Liturgia e Homilias no XX Domingo Comum A 2020
Destaque

 

Depois de termos celebrado a mais perfeita realização da fé em Maria, somos convocados, mais uma vez, neste domingo, a louvar e a engrandecer a fé de uma mulher, de uma estrangeira, de uma libanesa, de uma pagã, ao concluirmos, precisamente hoje, a 48.ª Semana Nacional das Migrações. E, nesta mulher, o Senhor desafia-nos a acolher e a escutar o grito dos mais pobres, dos excluídos, dos estrangeiros, de modo que a família, a Igreja e o mundo se tornem verdadeira Casa comum, Casa de oração para todos os povos (cf. 1.ª leitura), para todos os filhos de Deus, que andam dispersos.

Homilia no XX Domingo Comum A 2020

 

1. O Líbano é notícia também no Evangelho deste domingo. Para lá do quadro negro e dos escombros da cidade de Beirute, vítima de uma trágica explosão, contam-se, todos os dias, pequenas histórias de vida, de amor e de salvação, que nos impressionam. E o Evangelho deste Domingo das Migrações, conta-nos esta bela e maravilhosa história de vida, de uma mulher, de uma mãe, de uma pagã, de uma libanesa, que pede a Jesus que lhe faça graça, que lhe manifeste a mesma ternura com que ela embala ao colo a sua filha. E é tal a insistência e a persistência, que esta libanesa consegue fazer implodir de compaixão o coração de Jesus, com uma verdadeira explosão de fé! É a «grande fé» desta mulher libanesa, que Jesus reconhece e que c0ntrasta com a pequena fé judaica de Pedro e a pouca fé dos discípulos de Jesus.

 

2. Com esta explosão de fé, esta mulher faz teologia feminina e acaba por derrubar o muro entre judeus e pagãos, de modo que uns e outros – os filhos judeus e os cachorrinhos pagãos – podem todos habitar juntos a mesma casa de oração e sentar-se à mesma mesa. Jesus – como percebemos – bem começou por resistir ao pedido da mulher, afirmando a sua identidade judaica, a sua pertença ao povo eleito, a supremacia de Israel sobre as outras nações. Mas a escuta atenta da história e do sofrimento daquela mulher venceu o «orgulho judeu» e rompeu todas as barreiras religiosas e políticas. Sem perder a sua identidade judaica, Jesus, que é afinal um deslocado dentro da sua terra, emigra para terra estrangeira, sem resvalar no nacionalismo e na xenofobia. Ele sabe que o sofrimento humano é uma experiência universal, um território sem pátria e sem fronteiras, por isso escuta, aproxima-Se e faz-Se próximo desta mulher estrangeira. Ele é a ponte que aproxima e une a todos, nesta Casa comum de oração, que é a Sua Igreja, «onde já ninguém é estrangeiro ou hóspede, mas todos são familiares de Deus(Gl 3,18).

3. A concluir esta Semana Nacional das Migrações, o Evangelho – que realiza a profecia anunciada por Isaías – e o testemunho missionário de Paulo, o Apóstolo das nações – são uma aplicação exemplar de meia dúzia de pares de verbos, que o Papa Francisco nos ensina a conjugar, para acolher, proteger, promover e integrar todos os filhos de Deus que andam dispersos. Na sua Mensagem para o Dia do Migrante e Refugiado (2020), centrada nos deslocados dentro da própria nação e nas vítimas da pandemia, o Papa sugere-nos estas ações concretas: conhecer a história de cada pessoa para a compreender; aproximar-se do outro para o servir; escutar para se poder reconciliar, partilhar para crescermos juntos, envolver para promover, colaborar para construir a Casa Comum, sem invejas, discórdias e divisões, de modo que ninguém fique de fora. Seja este o p(l)ano de fundo: “Todos família, todos irmãos”.

 

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