Liturgia e Homilias na Solenidade de Todos os Santos | 1 novembro 2021
Destaque

Percorremos o caminho de nossa casa até chegar a esta Casa Comum, para cruzar a ponte entre a Terra e o Céu, entre a beleza do que já somos e o que ainda se há de manifestar em nós. A alegria do domingo, que ontem vivemos, prolonga-se agora neste dia solene e de festa em honra de Todos os Santos. À vitória pascal de Cristo, que celebramos em cada Eucaristia, associa-se o coro incontável dos eleitos, que aclamam em alta voz a alegria da salvação e nos ensinam a cantar um hino de louvor a Deus e ao Cordeiro.  Estes são dias para cruzar esta ponte, que nos une a todos, em Cristo, numa verdadeira comunhão dos santos. São os santos de antigamente e de longe, mas também os santos de hoje e de “ao pé da porta, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus” (GE 7).

Homilia na solenidade de todos os santos 2021 *

1. O feriado nesta segunda-feira, dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos, faz ponte com o dia anterior de domingo e o dia posterior da Comemoração de Fiéis Defuntos. Diriam alguns que estragamos a grande festa do dia 1 com o luto e a tristeza do dia 2, ou que perdemos de vista a beleza do Céu, com os olhos já colados ao pó da terra. Talvez não. Talvez o povo de Deus – que no seu todo não se engana em matéria de fé – nos esteja a guiar na direção certa. Em vez de confundir os dois dias, esteja simplesmente a unir o que Deus não quis separar: o Céu e a Terra, a Igreja bela e gloriosa do futuro e a Igreja peregrina e penitente do presente, o auxílio e o exemplo de todos os santos e a esperança de misericórdia para todos os pobres pecadores. De facto, a chamada “comunhão dos santos” que professamos no Credo, não é uma teoria de fé; ela afirma-se quando agradecemos e intercedemos por aqueles que partiram antes de nós – E quantos deles, não nos deixaram um belo e vivo testemunho daquela santidade de ao pé da porta?! – Esta comunhão dos santos também se exprime quando choramos por aqueles que partiram antes de nós e continuam a iluminar o nosso caminho. Reconhecemos, na nossa vida, na nossa oração, nos nossos gestos destes dias, um fio de amor, que cruza a ponte entre a Terra e o Céu, que nos liga aos que nos morreram. Partindo, eles levaram consigo, para o Céu, tanto de nós; partindo, eles deixaram em nós, nesta terra, tanto de si. Estamos unidos por esta comunhão de amor, que é sempre mais forte do que a morte!

2. Por isso, estes dias da comunhão dos santos são dias de memória luminosa, de gratidão ardente, de esperança renascida. Ora o modo mais belo de cruzarmos esta ponte entre o Céu e a Terra, entre os santos e os pecadores, entre os que peregrinam e os que partiram, é a oração. Na verdade, quando rezamos, nunca o fazemos sozinhos: estamos imersos num rio caudaloso de invocações, que nos precede e continua depois de nós. Faz-nos bem rezar com as belas orações que a Bíblia recolhe ou com as orações criativas que os santos rezaram, ou com as orações simples que os nossos pais, avós e bisavós nos ensinaram a rezar. Cada vez que damos as mãos e abrimos assim o coração a Deus, em oração, encontramo-nos – quase sem nos darmos conta – numa companhia de santos anónimos e de santos reconhecidos, que rezam connosco e intercedem por nós, como irmãos e irmãs mais velhos, que passaram pela nossa mesma aventura humana. Na verdade, por meio de Cristo, morto e ressuscitado, que junto do Pai intercede por nós, os nossos queridos defuntos, do Céu, continuam a cuidar de nós. Eles rezam por nós e nós rezamos por eles e com eles, numa verdadeira comunhão dos santos. Por consequência, na oração que fazemos juntos, não há luto que permaneça solitário, não há lágrima que se verta no esquecimento: tudo respira e participa de uma graça comum. Não por acaso, nas igrejas antigas, as sepulturas estavam no jardim, em redor do edifício sagrado, a indicar que em cada Eucaristia participam, a seu modo, os que partiram antes de nós. Não há melhor mesa do que esta, para o encontro festivo e interminável do amor.

3. Irmãos e irmãs: os santos intercedem por nós e recordam-nos hoje que, nas nossas vidas, embora fracas e marcadas pelo pecado, a santidade é-nos dada todos os dias. E, se a recusarmos, teremos de a recusar todos os dias, porque todos os dias a santidade se avizinha de nós como possibilidade. Assim, com a graça de Cristo e a intercessão dos santos, a santidade pode e deve florescer na nossa vida de cada dia. Não desesperemos deste ideal de santidade por causa dos nossos muitos pecados. O primeiro santo canonizado por Jesus foi um ladrão! Não há, portanto, um santo sem um passado de pecado nem um pecador sem um futuro de salvação. Isto quer dizer que nunca é demasiado tarde para que eu e tu, todos nós, no presente, aqui e agora, nos convertamos ao Senhor.

Querido irmão, querida irmã, só existe uma infelicidade neste mundo: a de não ser santo (cf. Léon Bloy). Ainda vais a tempo de cruzar esta ponte entre a Terra e o Céu!

 

* Inspirada numa Catequese do Papa Francisco, 7.4.2021

 



 

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