Liturgia e Homilias no II Domingo de Páscoa A | 16.04.2023
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Oito dias depois, no primeiro dia da Semana, cá estamos de novo, reunidos em comunidade, no lugar da Ceia, onde Cristo, de pé, vivo e Ressuscitado, nos preside e nos precede no Seu amor. Neste domingo, que São João Paulo II, instituiu no ano 2000, como Domingo da Divina Misericórdia, queremos abraçar a presença de Cristo Ressuscitado, que derrama sobre nós o seu Espírito Santo e com ele os dons da fé e da alegria, do perdão, da misericórdia e da Paz. Este é também o Domingo in albis, em que os batizados na noite de Páscoa, se apresentam vestidos de branco diante da comunidade. Este é o tempo oportuno para redescobrirmos nós as riquezas do nosso Batismo.

Homilia no II Domingo de Páscoa A 2023

Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum” (At 2,44). Que bela expressão esta: “abraçar a fé” (cf. Ef 1, 13). Porque este «abraço» é afeto caloroso, entrega e confiança, aceitação, relação e prontidão para amar e se deixar amar, para tocar e se deixar tocar. Gostaria hoje de vos sugerir três experiências fundamentais para abraçar a fé: a experiência da dúvida e da provação, a experiência das feridas abertas e a experiência da comunidade.

1.A experiência da dúvida e da provação. Muitas vezes, em momentos de crise, diante do mal no mundo, face aos escândalos na Igreja, parece perdermos a fé. Isso não é necessariamente um prejuízo. Porque, na verdade, é preciso deixar morrer a nossa fé em Deus – essa fé tantas vezes vivida como posse, como herança, como tradição – para que ressuscite em nós a verdadeira fé: a fé de Deus (Mc 11,22), isto é, a mesma fé de Jesus, a sua arriscada confiança em nós. São Pedro fala-nos da prova a que é submetida a nossa fé, comparável à do ouro provado pelo fogo (cf. 1 Pe 1,7). Pensemos que a nossa fé cristã vive do mistério pascal, e por isso também a fé tem de morrer para ressuscitar, tem de passar pelo madeiro da dúvida, pela aridez e pela desolação, tem de descer aos infernos da dor e do abandono, tem de suportar as trevas do silêncio, tem de atravessar a noite escura da Cruz. Porém, aqueles que perseverarem nestas noites escuras da alma, movidos apenas pelo desejo de Deus, experimentarão, mais cedo ou mais tarde, a luz da manhã de Páscoa, a alegria da salvação. Essa fé nua, livre de todo o lastro, ressurgirá então com nova folhagem, nova flor e novo fruto. Não tenhamos, pois, receio de perder a nossa fé, aquela fé que nos dava jeito, sabida e enxabida, para vivermos a fé da Igreja, como um abraço luminoso no meio da escuridão.

2. A experiência das feridas. O Corpo glorioso de Cristo Ressuscitado mantém intactas as feridas da sua Crucifixão. Tomé insistia em ver o sinal dos cravos, em meter o dedo no lugar dos cravos de Jesus e a mão no Seu lado aberto, como prova segura da sua fé. Jesus adivinha-lhe esta exigência e cede a ela. Mas não sabemos se Tomé chegou a tocar estas feridas; sabemos que se deixou tocar por elas, até chegar àquela extraordinária confissão de fé: ‘meu Senhor e meu Deus’ (Jo 20,28). Na verdade, Jesus não esconde aos nossos olhos as Suas feridas. E estas feridas sangrentas no Corpo da Sua Igreja estão hoje tão expostas! Diante delas, podemos fugir e perder a fé ou, pelo contrário, aproximar-nos ainda mais de Cristo e deixarmo-nos converter por Ele. Jesus mostra as Suas feridas para nos indicar que, na sua Páscoa, se pode abrir uma nova passagem, através delas. É possível fazer das próprias feridas fendas de luz. As nossas feridas podem tornar-se fontes de esperança quando, em vez de nos queixarmos ou de as escondermos, enxugamos as lágrimas dos outros. É agindo assim que a nossa ferida se cicatrizará (cf. Is 58, 8)e a esperança voltará a florescer.

3. Por último, a experiência da comunidade. O que distingue os dois encontros referidos pelo Evangelho, no primeiro dia da semana? No primeiro, Tomé não estava com eles. No segundo estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Tomé não chega à fé sozinho. Precisa de voltar a Casa, precisa do abraço e do testemunho dos outros, precisa de viver em comunidade, de partilhar a Ceia, para tocar e se deixar tocar pela presença de Jesus. Hoje, no meio das crises, somos tentados a ignorar o Domingo, o primeiro dia da semana, a abandonar a Eucaristia, a desistir da comunidade e assim nos tornamos cada vez mais incrédulos! Ora, os que haviam abraçado a fé – e foi assim que se tornaram crentes e se multiplicaram – eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à comunhão, à fraterna, à fração do pão e às orações (At 2,42). A comunidade é verdadeiramente o lugar de gestação da fé!

Que o longo tempo pascal, seja oportunidade de abraçarmos a fé, passando pelo crivo das dúvidas e das provações, transformando as feridas em fendas de luz e regressando à comunidade cristã, onde Cristo, que nos preside e nos precede, onde nos oferece, em abundância, os dons da alegria, do perdão, da misericórdia e da Paz!

 

 

 

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