Homilia no V Domingo da Páscoa C 2019
“E contaram como Deus abrira aos gentios a porta da fé” (At 14,27). O Papa Francisco define a Igreja «em saída» como uma “Igreja de portas abertas” (cf. EG 46-49): abertas para que todos possam entrar; abertas para que todos ousemos sair. Permitam-me que hoje reflita convosco apenas na 1.ª parte: uma comunidade de portas abertas, para que todos possam entrar.
1.Todos são bem-vindos na Igreja, que é chamada a ser “a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas de portas abertas” (EG 46; 47)e, por isso, criámos um grupo aberto, com esse nome e essa missão.
2. Impõe-se-nos, porém, um exame de consciência para avaliar a nossa capacidade e prática de acolhimento a quantos nos batem à porta. As chamadas periferias existenciais estão todos os dias a entrar-nos pela porta dentro e não vale a pena ter um grande impulso para se fazer ao mar se não se cuida bem das pessoas em terra, na nossa terra. E isso começa por um acolhimento franco e aberto a quem regressa, de modo que cada pessoa se sinta na Igreja como em sua própria casa:
2.1.Precisamos de acolher quem desertou e voltou; acolher quem se perdeu e se reencontrou; acolher quem descobriu a necessidade da comunidade e só agora nos procurou; acolher quem se lembrou da Igreja apenas quando precisou ou que por aqui passou num momento mais duro ou obscuro da sua vida. Criar a confiança, para que uma pessoa possa dizer-se, mesmo nos aspetos que considera mais vergonhosos, inadmissíveis e condenáveis, e saber acolhê-la na sua humanidade, sem juízos nem condenações, é uma missão pastoral tão necessária como vital. Valorizemos o carisma da escuta, a pastoral do ouvido, a atenção concreta e paciente a cada pessoa.
2.2.Saibamos acolher, com generosidade e exigência, quem nos bate à porta, para pedir uma ajuda, um papel, uma informação, uma bênção, um sacramento, um serviço. É preciso ouvir as pessoas, dialogar com elas, não como quem enfrenta um duelo, mas como quem convida para um dueto. Precisamos de aprender a cavar e a escavar nas pessoas um espaço novo, para que elas possam receber mais do que aquilo que porventura nem sabem que estão a pedir.
2.3.Não tenhamos medo de perder o nosso lugar cativo, para dar lugar a quem chega. Os fiéis praticantes e os servidores da comunidade nem sempre estão recetivos aos mais novos, de modo a acolhê-los, integrá-los, comprometê-los, para que se sintam em sua casa! Precisamos de abrir portas e janelas no nosso coração, transformando a hostilidade em hospitalidade, a desconfiança em abertura.
2.4.A hospitalidade deve alcançar também os mais distantes, especialmente os imigrantes.Na nossa Paróquia vamos criar um grupo de acolhimento aos imigrantes. Mas precisamos também de melhorar o acolhimento nas celebrações do Batismo, da Eucaristia, do Matrimónio, das Exéquias, onde são tantos os convidados que estão cá dentro, como se estivessem lá fora, para que possam encontrar entre nós um ambiente familiar, o seu próprio lugar.
2.5. Mas esta hospitalidade deve ir para além da porta de entrada ou de saída. Precisamos de cristãos no seu próprio terreno de missão, capazes de acolher com humildade os desabafos, os protestos e até as críticas de quem se sente ferido ou magoado pela Igreja, derrubando muros e construindo pontes de diálogo e de aproximação. Precisamos de “pessoas-soleira, nas salas de espera, nas saídas da escola, nos centros comerciais, fora dos espaços paroquiais” (Dom Carlos Azevedo). Precisamos de cristãos em condições de ser guias hábeis e amorosos nestas difíceis transposições de fronteiras, que ocorrem diariamente na vida das pessoas.
3. Acolher no amor, por amor e com amor, é o primeiro passo que devemos dar, para abrir aos gentios a porta da fé. Que a nossa comunidade seja, à imagem de Maria, “uma Mãe de coração aberto” (EG 46;47), onde cada um se torna uma “porta que mora à espera” (Daniel Faria), para que todos possam dizer com verdade: “A porta da fé está sempre aberta para nós” (At 14,27; cit. Bento XVI, Porta fidei, n.º 1)!
Homilia na Missa com a Catequese | V Domingo da Páscoa C 2019
1. Ao longo deste ano, temos dito aqui muitas vezes, que todos nós, pelo Batismo, nos tornamos discípulos missionários (EG 120). Nem sempre é fácil perceber o que significa isto de ser discípulo de Jesus. Teoricamente, sabemos bem o que é ser discípulo: é escutar e seguir Jesus.
2. Mas hoje Jesus ajuda-nos e diz-nos, de modo muito concreto, como é que os outros, os que não têm fé, nos vão identificar, como Seus discípulos: “Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Não se trata de amar ao nosso jeito, ou de amar quando e como nos apetece, ou de amar apenas aqueles de quem gostamos, ou de amar por um certo tempo. Jesus desafia os seus discípulos a amar “como Ele” nos amou. Trata-se, portanto, de um amor concreto, atento, próximo, um amor capaz de se dar e de perdoar, um amor capaz de suportar todas as tribulações, de superar todas as dificuldades. Trata-se de um amor que não é instantâneo nem momentâneo. É um amor que dura e perdura, que permanece e não desaparece. Trata-se, sobretudo, de um amor que vai até ao extremo de dar a vida pelos amigos. É um amor que vai até ao fim. E, não menos importante, é um amor a todos, um amor por todos, mesmo por aqueles de quem não gostamos tanto ou que não gostam assim tanto de nós. Portanto, o amor não é apenas um sentimento. Este amor é um mandamento. É como que uma “ordem” que nasce de dentro do nosso coração e nos leva a amar como Jesus ama, a amar todos aqueles que Jesus ama.
3. E nós só poderemos viver assim este amor? Será possível? Sim. Será possível se primeiro nos deixarmos amar por Jesus e se deixarmos que este amor de Jesus alcance, atravesse e renove o nosso coração. Não podemos amar como Jesus sem ter primeiro Jesus no nosso coração.
4. Há dias (6 de maio de 2019) o Papa Francisco, em viagem à Bulgária, encontrou-se com as crianças da 1.ª Comunhão e disse-lhes, de maneira simples, o que nos identifica como discípulos de Jesus. Disse o Papa: “O nosso cartão de identidade é este: Deus é nosso Pai; Jesus é nosso Irmão; a Igreja é a nossa família; nós somos irmãos e amigos; a nossa lei é o amor. Assim, o nosso sobrenome é o de cristãos”.
5. Nestes dias do mês de maio, olhemos mais para a figura de Maria, a Mãe de Jesus. Ela é a primeira discípula de Jesus. Ela é o rosto mais belo da Igreja. Ela é a Mãe do amor formoso. Ela deixou-Se envolver de tal modo pelo amor de Deus, que foi possível que Jesus enchesse e preenchesse todo o seu coração e toda a sua vida. Ela tornou-Se “a morada de Deus com os homens”. Que Ela nos ajude a ter um coração aberto a todos, onde há uma porta sempre aberta, para quem bater à porta e quiser entrar. O código de acesso, com quatro letras apenas, já é conhecido. A palavra-passe é «amor». Creio que isso nos basta! Porque o amor basta ao amor.
Homilia na bênção dos noivos | V Domingo da Páscoa C 2019 | 19h00
1. Tudo é novidade, na Palavra deste Domingo. Na 1.ª leitura, a Igreja nascente inova e renova-se, cada dia, com novos discípulos, novos ministérios e abre também aos gentios a porta da fé. Na 2.ª leitura, que nos projeta já na Igreja do futuro, é novo o céu, é nova a terra, a tal ponto que o encontro entre Deus e o Seu Povo é comparável ao de uma noiva, que caminha, bela e adornada para o seu esposo (Ap 21,2). Vede bem: o encontro definitivo de Deus com a humanidade é um encontro nupcial, é uma festa de casamento, em que Aquele Jesus, que um dia transformou água em vinho novo, nas núpcias em Caná da Galileia, transformará todas as coisas, para que não haja mais morte, nem gemidos, nem dor, mas apenas a alegria do amor sem fim. No Evangelho, é também novo o mandamento que Jesus confia aos discípulos: “Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos uns aos outros” (Jo 13,35).
2. Fixemo-nos então neste testamento vital de Jesus, que é o mandamento novo do amor. Onde está afinal a novidade deste mandamento? O que é novo neste amor? Não se trata aqui de amar ao nosso jeito, mas de amar “como” Jesus amou. Não se trata de amar quando e como nos apetece, mas de amar, em Jesus, todos aqueles que Jesus ama; não se trata de amar, em parte e por um certo tempo, mas de amar, de corpo e alma, como Jesus, e até ao fim. Jesus desafia os seus discípulos a amar “como Ele” nos amou. Nem tampouco nos basta a regra de ouro, que insiste apenas em amar os outros como a si mesmo. Porque aqui a medida do amor já não sou eu. Aqui a medida é Jesus. Aqui a medida é sem medida. Aqui o amor é puro, radical, incondicional, assimétrico, sem retorno. Aqui o amor é até ao fim e obriga-nos a ter sempre como referência o Senhor Jesus e o seu modo de viver, dando a vida por amor, para sempre e para todos.
3. Trata-se, portanto, de um amor concreto, atento, próximo, um amor capaz de se dar e de perdoar, um amor capaz de suportar todas as tribulações, de superar todas as dificuldades, o tédio e o cansaço. Trata-se de um amor, que não é instantâneo nem momentâneo. É um amor que dura e perdura, que permanece firme e não desaparece com o vento do tempo. Trata-se, sobretudo, de um amor que vai até ao extremo de dar a vida. Portanto, o amor não é aqui apenas um sentimento. Este amor é um mandamento. É como que uma “ordem” que nasce de dentro do coração e nos leva a amar como Jesus ama.
4. Este amor é possível? Nós, contando apenas com as nossas próprias forças e recursos, com a nossa boa vontade e os belos sentimentos, poderemos viver assim este amor? Sem Jesus, não é possível. Sem Ele, nada poderemos fazer (Jo 15,5). Então como é possível ousar um amor assim? Será possível se primeiro nos deixarmos amar por Jesus e se deixarmos que este amor de Jesus nos alcance, se atravesse e renove o nosso coração, dilatando-o para este amor sem medida. Não podemos amar como Jesus amou, sem deixar que Jesus entre no nosso coração e nos torne capazes deste amor. Amar como Jesus nos amou não é apenas um desafio de imitação, mas implica participação íntima no seu amor por nós. Invocai constantemente o Espírito Santo, para que derrame em abundância o amor de Deus nos vossos corações.
5. Nestes dias do mês de maio, olhai sempre mais para a figura de Maria, a Mãe de Jesus. Também Ela se interrogava “como será isto possível” (Lc 1,34). E ela mostrou-nos que “a Deus nada é impossível” (Lc 1,37), ou dito de outro modo, que, pela graça de Deus em nós, é possível alcançar o seu amor. Maria é, por isso, a Mãe do amor formoso. Ela deixou-se envolver de tal modo pelo amor de Deus, que Jesus encheu e preencheu todo o seu coração e toda a sua vida. Ela tornou-se “a morada de Deus com os homens” (Ap 21,3). Ela, que intercedeu pelos esposos recém-casados, nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11), vos ajude, vos inspire e vos guie, para terdes um coração sem mãos a medir, um coração onde há uma porta sempre aberta, para o outro entrar e ocupar o seu lugar. Entregai um ao outro o código de acesso, para abrir a porta do coração. A palavra-passe é simplesmente esta do «amor». Creio que isso vos basta! Porque o amor basta ao amor!