Homilia no XXXI Domingo Comum B 2018
Todos discípulos missionários! Todos! E com tudo: “com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças” (Mc 12,30; Dt 6,4-5).
1.São quatro dimensões, para vivermos um amor inteiro, um amor em todas as direções; um amor sem medida, que atravessa o corpo e a alma, que vai da cabeça aos pés e dos pés às mãos, até sair de si e encontrar a outra face de Deus no rosto do irmão. Aqui está, portanto, o que distingue um discípulo de quatro costados de um voluntário a prazo: a sua totalidade, a inteireza do seu ser! Não se pode mais ser discípulo de Jesus a meio gás, a meio-termo, ou da boca para fora! O verdadeiro discípulo, que se distingue pelo amor aos outros (cf. Jo 13,34; LG 42), não conhece meias-medidas, mas o amor sem medida! Seremos então todos discípulos se formos todos de Deus e todos do Seu povo, se formos inteiros. O poeta Fernando Pessoa deixou-nos este belo poema: “Para ser grande, sê inteiro. / Nada Teu exagera ou exclui. / Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / no mínimo que fazes. / Assim em cada lago a lua toda brilha / porque alta vive” (Odes de Ricardo Reis). Na verdade, para chegar a esta medida alta da vida cristã, “o Senhor pede tudo! E, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados” (GE 1). Se quisermos dizer isto de outra forma, então “para o Senhor, ou tudo ou nada! Ou a santidade ou nada” (Papa Francisco, Angelus, 1.11.2018)!
2.Mas este “tudo ou nada”, não define apenas a condição do discípulo, que não pode seguir a Cristo, apenas com alguma coisa de si e de seu! O tal discípulo missionário de quatro costados assume a sua vida inteira como missão, com tudo o que é, com tudo o que tem. Por isso, o lema do Ano Missionário em Portugal comporta este desafio: “Todos, tudo e sempre em missão”. Na verdade, o amor de Cristo move-nos e absorve-nos completamente (cf. 2 Cor 5,14), de tal modo que “a missão não é uma parte da minha vida, ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entretantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir” (EG 273). A missão é algo gravado no mais íntimo do meu ser, como se fora dela todo o meu ser se esboroasse por completo. É mais ou menos isso que diz São Paulo, na expressão: “Ai de mim se não evangelizar” (1 Cor 9,16), que é como quem diz: “Ai de mim, queme esfrangalho em bocados… se não anunciar o Evangelho”!
3. Irmãos e irmãs: quantas vezes pensamos a nossa vida cristã ou a missão, como uma ajuda voluntária à Igreja, durante uma(s) horita(s) por semana,em regime de part-time, ou como um biscate pastoral, ou como um passatempo piedoso. Quantas vezes pomos, de um lado a vida privada, e de outro a tarefa missionária, dividindo-nos por dentro e por fora. Ora o desafio pastoral "Todos discípulos missionários" implica também a unidade e a inteireza de todo o nosso ser, com todo o nosso amar e pensar, todo o nosso sentir e agir. Na missão, que é a própria vida, não há lugar para intervalos, para contratos a prazo, porque esta é sempre e somente um “trabalho de amor” (1 Ts 1,3) sem termo e sem condições!
4.Quase me apetecia terminar esta homilia, com aquele "éfe-érre-á", aquele grito académico, em jeito de saudação, de honra, ou de mera manifestação de alegria: “E para o Senhor Jesus não vai nada, nada, nada, nada”? E a resposta em coro é: “Tudo”. E insistamos então: “Mas mesmo nada, nada, nada, nada”? E o coro repete: “Tudo”. Esta é precisamente a máxima do discípulo missionário de quatro costados: “com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças”.Para sermos então “todos, tudo e sempre em missão”.