Liturgia e Homilias na Solenidade da Ascensão do Senhor B 2021
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Hoje celebramos o Domingo da Ascensão. Da Páscoa à Ascensão quarenta dias vão! Passados, para nós, os exercícios da «quarentena» – assim o esperamos – oxalá estes tenham sido tempos de preparação para algo novo, para o novo normal, que nos desafia a gastar a sola dos sapatos e a arregaçar as mangas, na construção de um mundo novo. Mesmo se a nuvem da incerteza e da surpresa nos esconde, de algum modo, o rosto de Cristo, sabemos que Ele continua a ser o Sol Nascente, que ilumina a nossa esperança, o Deus sempre presente, que está connosco todos os dias e até ao fim dos tempos. Neste Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa reitera o convite de Jesus “vinde e vede” (Jo 1,46),para irmos e sairmos ao encontro das pessoas, onde estão e como são. Para que desse encontro a notícia resulte em interpelação, em compromisso de mudança! Voltemos os nossos olhos para o Senhor, para que a sua misericórdia nos levante do chão, na direção da Pátria Celeste.

Homilia na Solenidade da Ascensão do Senhor B 2021

 

1. Um novo normal! A expressão tornou-se banal, a propósito dos efeitos da pandemia. Muita coisa mudou e o nosso modo de viver tem de se reinventar. Eis uma situação algo semelhante à dos discípulos, desde a Ascensão do Senhor. Estavam habituados a ter o Mestre ali por perto e a ser apenas aprendizes. De repente, o Mestre já não está à mesa… e eles próprios são chamados a sair à rua, a ensinar, a deixar a marca de Jesus. De repente, aquele Jesus, que ali estava à mão de semear, para um conselho, para uma ajuda, para um consolo, parece evaporar-Se e eles ficam a olhar para o céu como se a terra lhes escapasse debaixo dos pés. A própria imagem de Jesus é escondida, a seus olhos, pela nuvem do não saber. De repente, têm de aprender que a proximidade pessoal de Jesus se distancia a seus olhos e que, doravante, Ele Se comunica, não fisicamente, mas pelos fios de uma rede de comunhão tecida entre eles. De repente, eles percebem que chegou a hora de se chegarem à frente, de irem adiante, de voltarem à Galileia e daí mesmo saírem e partirem em missão. De repente, são enviados em missão, ao encontro de todos os corações, sem ficar confinados aos recintos sagrados do Templo.

2. Com a pandemia, estamos todos perante o desafio de um novo normal: os nossos hábitos, as nossas seguranças, as nossas certezas, as nossas prioridades, os nossos estilos de vida são postos em causa e temos de aceitar viver com menos liberdades e porventura mais livres do acessório, com mais perguntas do que respostas, mais ligados por um fio solidário do que isolados nos nossos interesses. Não sabemos bem quando tudo isto acabará e se acabará, nem a direção que o futuro tomará, mas já percebemos que nada será como dantes.

3. Ninguém sairá igual ou ileso desta crise: ou sairemos melhores ou piores. Melhores, se não cairmos na tentação de voltar ao mesmo, ignorando que afinal antes não estávamos tão bem quanto nos parecia; melhores, se encontrarmos uma nova saída, por novos caminhos; melhores se, com as dificuldades, crescermos em humanidade, em proximidade, em humildade, em resiliência; melhores se não nos resignarmos e não procurarmos apenas adaptarmo-nos às circunstâncias; melhores se nos deixarmos tocar, sacudir e transformar pela vida dos outros. Para sairmos melhores desta crise, teremos de nos descentrar, de nos transcender, isto é, de sair de nós mesmos, da nossa cultura selfie, que tem o espelho no umbigo, para ir e sair ao encontro dos outros: “olhar os olhos, os rostos, as mãos e as necessidades daqueles que nos rodeiam e assim também poder descobrir os nossos rostos e as nossas mãos cheias de possibilidades” (PAPA FRANCISCO,Sonhemos juntos, 146-147).Mas há o risco real de sairmos bem piores desta crise. Piores, se nos fecharmos cobardemente no porão da barca, se tentarmos fugir à tempestade por entre os pingos da chuva, se nos limitarmos a andar à roda de nós mesmos, em circuitos fechados, no labirinto dos nossos interesses pessoais.

3. Somos nós hoje os homens da Galileia, que não podem ficar imobilizados pela nuvem da incerteza, da surpresa e da novidade. Somos desafiados a sair de nós próprios, a gastar a sola dos sapatos, a ir aonde ninguém vai, para ver a realidade com os próprios olhos, para tocarmos e nos deixarmos tocar por essa realidade e arregaçarmos as mãos, sempre prontos a fazer o que é preciso. Este é o tempo de agir. Deixa, por isso, que te diga, em discurso direto: “Faz um telefonema, vai visitar alguém, oferece o teu serviço. Diz que não tens a mínima ideia do que fazer, mas que talvez possas ajudar. Diz que gostarias de dar uma ajuda para seres parte de um mundo diferente e que pensaste que esse poderia ser um bom lugar para começar”(PAPA FRANCISCO,Sonhemos juntos, 147).

São José, o homem dos sonhos, descentrado de si mesmo, sempre pronto a partir e a fazer o que Senhor lhe pedia, nos ensine então a sonhar juntos o caminho para um futuro melhor, a sair de nós mesmos ao encontro dos outros, para vermos com os próprios olhos a realidade e enfrentarmos com coragem criativa os desafios deste novo normal, para que se torne normal sermos homens novos!

 

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