Liturgia e Homilias na Quinta-feira Santa 2024
Destaque

Estamos em Jerusalém, no Cenáculo, na Sala de cima, na Última Ceia. Estamos reunidos, como irmãos e irmãs, à volta da mesa do Senhor que, desde aquela Última Ceia, nos convida e convoca para celebrar com Ele a Sua Páscoa. Somos convidados a participar do Seu banquete pascal. Na Última Ceia, Jesus surpreende-nos com gestos abissais de amor extremo: o gesto do lava-pés, que aponta para a sua humilhação na Cruz; o gesto da oferta do Pão e do Vinho, pelos quais se dá antecipadamente a nós no Seu Corpo entregue e no Seu Sangue derramado; a instituição do sacerdócio ministerial, confiado aos apóstolos e a entrega do mandamento novo. Sentando-nos, hoje, à mesa com Ele, Jesus faz de nós irmãos e irmãs, reunidos no Seu amor, e cura as nossas feridas de divisão, violência ou inimizade. O tempo que vivemos até agora – uma Quaresma inteira – foi tempo de assumir, descobrir, tratar e curar essas feridas, com o óleo da misericórdia, da fortaleza e da alegria. Por isso, hoje queremos iniciar esta celebração com um rito especial de acolhimento dos Santos Óleos, que são também fonte de cura, para as nossas feridas do corpo e da alma.

Homilia na Quinta-feira Santa 2024 | Forma mais longa

 

1. Pelas suas chagas somos curados (Is 53,4-5; Pe 2,24)! Ao longo da Quaresma, projetamos nas cinco chagas de Jesus as nossas chagas pessoais, familiares, sociais, culturais e paroquiais. Destapamo-las, descobrimo-las para as assumirmos e nos deixarmos tocar e curar pelo Senhor, com o bálsamo da Sua misericórdia. Somos, ainda em boa parte, como os egípcios, um povo ferido de morte, um povo manchado pelo sangue da violência, desde Caim, que, matando o seu irmão Abel, frustrou o sonho de Deus, que sempre nos quer irmãos. Mas, ao mesmo tempo, somos o Novo Israel, um Povo curado, um Povo salvo e redimido pelo Sangue inocente do Cordeiro imolado na Cruz. Precisamente ali, onde a ferida do pecado trouxe a morte, Deus fez brotar a vida. Da ferida do lado aberto de Cristo na Cruz (Jo 19,34) brotou, para todos nós, sangue e água (Jo. 19,34), sinais promissores do Batismo e da Eucaristia. A Eucaristia faz-nos consanguíneos, faz-nos correr nas veias o mesmo Sangue de Cristo e, por isso, converte-nos num mundo de irmãos!

2. Precisamente, onde o mundo nos coloca em oposição e competição, a Eucaristia faz-nos sentar à mesma mesa do Corpo e do Sangue de Cristo, como filhos do mesmo Pai e, portanto, como irmãos entre nós, como membros de um só Corpo (1 Cor 10,17), como nova família, comunidade de amor. Partindo o Pão e dando-o a repartir aos seus discípulos, Jesus cura a nossa fraternidade ferida, faz-nos estender a mão. A Eucaristia é verdadeiro cenáculo de fraternidade e de comunhão: “Visto que há um só Pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só Cirpo, porque participamos do mesmo Pão” (1 Cor 10,17).

3. Irmãos e irmãs: uma autêntica celebração da Eucaristia é, na realidade, cura para o nosso amor fraterno. Como é que, no concreto, esta fraternidade se afirma e se constrói na celebração da Eucaristia? Vejamo-lo em 10 passos:

1. Ninguém celebra a Eucaristia sozinho ou para si mesmo. A celebração da Eucaristia nunca é um ato individual, mas uma ação de Cristo e de todo o Seu Corpo, que é a Igreja. Não há aqui self-service. Nas orações e nos gestos da Liturgia ressoa sempre o nós e não o eu, a vida da comunidade real e não o meu eu ideal. Qualquer limitação à amplitude deste nós, é sempre demoníaca (cf. Des.Desid. 19). Pela sua natureza comunitária, a Eucaristia educa-nos a estarmos juntos, a rezarmos juntos, a compartilharmos a vida, como irmãos.

2. Na Eucaristia, começamos a celebração por reconhecer as nossas faltas e pedir o perdão. O caminho da fraternidade exige humildade radical. Este é, por isso, um passo fundamental na construção de fraternidade.

3. Na Eucaristia, escutamos juntos a Palavra, que nos faz irmãos. “Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a Palavra e a põem em prática” (Mt 12,46-50).

4. No Ofertório, somos desafiados à partilha dos bens, porque é indigna qualquer celebração da Eucaristia, num contexto de discórdia e indiferença pelos pobres (cf. 1 Cor 11, 17-22.27-34). Antes de qualquer oferta – adverte-nos Jesus – “se o teu irmão tiver alguma coisa contra ti, vai ter com ele, faz as pazes e depois traz a tua oferta ao altar” (Mt 5,23-24).

5. Na Oração Eucarística, invocamos o Espírito Santo para que todos aqueles que participam do mesmo Pão e do mesmo Cálice, formem um só Corpo, isto é, uma verdadeira família de irmãos.

6. Na Oração do Pai-Nosso, nós percebemos que a paternidade de Deus em relação a nós nos faz irmãos uns dos outros.

7. No Rito da Paz estendemos a mão, abrimos os braços. Este é um modo de ver no outro e sempre um irmão, mesmo se não o conheço.

8. No momento e no movimento da Comunhão, comemos à mesma mesa e do mesmo Pão, partido e repartido por todos, como sinal de fraterna comunhão.

9. Dizemos Ámen ao receber o Corpo de Cristo, no Pão consagrado. O Corpo de Cristo não é apenas o Corpo de Cristo glorificado, mas é também o Corpo inteiro de Cristo, que é a Igreja, com todos os seus membros. Que este Ámen confirme também o desejo de nos transformarmos n’Aquele que comungamos, filhos no Filho e, por isso, irmãos.

10. Quando, por fim, somos enviados da Missa à missão, reconheceremos o Corpo de Cristo no corpo maltratado do próximo, do último e do mais pequeno, com os quais Jesus Se identifica e colocamo-nos ao seu serviço. Só assim a Eucaristia é cura para as feridas dos mais pequenos e esquecidos.

4. Meus queridos irmãos e irmãs: o mundo de hoje, tão ferido pelo individualismo, pela indiferença, pela competição, pela violência, pela guerra, reclama o nosso testemunho de fraternidade, que tem na Eucaristia a sua fornalha ardente (Des. Des. 57). Ai de nós – Deus nos livre e guarde –  se a celebração da Eucaristia, remédio e cura de fraternidade, se torna pretexto de divisão entre pessoas e grupos em vez de ser fonte de comunhão de pessoas e de bens; ai de nós se a participação na Eucaristia se torna espaço de rivalidade e competição em vez de ser lugar de colaboração; ai de nós se o altar, o coro, o corpo ou o adro da Igreja se torna palco de protagonismos, em vez de humilde serviço aos irmãos! Nada fará sangrar mais as chagas do Corpo ferido, morto e ressuscitado de Cristo, do que celebrarmos a Eucaristia, como estranhos, inimigos ou concorrentes, em vez de nos tornarmos cada vez mais irmãos e irmãs de uma só família.

5. Para fazer da Eucaristia a cura do nosso amor fraterno, comecemos então por lutar todos os dias pela toalha do serviço! Se queremos tomar parte na Eucaristia e trabalharmos por um mundo mais fraterno, então comecemos por onde Jesus começou: pelo lava-pés, por este banho de humildade e de serviço aos irmãos.  Deste modo, respondemos ao desafio de Jesus de fazer o que Ele fez. O seu mandato é claro: Fazei isto em memória de Mim (1 Cor 11,25)!

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Homilia na Quinta-feira Santa 2024 | Forma mais breve

1. Pelas suas chagas somos curados (Is 53,4-5; Pe 2,24)! Ao longo da Quaresma, projetamos nas cinco chagas de Jesus as nossas chagas pessoais, familiares, sociais, culturais e paroquiais. Destapamo-las, descobrimo-las para as assumirmos e nos deixarmos tocar e curar pelo Senhor, com o bálsamo da Sua misericórdia. Somos, ainda em boa parte, como os egípcios, um povo ferido de morte, um povo manchado pelo sangue da violência, desde Caim, que, matando o seu irmão Abel, frustrou o sonho de Deus, que sempre nos quer irmãos. Mas, ao mesmo tempo, somos o Novo Israel, um Povo curado, um Povo salvo e redimido pelo Sangue inocente do Cordeiro imolado na Cruz. Precisamente ali, onde a ferida do pecado trouxe a morte, Deus fez brotar a vida. Da ferida do lado aberto de Cristo na Cruz (Jo 19,34)brotou, para todos nós, sangue e água (Jo. 19,34), sinais promissores do Batismo e da Eucaristia. A Eucaristia faz-nos consanguíneos, faz-nos correr nas veias o mesmo Sangue de Cristo e, por isso, converte-nos num mundo de irmãos!

2. Precisamente, onde o mundo nos coloca em oposição e competição, a Eucaristia faz-nos sentar à mesma mesa do Corpo e do Sangue de Cristo, como filhos do mesmo Pai e, portanto, como irmãos entre nós, como membros de um só Corpo (1 Cor 10,17), como nova família, comunidade de amor. Partindo o Pão e dando-o a repartir aos seus discípulos, Jesus cura a nossa fraternidade ferida, faz-nos estender a mão. A Eucaristia é verdadeiro cenáculo de fraternidade e de comunhão: “Visto que há um só Pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só Cirpo, porque participamos do mesmo Pão” (1 Cor 10,17).

3. Irmãos e irmãs: uma autêntica celebração da Eucaristia é, na realidade, cura para o nosso amor fraterno. A Eucaristia faz-nos irmãos, porque ninguém celebra a Eucaristia sozinho ou para si mesmo. A celebração da Eucaristia nunca é um ato individual, mas uma ação de Cristo e de todo o Seu Corpo, que é a Igreja. Não há aqui self-service. Nas orações e nos gestos da Liturgia ressoa sempre o «nós» e não o «eu», a vida da comunidade real e não o meu «eu» ideal. Qualquer limitação à amplitude deste “nós”, é sempre demoníaca (cf. Des.Desid. 19). No momento e no movimento da comunhão, comemos, à mesma mesa e do mesmo Pão, partido e repartido por todos, como sinal de fraterna comunhão. Pela sua natureza comunitária, a Eucaristia educa-nos a estarmos juntos, a rezarmos juntos, a compartilharmos a vida, como irmãos.

4. Meus queridos irmãos e irmãs: o mundo de hoje, tão ferido pelo individualismo, pela indiferença, pela competição, pela violência, pela guerra, reclama o nosso testemunho de fraternidade, que tem na Eucaristia a sua fornalha ardente (Des. Des. 57). Ai de nós – Deus nos livre e guarde –  se a celebração da Eucaristia, remédio e cura de fraternidade, se torna pretexto de divisão entre pessoas e grupos, em vez de ser fonte de comunhão de pessoas e de bens; ai de nós se a participação na Eucaristia se torna espaço de rivalidade e competição em vez de lugar de colaboração; ai de nós se o altar, o coro, o corpo ou o adro da Igreja, se torna palco de protagonismos, em vez de humilde serviço aos irmãos! Nada fará sangrar mais as chagas do Corpo ferido, morto e ressuscitado de Cristo, do que celebrarmos a Eucaristia, como estranhos, inimigos ou concorrentes, em vez de nos tornarmos cada vez mais irmãos e irmãs de uma só família.

5. Para fazer da Eucaristia a cura do nosso amor fraterno, comecemos então por lutar todos os dias pela toalha do serviço! Se queremos tomar parte na Eucaristia e trabalharmos por um mundo mais fraterno, então comecemos por onde Jesus começou: pelo lava-pés, por este banho de humildade e de serviço aos irmãos. Deste modo, respondemos ao desafio de Jesus de fazer o que Jesus fez. O seu mandato é claro: Fazei isto em memória de Mim (1 Cor 11,25)!

 

 

 

 

 

 

 

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