Homilia no I Domingo da Quaresma B 2024
Vamos com alegria. Subamos juntos a Jerusalém.
Este é, para a maioria dos fiéis, não só o primeiro domingo, como também o 1.º dia «em cheio», no caminho da Quaresma à Páscoa. Gostaria, por isso, de vos recordar o apelo que nos é feito, nesta caminhada, nesta subida, mesmo que repetindo algumas ideias já expressas na passada Quarta-Feira de Cinzas.
1. Primeiro: Vamos com alegria.Porque a meta do nosso caminho quaresmal é a Páscoa, que nos enche de alegria. Nesta 1.ª semana da Quaresma, somos desafiados, em concreto, a viver a alegria da conversão, isto é, a alegria que nos vem da mudança da nossa mente, do nosso coração, da nossa vida. A conversão é sempre uma fonte de alegria, sobretudo por isto: é Deus que nos procura primeiro. E nós, em resposta a esta Boa Nova, voltamos para Ele. Se alguma tristeza pode haver, na conversão, é aquela tristeza que resulta do “arrependimento, que leva à salvação” (cf. 2 Cor 7, 10). Mas essa é uma tristeza boa, porque depressa se converterá em alegria: é a alegria de quem regressa a casa, de quem volta ao primeiro amor, de quem se reencontra com Deus, com os outros, com todas as criaturas, na harmonia do amor e na paz dos anjos!
2. Segundo:Subamos juntos a Jerusalém. Esta subida não se faz sem aliviarmos a carga: libertemo-nos dos excessos que nos consomem; dos laços ou vínculos que nos enredam, das coisas que nos pesam e tornam pesados, das relações que nos intoxicam, dos costumes que nos paralisam. Veja, cada um, o peso a largar, o estorvo de que se deslindar, o nó-cego a desatar, a teia a desmantelar, para poder escalar esta subida, livre e liberto, com Cristo e com os irmãos! E façamos esta subida, juntos, em casal, em família, em grupo, em comunidade, imitando e seguindo a Cristo, na oferta de Si mesmo, na renúncia de Si mesmo por amor. Juntos, significa também ter a coragem pastoral de fazer caminho conjunto entre as duas comunidades paroquiais.
3. Terceiro: Diante da Cruz do Senhor.Detenhamo-nos diante da Cruz do Senhor, morto e ressuscitado, com as suas cinco chagas. Hoje pensemos nas cinco chagas pessoais, naquelas cinco feridas, mágoas, divisões, dores, que trazemos no nosso coração e precisam de ser curadas. Cada um identifique as suas chagas pessoais, das quais dirá «só eu e Deus é que sabemos». Mas – insisto – olhemos para estas feridas pessoais, com os olhos postos nas chagas de Cristo, morto e ressuscitado. As suas chagas estão abertas para nós e, por aquelas chagas, somos curados (cf. 1 Pd 2, 24; Is 53, 5). Amemo-las, beijemo-las e compreenderemos que precisamente aí, nesses buracos escuros, frios e dolorosos da vida, Deus vem ao nosso encontro e convida-nos a regressar a Ele, para voltarmos a encontrar a alegria de ser amados (cf. Papa Francisco, Homilia, 17.2.2021), a alegria do primeiro amor (Os 2,16-17).
Irmãos e irmãs: de coração contrito, iniciemos juntos este caminho de libertação, esta subida para Jerusalém. Que as nossas chagas sejam curadas nas “chagas de Cristo, o coração ferido, que está entre nós e o perigo” (Celina Borges). Que a nossa tristeza se converta em alegria. A todos, desejo uma feliz escalada, pelo Caminho da Cruz do Senhor à glória de Cristo Ressuscitado! Boa subida!
