Liturgia e Homilias no II Domingo da Quaresma C 2022
Destaque

No caminho para a Cruz, no meio da escuridão do medo que assaltava o coração dos discípulos, Jesus acende-lhes uma luz de esperança e de confiança no futuro. No alto de um monte, enquanto rezava, alterou-Se o aspeto do seu rosto. Na oração, o Senhor transforma sempre a nossa vida, transforma o nosso rosto desfigurado pelo medo e faz-nos ver a realidade com olhos de esperança. Na Transfiguração de Jesus, antecipa-se, por momentos, a vitória da Páscoa. E ficamos todos a saber: a última palavra não é o mal, não é o sofrimento, não é a morte. A última palavra é a do amor. A última palavra é a da Ressurreição. É este o anúncio que ressoa em cada domingo. Hoje também.

Homilia no 2.º Domingo da Quaresma C 2022 – forma longa

1. Nem as duas últimas quaresmas, em tempos de pandemia, fizeram tanto pela prática da Oração, como esta guerra na Ucrânia. Assaltados, como Abrão, por um grande e escuro terror, saímos para fora de casa, multiplicámos vigílias de oração pela paz. Começámos a abrir os olhos para o céu e a contar as estrelas, como se a esperança na Pátria que está nos céus, nos encorajasse a defender e a lutar por uma Pátria que é a Ucrânia, e é a nossa Europa, a nossa Casa Comum. Como os discípulos, envoltos pela nuvem, e cheios de medo, subimos com Jesus, o monte mais alto da oração, esperando o auxílio do Senhor, que fez o céu e a terra (Sl 120/121,1)!

2. Foi ali, no alto monte, que Jesus Se transfigurou. “Enquanto orava, alterou-se o aspeto do seu rosto” (Lc 9,29). A oração transformou o rosto de Jesus e ofereceu aos olhos ensombrados dos discípulos uma visão nova, uma antevisão do rosto desfigurado de Jesus na Cruz, que se transformará em rosto glorioso, pela Sua Ressurreição. E deste modo, a oração não poupou os discípulos a estar ao lado de Jesus, no seu combate final contra as forças do mal em Jerusalém. Mas deu-lhes a confiança no meio da luta de que o sofrimento, o mal e a morte não são a última palavra da história. O mal nunca é o senhor do último dia. O mal é senhor do penúltimo dia: no último dia há a Ressurreição. Deus é o Senhor do último dia!

3. Nestes dias, creio que todos nós rezamos um pouco mais. Rezamos pelo fim da guerra e perguntamo-nos: A oração pode deter a guerra? Se eu rezar, haverá menos tiros? Para quê rezar se a guerra não acaba? São perguntas, que tocam o mistério de Deus e da oração, o mistério do homem e da sua iniquidade. Procuremos, à luz da experiência transfiguradora da oração de Jesus, apontar algumas razões pelas quais devemos rezar ainda mais em tempo de guerra:

3.1. Rezemos porque a oração dirigida a um Deus, Pai de todos e não de alguns, ajuda-nos a tomar consciência de que somos todos filhos de Deus e, portanto, todos irmãos e não inimigos. A Oração atinge a raiz de onde brota a paz, na medida em que reforça os laços de uma pertença comum, os laços da nossa fraternidade.  Rezemos ao Pai e jamais nos esqueceremos de que somos todos irmãos!

3.2. Rezemos porque este é o modo justo de nos colocarmos do lado de Deus. Não rezemos para pôr Deus a combater, como nosso aliado e do nosso lado, contra o lado oposto do inimigo. Não rezemos para que Deus sirva os nossos propósitos e ambições, mas para servirmos nós o Seu Reino de Amor e de Paz. Rezemos para nos sintonizarmos com a vontade de Deus que é salvar, é reconciliar, é a Paz.

3.3. Rezemos porque, a seu tempo e a seu modo, a oração transforma sempre a realidade. Se, pela oração, não mudam as coisas ao nosso redor, pelo menos mudamos nós, muda o nosso coração e a partir daí muda tudo o resto. E, por isso, rezemos, para transformarmos o ressentimento e vingança nos mesmos sentimentos de perdão e de paz, que há em Cristo Jesus (cf. Fl 2,5). Rezemos para que a guerra termine também dentro de nós e com quem nos rodeia, para que a nossa resposta ao mal seja sempre o bem. Rezemos para alcançar do Senhor um coração novo, que as nossas mãos são incapazes de criar.A oração é arma que nos desarma.

3.4. Rezemos, para transfigurar o nosso olhar, para que o nosso olhar não fique colado ao chão. Não rezemos como se Deus tivesse uma varinha mágica, para bloquear os botões da guerra. Deus está, conhece-nos, acompanha-nos, inspira-nos, anima-nos, mas não nos substitui nesta luta. Rezemos para termos a coragem de enfrentar este combate, de mãos irmanadas, pela vida e pela paz.

3.5. Rezemos, porque Deus Pai escuta-nos sempre, mesmo se os problemas nem sempre se resolvem, mesmo se o sofrimento e a guerra continuam. Se rezarmos, confessamos a Deus a nossa escuridão e Ele rasgará a fenda pela qual a luz poderá entrar; saberemos que somos ouvidos por Ele, e tudo se tornará mais suportável. A pior coisa que nos pode acontecer é sofrermos sem sermos escutados. É disto que a oração nos salva e liberta: da solidão e do desespero, porque, em boa verdade, quem reza nunca está só.

4. Irmãos e irmãs: nesta Quaresma, e em tempo de guerra, rezemos mais, rezemos sempre, sem o cessar-fogo do Espírito; usemos a arma da oração, essa tão poderosa arma que nos desarma o coração! E oremos, a partir de um belo Hino da Liturgia das Horas:

 

Esta oração pode ser rezada pelo Presidente, por um leitor ou cantada pelo Coro.

 

Olhai, Senhor, a noite que nos cobre,

A fúria do pecado sobre a terra;

Olhai a injustiça, olhai a guerra,

Olhai para o cativo e para o pobre.

 

Olhai a humanidade dividida,

Olhai os transviados, os sem norte,

A força da mentira, o erro, a morte

E sobretudo o amor faltando à vida.

 

Da morte e do pecado

[Da pandemia e da guerra]

libertai-nos Senhor,

contritos esperamos

vossa Páscoa de [Paz e] Amor.


 


 

 

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