Homilia no IV Domingo da Páscoa B 2021
Estamos a viver, desde 8 de dezembro último, o Ano de São José. Neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa Francisco propõe-nos três palavras, que definem a vocação deste «santo de ao pé da porta», que não era famoso nem se fazia notar. Aliás, de São José não se regista nem uma palavra, nem um único escrito. Contudo, através da sua vida normal, realizou algo de extraordinário aos olhos de Deus.A partir do seu testemunho, sinalizemos três palavras-chave de qualquer vocação cristã: o sonho, o serviço e a fidelidade.
1. O sonho.A figura de São José aparece-nos, no primeiro Evangelho e por quatro vezes, envolta em sonhos (Mt 1,19; Mt 2,14-15; Mt 2,19-20; Mt 2,22-23). Na Bíblia, os sonhos aparecem como um instrumento privilegiado, por meio dos quais Deus revela a Sua vontade e os Seus desígnios. A esta luz, o Papa desafia-nos a ouvir, a descobrir e a seguir o sonho de Deus para nós, isto é, a fazer do Seu desígnio de amor o sonho da nossa própria vida. E, por isso, será sempre um sonho com metas altas e um sonho aberto às surpresas da vida. “Não fomos feitos para sonhar os feriados ou os fins de semana, mas para realizar os sonhos de Deus, para abraçar a beleza da vida. Não tenhamos medo de sonhar coisas grandes” (Homilia, 22.11.2020).Neste sonho de Deus, só o amor dá sentido à vida, só um amor maior nos sustenta. Por isso, o preço humano para a realização deste sonho divino é o de arriscar e oferecer, tal como o faz o Bom Pastor, a própria vida pelos outros, dando-a generosamente; pois só dando a vida é que a podemos retomar. Toda a verdadeira vocação nasce e faz-se sempre dom de si mesma!
2. O serviço.O serviço pronto, o cuidado carinhoso, não foi para São José apenas um alto ideal, mas uma regra da sua vida diária. Adaptou-se com coragem criativa aos muitos imprevistos e dificuldades da vida, com a atitude de quem não desanima, com a disponibilidade de quem vive para servir, cuidando dos seus maiores tesouros, Jesus e Maria, resguardando-os dos perigos, suando no trabalho, arriscando toda a vida por eles. São José foi a mão estendida do Pai Celeste para o Seu Filho e para a Sua Mãe, nesta Terra. De José aprendemos então a não seguir obstinadamente as nossas ambições, a não nos deixarmos paralisar pelas nossas nostalgias. De São José, como aliás do Bom Pastor, aprendemos a cuidar amorosamente da vida dos irmãos que nos são confiados, a guardá-los e a resguardá-los dos perigos. Servindo assim, tornamo-nos, como José, as mãos operosas do Pai em prol dos seus filhos e filhas.
3. A fidelidade. Se quiséssemos acrescentar mais um “s” às palavras sonho e serviço, podíamos simplificar com o advérbio “sempre”!São José, homem justo, procura ser fiel à vontade de Deus, sempre; não se apressa nem se precipita no meio das dificuldades. Medita, pondera, não segue o instinto nem o instante. Tudo repassa, com paciência, diante de Deus, mantendo-se fiel no seu posto de trabalho, na sua condição de esposo da Virgem Maria, na sua missão de guarda do Redentor. Faz-nos tanta falta este testemunho de fidelidade quotidiana, nas pequenas coisas de todos os dias, numa época marcada por escolhas passageiras e por emoções instantâneas, que desaparecem sem gerar a alegria. São José permanece fiel à vontade de Deus, que lhe fala e diz, como um refrão, todas as manhãs, todos os dias, todas as noites, ao seu coração: “Não temas” (Mt 1,20). A fidelidade quotidiana às pequenas coisas de cada dia é o segredo da sua alegria: uma alegria cristalina e transparente, feita de simplicidade, que há de transvazar do coração de qualquer vocação.
É a alegria que vos desejo a todos vós, irmãos e irmãs. São José, guardião das vocações, nos acompanhe a todos com coração de pai!