Liturgia e Homilias no IX Domingo Comum B 2024
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Partilhar o Pão, alimentar a esperança. Reconheceram-n’O ao partir do Pão.Este é o lema do Congresso Eucarístico que decorre, em Braga, desde o dia 31 e finaliza neste domingo. Sobre o tema, refletimos já na passada quinta-feira, Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Em estreita ligação, a Liturgia da Palavra deste Domingo aponta para a celebração do Dia do Senhor, ao recordar-nos o preceito do descanso sabático, em memória do repouso de Deus, no último dos sete dias da semana da criação e em memória da libertação do Egipto. Nós, os cristãos, celebramos o domingo, o 1.º dia da semana, em memória viva e semanal da Páscoa do Senhor. De algum modo, o domingo, o 1.º dia da semana alimenta a nossa esperança, porque nos antecipa e remete para o domingo sem ocaso. Para nós, o Domingo cristão supera o sábado dos judeus. É mais do que um dia para o descanso. É o dia do encontro com o Senhor Ressuscitado. Que Domingo seria, para o cristão, aquele no qual lhe viesse a faltar o encontro com o Senhor?!

 

Homilia no IX Domingo Comum B 2024

 

1.Retomamos, de vez, o Tempo Comum, mas o mês de junho traz com ele o calor e o cheiro a festas populares. Junho abre-nos a porta ao tempo das férias, das praias, das viagens e das saídas. E abre-nos janelas de oportunidade, para estarmos mais tempo juntos, para convivermos mais, para saborearmos melhor os frutos do trabalho realizado, para desfrutarmos das coisas belas e retemperarmos energias. Que bom! Na verdade, o trabalho foi feito para a pessoa humana e não a pessoa humana para o trabalho. O fim último do trabalho é o repouso, isto é, a fruição, o gozo e a contemplação jubilosa da obra feita. O mandamento divino de guardar o sábado destina-se precisamente a recordar o descanso do Criador, no 7.º dia da Obra da Criação. Mas esta nota preciosa do repouso de Deus, tinha em vista não só a glória de Deus, mas a vida da pessoa humana, a garantia do direito humano ao repouso. O repouso sabático destinava-se, por um lado, a fazer memória agradecida dos dons oferecidos por Deus, graças à Sua obra da Criação, mas também a fazer memória viva da libertação da escravidão do Egito, onde o povo de Deus passou por terríveis e esforçados trabalhos. O preceito do repouso sabático queria, por isso, proteger o povo de se tornar escravo da idolatria do trabalho, do consumo e da produção!

2. Fazia, por isso, todo o sentido este provérbio judaico: Guarda o sábado e o sábado te guardará; isto é, se guardares o repouso sabático, esta prática religiosa guardar-te-á, proteger-te-á do risco de uma vida sem graça, sem encanto, sem fôlego, uma vida cansada, esgotada, escravizada pelo trabalho. Pelo que faz falta não só repousar como o Senhor, mas repousar no Senhor. Este repouso não significa inatividade, mas exercício de louvor e agradecimento, tempo de maior intimidade com o Senhor.

3.Os primeiros cristãos depressa deixaram de guardar o sábado (o 7.º dia) e começaram a celebrar o Domingo (o 1.º dia), em memória da Ressurreição do Senhor. É bom que o saibamos: até meados do século IV, o Domingo não era dia do descanso. Tal só foi concedido a partir do Édito de Constantino, no século IV (320). Sem desprezar a dimensão do repouso, os cristãos fizeram da Eucaristia o coração do Domingo. Por isso, muitos cristãos, perseguidos, por celebrarem «o dia do Senhor», ao Domingo, diziam: “Nós não podemos passar sem o Domingo”, isto é, não podemos passar sem a Eucaristia. Na verdade, os cristãos levaram ao pleno cumprimento o mandamento do repouso sabático, porque perceberam que a Ressurreição era o ponto culminante da obra da Criação e da história da Salvação. E, por isso, fizeram do dia da Ressurreição, do primeiro dia da semana, o dia do Senhor e o senhor dos dias.

4.Hoje é preciso defender, de novo, o Domingo, não apenas porque é, para nós, o dia do Senhor, o dia da Eucaristia, o dia da Igreja, mas também porque é, para todos, o dia que o Senhor fez para nós: é o dia da pessoa humana, cuja dignidade infinita requer tanto o descanso do corpo como o repouso da alma. Hoje corremos o risco de transformar o sábado e o Domingo – dois dias irmãos – em dias ocupados por novas escravidões: segundo emprego, horas-extras de trabalho, competições desportivas esgotantes, diversões alienantes, tempos livres estressantes. Diz-se que parar é morrer e hoje até nos parece que brincar é pecado! As próprias crianças são vítimas desta cultura ativista, sobrecarregadas de atividades extracurriculares, impedidas de brincar, de se sujar, de conviver e de fazer asneiras, para poderem crescer…

5.Irmãos e irmãs: que o tempo de calor, de festas, de férias, - e quase de «pausa» na Catequese - não nos desvie da Eucaristia Dominical. “Se guardarmos o Domingo, também o Domingo nos guardará” do esquecimento de Deus, do arrefecimento da fé, do isolamento da comunidade, de uma vida desvitaminada, sem a luz e a força de Deus, para vencer os desafios de uma semana. Não queiramos ver-nos livres da Catequese e da Eucaristia, para termos um Domingo livre, porque isso significa que os senhores do trabalho, do dinheiro ou da indústria dos tempos livres, nos estão a escravizar e a roubar o dia do Senhor. Seja este dia, em Eucaristia, um dia diferente dos outros dias, uma espécie de 8.º dia, para repartir o pão da Vida e o Vinho da alegria e assim alimentar «a esperança do Domingo sem ocaso» (Prefácio Dominical X). Guardai o Domingo. E o Domingo vos guardará… no Senhor!

 

 

 

 

 

 

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