Homilia no III Domingo Comum C 2019
O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele me ungiu para anunciar a Boa Nova!
1.“Eu sou uma missão na minha terra”, podia ter dito Jesus em Nazaré. “Para isso vim a este mundo, e estou na minha terra, marcado a fogo pelo Espírito Santo, que me ungiu, para esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar” (cf. EG 273). Não é que a vida de Jesus tenha uma missão. A sua vida inteira é uma missão. Na sua missão, Jesus impressiona, porquanto n’Ele não há separação entre o anúncio e a Pessoa, entre a Palavra escutada e a Palavra anunciada, entre a Palavra proclamada e a Palavra vivida. A Palavra torna-se, em Jesus de Nazaré, acontecimento! Cumpre-se inteiramente n’Ele! Por isso, a multidão pode escutá-l’O, com os olhos. “Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga” (Lc 4,20). Jesus é, para os seus ouvintes, a Palavra que se faz ver, antes mesmo de ser a Palavra que se faz ouvir! Jesus, que percorre toda a região e ensina nas sinagogas, é também a Palavra que sai de sua casa e atravessa as estradas do mundo, em missão, passando pela sua própria terra!
O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele me ungiu para anunciar a Boa Nova!
2.Queridos irmãos e irmãs: todo o cristão, precisamente pela unção, recebida no Batismo e na Confirmação, deverá aplicar a si mesmo estas palavras de Jesus, com o mesmo sentido: “Eu sou uma missão na minha terra. Para isso estou neste mundo, marcado a fogo pelo Espírito Santo, para esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar” (cf. EG 273). Somos chamados a ser evangelizadores. E não meros comunicadores, publicitários, uma espécie de palradores ou propagandistas de mensagens religiosas. Não. Somos chamados a ser evangelizadores com espírito, pessoas “que se abrem, sem medo, à ação do Espírito Santo”, que nos faz sair de nós mesmos, que nos transforma em anunciadores das maravilhas de Deus, que infunde em nós a força para anunciar o Evangelho com ousadia, em voz alta, e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente; enfim, “evangelizadores que anunciam a Boa Nova, não só com palavras, mas sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus” (cf. EG 259). Antes do que dizemos aos outros, esteja o que eles podem ler, ver, ouvir, cheirar e tocar em nós: a alegria da nossa fé, o Espírito de Jesus vivo e ativo em nós.
O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele me ungiu para anunciar a Boa Nova!
3.Quantas vezes vemos a missão como uma obrigação pesada, um biscate, uma tarefa, um part-time. Ora “a missão não é uma parte da minha vida, ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser se não me quero destruir” (EG 273).Não há nova evangelização se não houver este novo ardor, se o nosso coração não arder naquela paixão com que São Paulo exclamava: «Ai de mim, se não evangelizar» (1 Cor 9,16). Podemos realizar muitas iniciativas, lançar muitas propostas, sair para a rua, mas se cada um, na sua casa, no seu lugar, no seu emprego, nos lugares comuns da vida, não deixar arder esta chama da fé que se apega, não conseguiremos praticamente nada e tudo se apagará, no final da festa ou do evento. Nenhuma nova técnica ou método serão suficientes para relançar, entre as nossas gentes, uma missão mais ardorosa, alegre, ousada, feita de vida contagiante,“se não arder nos corações o fogo do Espírito” (EG 261). Só assim, ungidos do Espírito Santo, dos pés à cabeça, da cabeça ao coração, do coração às mãos e até à medula dos ossos, é que poderemos ser discípulos missionários.Em suma, uma evangelização com espírito é uma evangelização com o Espírito Santo. Invoquemo-l’O, para que nos cure do medo paralisante e da acomodação. Que o Espírito Santo “nos ilumine, guie, dirija e impulsione para onde Ele quiser” (EG 280). E quer mesmo que comecemos pela nossa terra!