Homilia no IV Domingo da Páscoa A 2023
1. “As ovelhas seguem-no porque conhecem a sua voz” (Jo 10,4)! Antes de conhecer as feições do rosto e as palavras, uma criança é capaz de reconhecer os seus pais, desde o seio materno, pela sua voz. Antes de entendermos as palavras de alguém, reconhecemos a pessoa pela sua voz, pelo seu timbre inconfundível. Até os animais domésticos interpretam as mensagens dos donos, não pelo conteúdo das suas palavras, mas pelo seu tom de voz. Por isso, diz o Evangelho, as ovelhas fogem de um estranho, porque não reconhecem a sua voz (cf. Jo 10,5)!
2. Na verdade, também dentro de nós, e à nossa volta, ressoam muitas vozes: a voz de Deus, que fala amavelmente à nossa consciência, e a voz tentadora do ladrão e salteador, que nos induz, seduz e conduz para o mal, com as suas falinhas mansas. Não é fácil distinguir estas vozes, num tempo em que a vida nos oferece tantas possibilidades de ação e distração, como se fossem todas igualmente boas (GE 167)!
3. Como podemos distinguir a voz de Deus (a voz de Cristo, a voz do Bom Pastor), da voz do Tentador, do Ladrão e Salteador? Se estivermos atentos, estas duas vozes falam duas línguas diferentes. Descubramos, pelo menos, cinco diferenças:
3.1. A voz de Deus nunca te obriga. Deus propõe-Se, não Se impõe a ti. Ao contrário, a voz do Maligno é barulhenta, é uma voz que te força, seduz, agride, verga, suscita-te ilusões deslumbrantes, emoções transitórias, mas que logo depois se desvanecem como o fumo. Segue a sugestão do cântico, inspirado no salmo 22(23), e diz a ti mesmo: “Confiarei [apenas]nessa voz que não se impõe, mas que oiço bem cá dentro, no silêncio a segredar”.
3.2. A voz de Deus corrige-te com paciência, encoraja-te, consola-te, alimenta-te de esperança. Ao contrário, a voz do salteador, no início, elogia-te, faz-te acreditar que és o(a) maior, mas depois deixa-te vazio(a) por dentro, explora os teus medos e suspeitas. Se resolveres ignorar essa voz, responder-te-á com desprezo: “Tu não vales nada”. Dirás então como o salmista: “O Senhor é meu Pastor, sei que nada temerei” (Sl 22/23,1.4).
3.3. A voz de Deus diz-te «abraça o presente». Esta voz anima-te, faz-te ir em frente, dá-te forças, para avançares no caminho certo. Pelo contrário, a voz do mercenário distrai-te do presente e quer que te concentres nas tristezas do passado ou nos receios do futuro. Responde à voz do Senhor, conforme te inspira o cântico: “Confiarei ainda que mil outras vozes corram muito mais velozes para me fazer parar. Avançarei, avançarei”.
3.4. A voz de Deus nunca promete alegria a baixo preço: convida-te a ires além do teu interesse egoísta, para encontrares o verdadeiro bem, a paz. Esta voz pergunta-te sempre: “Isto é bom para mim?” Pelo contrário, a voz do salteador insiste na pergunta: “O que é que me apetece fazer?” Esta voz gira sempre em torno do teu «eu», dos teus impulsos, das tuas necessidades, para teres tudo e já. Resiste a esta voz e “troca o instante pelo Eterno, escolhe o caminho de Jesus”. Tu sabes e confias: “a primavera vem depois do inverno, a alegria depois da Cruz”.
3.5. Por fim, a voz do Bom Pastor prefere a luz do dia, da verdade, da transparência e convida-te a seres verdadeiro. O inimigo, pelo contrário, prefere o escuro dos mexericos, lamentos e desconfianças, insinuando-te: “ninguém te entende nem te ouve, não confies”! Respondes então à voz do Senhor, com esta certeza: “Agora eu sei que Tu comigo vens também; por isso, avançarei, avançarei no meu caminho”.
Irmão e irmã: pede a graça de reconheceres e de seguires a voz do Bom Pastor. Eis que Ele está à tua porta e bate: se ouvires a Sua voz e lhe abrires a porta, entrará, ceará contigo e tu cearás com Ele (cf. Ap 3,20). Ele bate à tua porta, do lado de fora para entrar, e bate à tua porta desde o lado de dentro para te fazer sair do egoísmo e te conduzir aos pastos da verdadeira liberdade! Escuta e segue a Sua Voz!
