Liturgia e Homilias no XI Domingo Comum A 2020
Destaque

Somos um reino de sacerdotes, uma assembleia santa, um povo sacerdotal. Quando nos reunimos, em assembleia, para celebrar a Eucaristia, ativamos este sacerdócio comum dos fiéis, que recebemos de graça, no Batismo. Pelo Batismo, tornamo-nos membros deste Povo sacerdotal, que é chamado a fazer da sua vida um dom de amor, um sacrifício de louvor a Deus, pela salvação dos irmãos. Pelo Batismo, participamos deste sacerdócio de Jesus, unindo-nos, em Eucaristia, ao dom que Ele mesmo faz da Sua vida ao Pai por nós. Pelo Batismo, somos todos chamados pelo nome próprio, resgatados pelo mesmo amor e enviados em missão, para dar de graça aos outros, o que de graça recebemos do Senhor.

Homilia no XI Domingo Comum A 2020

 

1. Viajo por uma rotunda e leio num enorme outdoor esta frase, escrita em letras garrafais: “Ninguém pode ficar para trás”. O cartaz – já estais mesmo a ver – é de fundo vermelho e não está impresso em tons de amarelo e branco, as cores da bandeira do Vaticano. Parece, mas não foi mandado colocar pela Conferência Episcopal Portuguesa, nem tem a assinatura do seu verdadeiro autor, que é o Papa Francisco. Mas é um excelente desafio para toda a Igreja, para os cristãos em particular, para a nossa vida após a pandemia: “Não deixar ninguém para trás”. Agora, enquanto pensamos numa recuperação lenta e fadigosa da pandemia, é precisamente este perigo que se insinua: esquecer quem ficou para trás.

 

2. Ninguém pode ficar para trás.Não é outro, aliás, o mandato de Jesus. Cheio de compaixão pelo Seu povo, Jesus envia os Doze para fora do adro do templo e da sinagoga; envia-os pelos caminhos tortuosos da Palestina. A missão é ir à procura das ovelhas perdidas, dos que ficaram para trás. É preciso proclamar a todos que está perto o Reino de Deus, ali mesmo onde a fragilidade nos humaniza, fraterniza e diviniza, através da caridade, ali mesmo onde o amor de Deus se traduz em proximidade, vizinhança, partilha da dor. Este não é o tempo de ter mais pressa de chegar ao templo do que compaixão para curar quem foi atirado para a valeta. É preciso, ontem como hoje, expulsar os demónios do medo, do egoísmo, da indiferença, que continuarão a ameaçar e a tentar o nosso caminho... O risco é que nos atinja um vírus ainda pior: o da indiferença egoísta. Que esta crise da pandemia nos encontre com os anticorpos da justiça, da caridade e da solidariedade.

 

3. É c’ovidizer [= É que ouvi dizer] que há cristãos muito ciosos de garantir o seu lugarzinho na Missa. Compreendo o desejo e a saudade. E sei quanto esta faz falta, “para animar a malta” e dar-nos maior vigor missionário. Mas os cristãos deste tempo não darão testemunho da compaixão de Cristo, entretendo-se a discutir se é mais digno comungar pela boca ou na mão, discutindo se têm direito à Eucaristia já hoje ou só amanhã, se têm lugar reservado na sua igrejinha ou não. Quero repetir a estes irmãos e irmãs: o trabalho belo, que nos alimenta e nos torna saudáveis, espera-nos lá fora.Aproveitemos a falta de lugares onde nos sentarmos na Igreja, para nos levantarmos e sairmos “pelos caminhos”, para nos comovermos até às entranhas, para nos aproximarmos dos que andam fatigados e abatidos, para darmos a mão aos que ficaram para trás.

 

4. Quem são hoje os que ficam para trás? Os que não têm a velocidade necessária da net e de um computador para estudar e trabalhar; os que não têm emprego ou salário adequado para garantir o necessário; os que não têm idade e capacidade para se adaptar a novos desafios; os que são relegados ou substituídos nas longas listas de espera dos cuidados de saúde; os pobres e humildes, que não têm onde se encostar; os que sofrem sozinhos o luto e os abandonados; os que não trepam por cima dos outros para conquistar um lugar «ao sol». Não os deixemos ficar para trás. Ide primeiramente ao encontro destas ovelhas perdidas dos nossos olhares.

 

5. Irmãos e irmãs: esta crise pandémica deixa-nos um lastro de miséria, face à qual os cristãos se devem fazer bons samaritanos, testemunhas da compaixão de Cristo, missionários da caridade concreta, próxima e vizinha. Transformemos as nossas Paróquias em hospitais de campanha e não apenas em lugares de um culto, às vezes intermitente, ou de uma catequese, se possível passageira. Ponhamos o foco nos pobres e dêmos testemunho da caridade, num trabalho em rede e em sinergia com outras instituições no terreno. Testemunhemos um amor criativo, que se levanta e sai pelo caminho, ao encontro dos confinados na sua miséria, que vai até onde a família e o Estado não chegam, para que ninguém, ninguém mesmo, fique para trás.

 

Para isso, para que ninguém fique para trás, é preciso que cada um de nós, sem exceção, se chegue à frente e ponha pés ao caminho!

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No sábado, dia 13, ou no caso de se celebrar neste fim de semana a festa em honra de Santo António pode ser oportuna, na homilia, uma referência a Santo António, a partir das palavras do Papa Francisco aos Frades Menores Conventuais (cf. neste guião, pp-9-10). Este breve texto pode substituir o ponto 5 da nossa proposta de Homilia.

 

  1. É necessário aprender de Santo António a “ver o Senhor” no rosto de todos os irmãos e irmãs, oferecendo a todos consolação, esperança e oportunidades para conhecer a Palavra de Deus, sobre a qual assentar a própria vida.
  2. Que o exemplo de Santo António, de partilha das dificuldades das famílias, dos pobres e dos desfavorecidos, bem como a sua paixão pela verdade e pela justiça, possa, ainda hoje, despertar um generoso compromisso de entrega, em sinal de fraternidade, para que ninguém fique para trás.
  3. Que permaneça em nós o desejo de experimentar a mesma santa inquietação que levou Santo António pelos caminhos do mundo a testemunhar, com a palavra e as obras, o amor de Deus.

 

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