Homilia no IV Domingo da Quaresma B 2024
Este é o Domingo laetare, o Domingo da alegria, da alegria pascal, que já se vislumbra e anuncia. E, entre as raízes da alegria, vivemos hoje a alegria da salvação, que tem matizes muito diversos, na Palavra de Deus, que escutámos.
1. Para os hebreus, esta alegria é proclamada de viva-voz, e por decreto de Ciro, um rei pagão: o povo de Deus, depois de um longo exílio na Babilónia, pode regressar a casa, reconstruir a vida e o Templo de Jerusalém. Os que semeiam com lágrimas, recolhem com alegria! É alegria da peregrinação, a alegria do regresso a casa, a alegria do perdão, a alegria da salvação!
2. Para os cristãos de Éfeso, São Paulo anuncia a grande razão da alegria: fomos salvos, de graça! Somos todos infinitamente amados por Deus. A salvação não é, em primeiro lugar, obra do nosso esforço ou do mérito de cada um. Mas é obra de Deus, que nos ama e nos chama a receber e a corresponder ao Seu amor. Por isso, diz São Paulo, ninguém se pode gloriar a não ser na Cruz do Senhor. É alegria da misericórdia, a alegria do perdão, a alegria da salvação, que somos chamados a acolher, a abraçar, a corresponder.
3. Para Nicodemos, a boa notícia, fonte de uma alegria maior, é tão simples como isto: Deus amou de tal modo o mundo, que lhe enviou o Seu Filho Unigénito. Na verdade, este mundo, criado por Deus, é amado por Ele. Esta humanidade, criada por Deus, é recriada e salva, por Jesus Cristo, na Cruz. Confiantes no amor de Deus, exponhamo-nos à luz do Seu amor, sem medo, reconhecendo os nossos muitos pecados. No Sacramento da Reconciliação – que vamos celebrar nos próximos dias – encontremos uma fonte de cura, de perdão, de paz e de alegria! Vivamos, como dom especial, a alegria dos redimidos, a alegria da salvação.
4. Esta alegria não pode passar ao lado da Cruz: A Primavera vem depois do Inverno, a alegria vem depois da Cruz. O Evangelho desafia-nos, mais uma vez, a contemplar o mistério pascal de Cristo, agora a partir da imagem do Filho do Homem, cravado e elevado na Cruz, tal como a antiga serpente, cravada e elevada no poste por Moisés. Esta imagem da serpente tornou-se fonte de cura para quem nela pusesse o seu olhar. A cura vinha da serpente ou do bronze? Não. A cura provinha daquele olhar humilde, de quem, pondo na serpente os seus olhos, reconhecia o seu pecado, a sua chaga. Ora, reconhecer a chaga, a ferida, o pecado, é o primeiro passo para pedir e alcançar a cura, a alegria da salvação!
5. Irmãos e irmãs: na Cruz, onde Jesus é cravado e elevado, está afinal tudo exposto: em contraluz, está o nosso pecado, mas na luz do Senhor está o Seu amor infinito por nós. Não deixemos de pôr os olhos na Cruz do Senhor. É a partir deste olhar humilde, posto em Cristo, elevado na Cruz, que podemos encetar o processo da nossa cura. Para o povo hebreu, no deserto, o remédio curativo da mordidela venenosa foi olhar para a serpente, cravada e elevada no poste. Para nós, hoje, o remédio para o nosso pecado é fixarmos os nossos olhos no Filho do Homem, cravado e levantado na Cruz, donde nos atrai todos a Si. A partir da Cruz, jorra da Sua chaga aberta, do seu lado ferido, essa fonte de graça e de saúde, o dom inesgotável da vida eterna, oferecida a todos os que acreditarem N’Ele.
Contemplemos, pois, as Suas chagas. Pelas suas chagas somos curados (Is 53,4-5; 1 Pe 2,24)! Pelas suas chagas somos salvos! São as fontes da nossa alegria, da alegria da salvação!