Homilia no XVII Domingo Comum A 2020 A | Dia dos Avós
1.Salomão é um jovem com o mundo inteiro nas mãos. Tem altos sonhos! Mas não aspira a uma longa vida, nem à riqueza, nem à morte dos inimigos. A Deus o jovem Salomão pede apenas o dom da sabedoria, um coração inteligente capaz de escutar, discernir e decidir, para bem governar o seu povo. Na verdade, os múltiplos saberes dos livros e os grandes poderes da ciência e da técnica não lhe bastam para se orientar na vida, para dirigir e segurar com firmeza o leme da barca que lhe é confiada. Esta sabedoria é a pérola e o tesouro do coração de Salomão.
2.Este pedido de sabedoria, feito assim por um jovem, traz-me à mente a pergunta: “Onde poderão os jovens de hoje encontrar esta reserva de sabedoria, para orientar a sua vida”? E a resposta surge espontânea, neste Dia dos Avós (26 de julho): “Queridos jovens: se quereis encontrar um guia de sabedoria para a vida, escutai, acolhei, deixai-vos guiar pelos sonhos dos avós, aprendei da sabedoria dos mais velhos”. Na verdade, “os anciãos têm sonhos construídos com recordações, com imagens de tantas coisas vividas, com a marca da experiência e dos anos. Se os jovens se enraízam nesses sonhos dos anciãos, conseguem ver o futuro, podem ter visões que lhes abrem o horizonte e lhes mostram novos caminhos” (CV, n.º 193). “Os anciãos são a reserva sapiencial do nosso povo” (Papa Francisco, Audiência, 4.11.2015). Eles são um tesouro. Por isso, diz um provérbio africano: “Quando morre um ancião arde uma biblioteca”. Então, os avós merecem ser ouvidos, com paciência, nas histórias que têm para nos contar. Elas requerem tempo, porque não cabem num tweet ou numa mensagem das redes sociais. Toda a sabedoria de que precisamos para a vida não se pode encerrar nos limites impostos pelos atuais recursos de comunicação. Que importa ter o google na ponta dos dedos e um GPS à mão se não sabemos de onde vimos, se não sabemos onde estamos, se não temos a sabedoria para encontrar a direção justa da nossa vida?!
3.É esta sabedoria que os avós poderão dar aos jovens. Aos jovens, que vivem num misto de ambições heroicas e de inseguranças, os avós podem recordar-lhes que uma vida sem amor é uma vida infecunda. Aos jovens temerosos, com medo das opções radicais e definitivas da vida, os anciãos podem testemunhar que a ansiedade frente ao futuro é vencida pela confiança em Deus. Aos jovens centrados em si mesmos, os anciãos podem ensinar-lhes que há maior alegria em dar do que em receber, e que o amor se demonstra com as obras.
4.Irmãos e irmãs: nestes últimos tempos de pandemia, nós pudemos alegrar-nos ao ver o enorme esforço da sociedade por proteger os mais velhos do risco de contágio da COVID-19. Mas, por outro lado, percebemos que são sobretudo os avós, os anciãos, as primeiras vítimas da solidão que o isolamento profilático lhes impôs. O prolongado fechamento dos centros de convívio e dos centros de dia são uma ameaça ao equilíbrio emocional, à saúde mental, com prejuízos de retrocesso dos idosos e de saturação das famílias. São tantos os avós que morrem aos poucos, não com o vírus, mas por causa do vírus: morrem, isolados nos lares ou confinados em casa, morrem de saudades dos filhos e netos, morrem de tristeza e de solidão! Temos de encontrar um equilíbrio entre a prevenção ou proteção e o cuidado e hospitalidade dos mais idosos, sob pena de estes não morrerem da doença mas da cura. Cuidemos dos idosos, que são um tesouro. Sem eles não têm futuro uma família, uma sociedade, uma civilização, porque deste modo se separariam das próprias raízes. E sem raízes não há frutos. Sem a memória, perde-se também a noção do presente e a direção do futuro.
5.Que o Dia dos Avós desperte em nós a gratidão, o apreço e a hospitalidade em relação aos avós, que têm tanto de memória, de sabedoria, de afeto, para nos dar. Vençamos a cultura do descarte com a alegria transbordante de um novo abraço entre gerações, sobretudo entre os netos e os avós! Os nossos votos de felicitações aos queridos avós! Vós sois o nosso tesouro! Sois o nosso futuro!