HOMILIA NO XVII DOMINGO COMUM C 2022 | 2.º DIA MUNDIAL DOS AVÓS E ANCIÃOS
Dão fruto mesmo na velhice! (Sl 92,15)
1.Sara, já de idade avançada, ficou a rir-se da promessa de um filho. Abraão, apesar da sua muita idade, não deixou cair os braços. Ele está diante de Deus como um amigo diante do Amigo e trava uma luta renhida com Ele, intercedendo, pedindo com insistência, persistência e descaramento, pela salvação dos seus. Ainda sabe contar até dez e regateia até aí, pela justiça divina, para salvar alguns, à custa de uns poucos, para que não pague o justo pelo pecador. Mas a misericórdia de Deus irá bem mais longe: Deus quer salvar a todos, salvar o povo inteiro, e fá-lo-á à custa da vida de um só Justo, o Seu Filho Único. Abraão e Sara são, por isso, a imagem de um casal de idosos, que têm consciência de que há ainda uma missão para eles neste mundo. Vivem uma velhice ativa, cuidam da sorte dos outros; não passam ao lado dos dramas da vida do seu povo, rezam e intercedem, convictos de que a sua imploração confiante pode dar frutos. Eles são, no meio de um povo corrompido, uma reserva espiritual, um pequeno resto, que guarda aquele discreto fermento de bem, a partir do qual ainda há uma réstia de esperança, para a renovação do mundo.
2. O Papa Francisco recorda-nos, na sua Mensagem para este 2.º Dia Mundial dos Avós e dos anciãos, que é possível dar fruto em todas as idades (cf. Sl 92,15).A vida longa é uma bênção e não um desperdício. Há, para cada idade da vida, uma missão própria. Os avós e os anciãos – há hoje muitos avós ainda jovens – não devem ficar à varanda “a ver passar os navios”, passando ao lado da vida. Não. Devem cuidar da sua vida espiritual, criar relações de afeto e proximidade, contribuir, com a sua bondade, sabedoria e compreensão, para a revolução da ternura. O mesmo olhar de compreensão, com que os avós olham para os netos, pode ensinar-nos a todos a olhar de igual modo para os outros, de coração desarmado. “Os avós e os idosos podem tornar-se mestres de um modo de viver mais pacífico e atento aos mais frágeis”.
3. E, para isso, os avós e os anciãos – diz o Papa incluindo-se a si mesmo – “devemos aprender a usar cada vez mais e melhor o instrumento mais precioso e apropriado que temos para a nossa idade: a oração. Tornemo-nos, também nós, um pouco poetas da oração: adquiramos o gosto de procurar palavras que nos são próprias, voltando a apoderar-nos daquelas que a Palavra de Deus nos ensina”. Como é belo ver os avós a ensinar os netos a rezar o Pai-Nosso, a Ave-maria, ou algumas orações, versos e jaculatórias dos seus pais e antepassados. Que preciosa herança podem transmitir aos netos com a sua oração. A vossa “imploração confiante pode fazer muito: é capaz de acompanhar o grito de dor de quem sofre e pode contribuir para mudar os corações”. A vossa“oração de súplica e o canto de louvor sustenta a comunidade que trabalha e luta no campo da vida”.
4. Queridos avós e queridos anciãos: como é importante que rezeis com os netos e pelos netos, que os acompanheis na sua vida cristã. Vós sois os melhores padrinhos e madrinhas, mesmo se não fostes escolhidos para tal. Quanto vazio espiritual não haverá no coração de uma criança, que chegará a jovem e a adulto, sem saber de cor aquelas orações mais simples – a começar pela do Pai-Nosso – que tantas vezes, na dura secura de uma vida, serão as únicas que terá à mão para rezar?! Quantas vezes não são os vossos netos a pedir-vos: “avô, avó, reza por mim, que vou fazer um teste, uma prova, um exame médico, uma cirurgia”. Eles sabem que vós sois amigos de Deus, e que, por amor a eles, tendes «a lata» de Lhe pedir tudo. Oh, quanta paz e quanto bem, não lhes vêm da certeza e da confiança da vossa oração?!
5. Olhai: se a um amigo não se negam três pães, se a um filho o pai dá um peixe e não uma serpente, se lhe dá um ovo e não um escorpião, quanto mais não dará coisas boas aos seus netos um avó, uma avó? Queridos avós e queridos anciãos: vós sois um dom para nós. Abraçai o presente, para que mesmo na velhice deis muito fruto!