Liturgia e Homilias no IV Domingo da Quaresma C 2022
Destaque

Alegra-te, ó Jerusalém. Alegrai-vos, irmãos. Alegrai-vos cristãos. Rejubilai todos. Este é o Domingo “laetare”, este é o domingo da alegria. A cor roxa do tempo da Quaresma dá lugar aos mais festivos tons cor-de-rosa, para sinalizar a alegria da Páscoa que se aproxima. É a alegria da conversão, do perdão, da reconciliação, da vida nova, cada vez que celebramos o Sacramento da Reconciliação. É a alegria pascal do Domingo, dia do Senhor. Em cada domingo, mesmo na Quaresma, celebramos a Páscoa semanal de Jesus, o Filho do Eterno Pai, Aquele que estava morto e voltou à vida. E fazemo-lo, participando com alegria nesta mesa familiar, nesta mesa da Eucaristia.

Homilia no IV Domingo da Quaresma C 2022

1. Esta parábola é como uma belíssima pintura, que a gente tem medo de tocar, mexer e estragar. Cada vez que a escutamos, ela desperta novas ressonâncias, novas vibrações, novas interpelações. Ora a primeira forma de estragar este magnífico retrato do Pai, é chamar nomes feios a esta parábola, tal como, por exemplo, reduzindo-a à parábola do filho pródigo. Na verdade, é o coração do pai, esse sim, pródigo e perdido de amor, que está no centro das atenções. E não é a história de um filho mais novo perdido ou de um filho mais velho ressentido.

2. Mais novo ou mais velho, perdendo a cabeça ou perdendo o coração, ambos os filhos estão muito longe de conhecer e de reconhecer o amor do Pai. E aqui a distância não se mede a metro. O mais novo partiu para um país distante… para se libertar do pai e está a léguas de casa. E até quando pensa regressar a Casa, propõe-se ser apenas mais um dos trabalhadores, na esperança da boa vontade do patrão, para o admitir ao serviço. Este mais novo não se sente filho, nem espera encontrar o abraço do pai. Será o olhar compassivo e o abraço misericordioso do Pai que o vestirão e revestirão da dignidade de filho. Quanto ao filho mais velho, esse conhece bem os cantos da casa, está dentro, mas não por dentro, está por casa, mas não se sente de casa. Incapaz de participar na festa, não reconhece o irmão e tão-pouco reconhece o Pai. Prefere a orfandade à fraternidade, o isolamento ao encontro, a amargura à festa, o ressentimento à alegria do perdão.Por isso, o filho mais velho não fala ao Pai do seu «irmão», mas refere-se sempre a ele como um estranho: «esse teu filho».

3. Esta parábola – dizíamos no início – traz sempre novas ressonâncias, cada vez que a meditamos. Ela fala, porventura, ao coração de tantas famílias, onde o amor do Pai ou da mãe não são aceites, acolhidos ou reconhecidos; ela fala às famílias onde vem, ao de cima, tantas vezes, o complexo de Caim, em que um irmão se descarta do cuidado por outro irmão: então percebe-se que não basta ter o mesmo sangue a correr nas veias, para alguém se tornar irmão. Esta parábola fala aos povos em guerra, onde o outro é visto não como país irmão, mas como inimigo de interesses concorrentes. Mas esta parábola também fala à nossa Igreja, onde as nossas relações com Deus podem ser mais profissionais que filiais, onde é difícil fazer do adro um átrio de fraternidade. Quanta distância há a superar entre o padre, «o pai da grande família», e os fiéis batizados, quando a Paróquia, em vez de ser Casa de portas abertas, para entrar e para sair, funciona como uma estação de serviços religiosos ou uma alfândega da fé, com portagens por todo o lado.

4. Chamou-me muito a atenção a resposta de algumas pessoas e grupos, na sua caminhada final, àquela pergunta “quem são os mais distantes da Igreja?” Alguns disseram: “muitas vezes, os mais distantes da Igreja são os que estão «dentro da Igreja»”, são os tais «filhos mais velhos», os que estão «dentro de casa» mas não «por dentro», os que vêm à Missa, para cumprir o seu preceito e não para fazer comunidade; os que consomem tudo o que é religião mas não querem instaurar uma fraternidade com os irmãos; são os profissionais dos serviços paroquiais, que trabalham certinho, tal como o filho mais velho, orgulhosos do cumprimento dos seus deveres, mas são impiedosos com os que desertaram, ressentidos e antipáticos com os que regressam, por necessidade ou por arrependimento.

5. Irmãos e irmãs: Terá o filho mais velho entrado e participado na festa? Não o sabemos. Este final «em aberto» sirva para comunidade, cada família, cada um de nós… o escrever com a sua vida, o seu olhar e a sua atitude. O cristão sabe que, na casa do Pai, há muitas moradas; de fora, ficam apenas aqueles que não querem tomar parte na Sua alegria. Cabe-te a ti acolheres o convite a entrares e a deixares entrar. Na certeza, porém, de que não há festa em casa do Pai, que não seja também uma festa de irmãos. Olha que, na casa do Pai, a distância dos filhos e a distância entre irmãos, não se mede aos palmos nem a metro, mas mede-se pelos braços, mede-se pelos abraços! Deixemo-nos abraçar por amor de Deus Pai.

 

 

 

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