Liturgia e Homilias no II Domingo da Quaresma B 2021
Destaque

Todos juntos na Arca da Aliança. No primeiro domingo da Quaresma, fomos conduzidos aos primórdios da Criação e entrámos com Noé na arca, confinados numa quarentena, para cuidar da vida e regenerar a humanidade. Com Noé descobrirmos o tesouro da nossa Casa Comum. Neste segundo domingo da Quaresma, vamos até às raízes mais antigas da nossa fé, até às origens do Povo de Deus. E aí encontramos a figura patriarcal de Abraão. Ele tornou-se «nosso pai na fé» e nós fazemos parte da sua descendência incontável. Por isso, nesta Eucaristia, queremos evocar e agradecer os que nos precederam na fé (Abraão, Moisés e Elias) e nos guiaram até Jesus, que é a Palavra definitiva do Pai na nossa história Queremos evocar e agradecer aqueles que estão nas raízes da nossa vida e nos transmitiram a fé, para estabelecermos com eles uma verdadeira aliança de gerações.

Homilia no II Domingo da Quaresma B 2021

1. Um dos mais belos tesouros da Bíblia é o relato desta cena dramática, a que se chama o sacrifício de Isaac, quando, na verdade, o único a sofrer nesta história é o pai Abraão. A sua fé, posta à prova até a um limite impensável, traduz-se na obediência incondicional à voz de Deus e na confiança absoluta na Sua providência. Nesta história, Abraão deve sacrificar não a carne do filho, mas o filho da carne, isto é, a sua vontade de ter e de reter para si o filho único, que tinha como apenas seu. E porque superou esta prova, libertando-se desse desejo de posse, Abraão tornou-se pai de uma multidão de crentes, pai de uma descendência incontável, de que todos fazemos parte. A figura de Abraão está, de facto, nas raízes mais primitivas da nossa fé. Curiosamente, os mesmos jovens, que ficaram à distância de três dias, à espera do regresso de Abraão e de Isaac (Gn 22,5), veem-no regressar sozinho, já desapossado do filho único, e voltar para juntos deles (Gn 22,19). Eis um ancião que sabe caminhar com os jovens, oferecendo-lhes a visão larga da Pátria Prometida, tornando-se para eles guia de sabedoria, uma bússola no caminho. Eis dois jovens com raízes, que dão asas e esperança aos sonhos do velho Abraão.

2. Queridos irmãos e irmãs: a promessa da descendência, na qual são abençoadas todas as nações da Terra, permite-nos lançar hoje um olhar sobre os nossos ascendentes, sobre os nossos maiores, sobre as nossas raízes familiares e sobre os que nos precederam na fé e no-la transmitiram. Abandonemos este preconceito mútuo, esta estranheza recíproca, que leva os mais velhos a dar como perdidos os mais novos e os mais novos a rotular os mais velhos como um produto fora de prazo de validade. “Ao mundo nunca foi nem será de proveito a rutura entre gerações” (Christus vivit, 191).Por isso, estabeleçamos uma verdadeira aliança entre gerações. “A Igreja – e podia dizer-se o nosso mundo, a nossa família – é uma canoa, na qual os idosos ajudam a manter a rota, interpretando a posição das estrelas, e os jovens remam com força, imaginando o que os espera mais além” (Ib.,201).É importante, pois, que os avós se encontrem com os netos e que os netos se encontrem com os avós, porque os avós diante dos netos sonharão, e os jovens, guiados pela sabedoria dos avós, seguirão em frente e profetizarão (Jl 3, 1; cf. At 2, 17).

3. Nesta 2.ª semana da Quaresma, vamos à arca da aliança descobrir e valorizar o tesouro das nossas raízes. Esta é uma semana para o reconhecimento dos anciãos. Por isso, deixo hoje um duplo apelo, aos mais novos e aos mais velhos:

3.1. Aos mais novos, peço-vos: acolhei a palavra sábia dos idosos, porque a vida não começou em vós, mas chegou-vos através deles; aprendei a cuidar deles com amor e generosidade! Não façais dos vossos avós ou bisavós exilados ou escondidos, dentro da própria família. Não pratiqueis, com os anciãos, uma espécie de eutanásia cultural, negando-lhes a oportunidade de falar, de agir, de intervir na própria família. Pergunto-vos: Ouvis os avós? Abris o vosso coração àquela memória que os avós vos dão? Escutai os avós! Não esqueçais: um idoso em casa é uma biblioteca viva!

3.2. Aos mais velhos, peço-vos: contai aos vossos netos e bisnetos as vossas histórias de vida, para que compreendam que uma existência sem amor é árida. Mostrai-lhe os sacrifícios que suportastes, para que percam o medo de se entregarem e desafiem o futuro com a coragem da esperança. Dizei-lhes como superastes, com a ajuda de Deus, as diversas provações da vida e da fé, para que sintam cada vez mais sede de Deus. Deixai-lhes como herança não o «haver», mas uma visão luminosa da fé, que os ponha «a ver» sempre mais alto e mais longe, na direção do Céu, nossa Pátria definitiva. Rezai com eles, ensinai-os a rezar e rezai por eles. Mantende a confiança de que os bons frutos que sonhais ver nos mais novos dependem das boas raízes, que sois vós, os mais velhos. Procurai gerar, pelo testemunho da vossa fé provada, uma incontável descendência espiritual!

O desafio é comum a todos, em família: estabelecer um pacto entre gerações, segundo este propósito: todos juntos na Arca da Aliança.

 

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