Liturgia e Homilia no II Domingo do Advento B 2020
Destaque

Todos de casa. Todos irmãos. O nosso Advento não vai no vento do confinamento. O uso da máscara é o nosso instrumento de vigilância; o distanciamento físico é oportunidade de um olhar mais atento; o recolhimento obrigatório é exercício de deserto. A solidão abre-nos a uma palavra e a um gesto de consolação. O Deus da paciência fala-nos hoje ao coração. Neste 2.º domingo do Advento, colocamos, na Estrela da Fraternidade, a palavra AMABILIDADE. Em períodos de crise, de situações catastróficas, em momentos difíceis, quando aflora o espírito do «salve-se quem puder», somos desafiados a cultivar a amabilidade; há pessoas que o conseguem, tornando-se estrelas no meio da escuridão e da solidão.

Homilia no II Domingo do Advento B 2020
 
1.“Consolai, consolai o meu povo” (Is 40,1)! Consolar é estar com alguém na sua solidão. Nós, que aprendemos a ser e a viver convivendo, sentimos o efeito mais doloroso desta pandemia: a solidão! O medo de contagiar outros, ou de ser contagiado pelos outros, coloca-nos à distância, empurra-nos para a separação. O trabalho transforma-se em teletrabalho, a casa ou o lar convertem-se numa prisão. Os profissionais de saúde, nos fatos e artefactos da sua proteção, quase já só se conhecem pelos sapatos. O doente pouco mais vê que os olhos de quem tem pela frente. Até os mortos morrem sós, como cinza anónima numa morgue improvisada. A pandemia do desemprego atira muitos para a valeta da miséria, do descarte, da indiferença. Mesmo entre nós, nesta assembleia litúrgica, o protocolo sanitário dificulta-nos tanto os laços de comunhão. Uma solidão assim, à escala global, põe-nos na pele de João Batista, a gritar no deserto da nossa solidão a urgência da conversão, a necessidade de uma palavra de salvação, de um gesto de consolação. O confinamento é realmente uma experiência de deserto, uma oportunidade para descobrir e curar as feridas do coração.
 
2.Irmãos e irmãs: a palavra “pandemia”, na sua raiz, diz literalmente respeito a “todo o povo”. Ela atinge-nos a todos, na experiência de uma fragilidade que nos humaniza, nos fraterniza e nos eterniza. Sim. É uma fragilidade que nos humaniza, porque nos põe a todos sob o cuidado de uns pelos outros. É uma fragilidade que nos fraterniza, porque nos faz tomar consciência desta abençoada pertença comum, a pertença como irmãos, que já não podem mais salvar-se sozinhos. Esta é uma fragilidade que nos eterniza, porque abre em nós uma brecha para Deus e projeta o nosso coração na esperança maior dos novos céus e da nova terra!

3.Nesta 2.ª semana do Advento, somos chamados a fazer brilhar a Estrela da Fraternidade, a tornarmo-nos irmãos de todos, cultivando a virtude da AMABILIDADE. Ali, onde aflorar o espírito cruel do «salve-se quem puder», optemos por cultivar a amabilidade. Há pessoas que o conseguem, tornando-se estrelas no meio da escuridão. Esta amabilidade manifesta-se no trato, no cuidado para não magoar com as palavras ou os gestos, na tentativa de aliviar o peso dos outros. Esta amabilidade supõe dizer palavras de incentivo, que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam, em vez de vociferar palavras que só corrigem, humilham, angustiam, irritam, desprezam. Hoje, raramente se encontram tempo e energias disponíveis para nos determos a tratar bem os outros, para dizermos «bom dia», «com licença», «desculpe», «obrigado(a)». Contudo, de vez em quando, verifica-se o milagre de uma pessoa amável, que deixa de lado as suas preocupações e urgências para prestar atenção, oferecer um sorriso, dizer uma palavra de estímulo, possibilitar um espaço de escuta, no meio de tanta indiferença (cf. FT 222-224).

4. Consolemo-nos então uns aos outros, com uma chamada telefónica, uma prenda à porta ou no sapato, uma ajuda na ida às compras ou nos cuidados de saúde, uma mão pronta nos trabalhos de casa, um tempo de saudável companhia, uma mensagem de esperança. E porque não a oferta de uma máscara personalizada? Ou uma palavra que vá direta ao coração, com um sorriso ou um doce de Natal na mão?!

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