se nas mãos de Deus, pôr n’Ele toda a confiança, como uma criança se entrega e abandona ao colo do pai e da mãe. Pela fé – diz-nos o Catecismo da Igreja – a pessoa humana entrega-se total e livremente a Deus (CIC 1814). São Paulo diz: “Sei em quem pus a minha confiança” (2 Tm 1,12). Acreditar é fiar-se, confiar-se entregar-se Aquele que sabemos que nos ama.

4.  E podemos alcançar sozinhos este dom da fé? Não. É em família, em comunidade, que o podemos alcançar. Queridos catequizandos: fostes levados à pia batismal e os vossos pais foram interrogados: «O que pedis à Igreja de Deus?». E eles responderam: «A fé, o batismo!» Para os pais cristãos, a fé é o dom a pedir para os seus filhos. Os pais sabem que não dão verdadeiramente a vida aos filhos se, com a vida, não lhes derem um sentido para ela, uma luz, uma esperança, um futuro. Com a fé, os pais sabem que, mesmo no meio das provações e dificuldades da vida, os seus filhos não se afogarão no medo. Sabem que, graças à fé, quando os filhos deixarem de ter, nesta terra, um pai, uma mãe, continuarão a ter no Céu um Deus Pai e Mãe. Com a fé, os pais sabem que dão aos filhos uma nova família, onde nunca se sentirão sós, porque quem crê nunca está só. Por isso “a fé é a luz para o caminho da vida”. Quem tem fé é iluminado por uma Luz que não dissipa todas as trevas do caminho; a fé é como uma lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto nos basta, para nos fazer avançar sem medo (cf. LF 57).

5.Por isso, cultivemos a virtude da fé. Rezemos pessoalmente, em família e em comunidade, para que a nossa fé possa respirar. Procuremos alimentar a nossa fé nos sacramentos, especialmente os da Eucaristia e da Reconciliação: são o “combustível” da fé, as nossas fontes de “energias renováveis”. Continuemos a frequência da Catequese, para compreendermos as razões da nossa fé e da nossa esperança e tornarmo-nos pessoas crescidas na fé. Sejamos membros ativos desta comunidade, para fazer dela a nossa família espiritual.

Irmãos e irmãs, catequizandos do 6.º ano: invoquemos sempre o dom da fé, porque “a fé é a luz para o caminho da vida” (cf. frase do Certificado da Profissão de Fé 2024)!

 

 

 

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