Liturgia e Homilias no XXIX Domingo Comum C 2022
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A fé e a oração, o anúncio e o testemunho, o envio dos discípulos em missão, caminham sempre de mãos dadas. Nestes tempos difíceis, no nosso mundo e na nossa Igreja, quando nos perguntarem sobre o que fazer, a resposta estará sempre nas nossas mãos. Deus deu-nos as duas mãos para «nelas trazermos a alma», para rezarmos, celebrarmos e realizarmos as obras da fé. Por isso rezemos, celebremos e trabalhemos com as nossas mãos. Abracemos o presente de mãos dadas e de mãos erguidas. Nesta celebração, prestemos especial atenção à linguagem santa das nossas mãos.

Homilia no XXIX Domingo Comum C 2022

 

1. Estamos a viver tempos difíceis, também na Igreja em Portugal. Se, por um lado a receção dos Símbolos da Jornada Mundial da Juventude 2023 nos traz a frescura e alegria da fé dos mais novos, por outro lado, as sucessivas notícias, sobre alegados ou confirmados abusos sexuais de menores ou de encobrimentos por parte de alguns membros da Igreja, são um arrombo difícil de suportar e de superar no caminho da fé, que se defronta com o grande mistério da iniquidade. Precisamente, quando, por um tempo, nos parece estarmos a levantar-nos do chão, com uma Igreja mais viva, mais participativa, mais missionária, volta a rolar a pedra do escândalo dos abusos e caímos de novo no fundo, na tristeza, na vergonha, na descrença, no cansaço e no desânimo da fé.

 

2. Para ser sincero, ao longo dos últimos tempos, sinto-me muitas vezes, como Moisés, cansado, agastado, a precisar de quem me sustente as mãos erguidas, para rezar e permanecer firme na fé. Sinto também que “o povo de Deus que está em Portugal necessita de um bálsamo pastoral nesta hora de tormenta” (J. Cunha, Voz Portucalense, 5.10.2022), pois acalenta, por nós sacerdotes, uma estima e uma confiança, que não se revê, de todo, no horror destes escândalos. Frente a tudo isto, parece ganhar atualidade a pergunta de Jesus: “mas quando voltar o Filho do Homem encontrará fé sobre a terra? (Lc 18,8). Ora, a todos vós e “aos que se sentem atordoados na avalanche [dos escândalos]é necessário dizer que não está tudo perdido e que haverá sempre fé, pois a fé é despertada no espírito humano pela ação divina que nos precede” (J. Cunha, Voz Portucalense, 5.10.2022). Este é um tempo, em que a nossa fé tem de se centrar verdadeiramente em Cristo, na Sua Palavra, na Sua fidelidade, no Seu amor por nós, apesar dos abismos em que todos podemos cair. A realidade maior e absoluta, que funda a nossa vida é Jesus Cristo, o Seu grande amor por nós. É n’Ele, e não em nós ou em outros, que está posta a nossa confiança.

3. Irmãos e irmãs: como atravessar esta tempestade, sem sucumbir na fé? Relendo os textos deste Domingo, apontaríamos dois caminhos convergentes: 

3.1. Dêmos as mãos uns aos outros, como Aarão e Hur as deram a Moisés, que rezava no alto do monte, enquanto lá em baixo se travava tão dura batalha. Na verdade, o nosso auxílio vem do Senhor, mas o Senhor dá-nos uns aos outros como auxílio. Dá a esposa ao marido e o marido à esposa, como auxílio correspondente (Gn 2,19). Dá às crianças o auxílio dos pais e dos avós, como deu a Timóteo o auxílio da avó Loide e da mãe Eunice (cf. 2 Tm 1,5), que desde a infância lhe ensinaram as Sagradas Escrituras. Timóteo torna-se um auxílio precioso, na missão levada adiante por São Paulo. Isto é, precisamos todos de todos. Este é um tempo sinodal, para caminharmos juntos, de mãos dadas, apoiando-nos uns aos outros e uns nos outros. Abandonar o barco da comunidade, em plena tempestade, não nos salva. Afunda-nos. Dêmos todos a mão… e as mãos uns aos outros, para um grande abraço ao presente, mesmo se é incómodo e exigente.

3.2. Rezemos sempre sem desanimar. A oração anda de mãos dadas com a fé. É a oração que mantém acesa a chama da fé, pois sem ela a fé vacila! Se em nós se apaga a fé, apaga-se também a oração. E se em nós se apaga a oração, apaga-se também a fé. “Nós caminhamos à luz da fé e não da visão clara” (2 Cor 5,7). Mas ao atravessar a noite da fé, posta à prova, a nossa oração deve ser ainda mais intensa. “A força que, em silêncio e sem ruído, muda o mundo e o transforma em Reino de Deus é a fé. E a expressão da fé é a oração” (Bento XVI). Permiti, por isso, que vos peça que rezeis por mim, pelos sacerdotes, pelos bispos, pelo Santo Padre, pela Igreja que somos e queremos renovada, para que esta purga dos escândalos se torne um verdadeiro purgatório para a fé dos cristãos, para a conversão dos seus ministros e para a santidade da Igreja.  E, “para que não desfaleça a fé com que rezamos, oremos” (Santo Agostinho).

Abracemos o presente de mãos dadas e de mãos erguidas.

 

 

 

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