Liturgia e Homilias na Solenidade da Epifania do Senhor | 3.1.2021
Destaque

Celebramos hoje a Solenidade da Epifania do Senhor. Epifania quer dizer «manifestação». Esta Solenidade está ligada à vinda de uns Magos do Oriente a Belém, para prestar homenagem a Jesus, o Rei dos Judeus. Com o seu gesto de adoração, os Magos testemunham que Jesus veio à Terra para salvar não só um povo, mas todas as nações. Por isso, a Epifania evidencia a abertura universal da salvação trazida por Jesus. A Liturgia deste dia aclama: «Adoram-Te, Senhor, todos os povos da Terra», porque Jesus veio para todos nós, para todos os povos! Ele não reserva o seu amor a alguns privilegiados, mas oferece-o a todos, para que no Presépio nos sintamos todos irmãos, todos de casa.

Homilia na Solenidade da Epifania 2021

1. Nos alvores de 2021, os Magos, guiados pela Estrela da Ciência, trazem oouro do labor científico dos investigadores, oincensode louvor aos profissionais de saúde e a mirra da eficácia quase imortal das vacinas contra a COVID-19. O primeiro Mago, de origem alemã, com boas relações norte-americanas, oferece a vacina da Pfizer. Maria faz sinal para a oferecer a José, que já tem uma certa idade e deve tomá-la quanto antes. Um outro Mago, de porte norte-americano, traz a vacina da Moderna. Maria, que é ainda uma menina na arte de ser Mãe, agradece muito e espera não ter complicações depois do parto. E o terceiro Mago, um britânico, aliado da Universidade de Oxford, traz a vacina da AstraZeneca. José sugere que não seria má ideia aplicá-la aos pastores, sem-abrigo, um grupo de risco a merecer-lhe um especial cuidado. E a caminho, lá do leste da Europa, vem ainda um quarto Mago, de nacionalidade russa, a ver se consegue aplicar, nem que seja no burro ou na vaca, a Sputnik V, aliás bem conservada pelas baixíssimas temperaturas de Moscovo.

2. O Menino Jesus não precisa desta vacina; pelo contrário, Ele vem imunizar a todos do vírus mortal do pecado e oferecer de graça o remédio da imortalidade. Em troca, oferece a salvação, com eficácia de 100%, e deseja oferecê-la de modo algo semelhante ao da aplicação das vacinas, com distribuição universal, gratuita e facultativa. São três características essenciais à construção da fraternidade, que brilha ali mesmo, na Estrela do Presépio, que é o próprio Jesus.

2.1. Universal:os Magos vêm de longe, lá «dos orientes». São intérpretes de outras culturas, de outros saberes, de outros costumes. Os Magos mostram-se capazes de ler o livro da Criação, deixando-se guiar pela Estrela; conhecem o livro das culturas, onde permanece viva, de muitos modos, a procura de Deus, e consultam o livro das Escrituras, que aponta para o Salvador. E nisto, os Magos mostram-nos que uma cultura verdadeira é sempre universal (cf. FT 146): não se fecha sobre si mesma, não evita o diálogo com outras culturas, onde igualmente germinam sementes do Verbo, da Verdade, do Belo e do Bom. Os Magos trazem a riqueza da sua diversidade, que só Herodes teme, porque ergue um muro no seu coração (FT 27); não quer “misturas” dentro das suas muralhas defensivas (cf. FT 146). Mas Maria, José e o Menino recusam fazer da sua Casa um calabouço (cf. FT 142)e acolhem, agradecidos, a beleza multicolor daquela diversidade. Com Jesus, que vem salvar a todos, é possível ter um coração aberto ao mundo inteiro, pensar e gerar um mundo aberto, onde todos são de casa, onde todos se recebem como irmãos.

2.2. Gratuita: a cena dos Magos enternece-nos sobretudo pela troca de presentes, pelo intercâmbio de dons.Maria e José oferecem à adoração dos Magos o dom do Menino Deus e, com Ele, o dom da salvação. E os Magos enriquecem a Sagrada Família, não tanto com o ouro, o incenso e a mirra, mas sobretudo com os seus dons pessoais, a sua ciência, a sua resiliência testada no longo caminho de busca, a sua sabedoria depurada pelo olhar fito na mais alta Estrela, a sua cultura feita de procura, de diálogo, de partilha, de encontro. No Presépio, estes estrangeiros não são vistos como ameaça, mas como riqueza a acolher, a proteger, a integrar e a promover. Antes deles, vieram os pobres pastores da Judeia, que pouco ou nada tinham a oferecer. E foram acolhidos, como gente de casa. A Sagrada Família ensina-nos aquela gratuidade que acolhe o estranho ou o estrangeiro, mesmo que não traga de imediato benefícios palpáveis (FT 139), ao contrário, por exemplo, de alguns países, que pretendem receber apenas cientistas ou investidores!

2.3. Facultativa: Jesus não Se impõe, na sua fragilidade. Não retém os Magos dentro do Presépio. Não os encandeia com a sua Luz. Expõe-Se agora aos nossos cuidados, à nossa decisão de O tomar, ou não, como Irmão.

Ele diz-te: Não te salvarás sozinho. Segue por outro caminho. Cuida de ti, cuidando dos outros, com amor universal. Faz-te irmã, irmão de todos. Construamos juntos um mundo aberto, onde somos todos irmãos, todos de casa!

 

 

 

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