Homilia na Comemoração de Fiéis Defuntos 2018
1. Ao longo deste ano pastoral, aqueles que nos têm acompanhado, sabem qual é a nossa divisa: “Todos discípulos missionários”! Neste dia da comemoração de todos os fiéis defuntos, é oportuno lembrar que uma das periferias da missão, sobre a qual é preciso fazer incidir, hoje mais do que nunca, a luz do Evangelho, é precisamente esta sombria região da “morte”: morte negada ou iludida em lutos proibidos; morte diluída na dispersão das cinzas pelo ar, na terra, ou pelo mar; morte escondida às crianças, como algo de impuro e indecente; morte dissimulada ou escamoteada em novas cosméticas de defuntos; enfim, uma morte marginalizada, sem lugar em nossa casa, que acabou por ser expulsa para fora do mundo dos vivos! Eis-nos perante a morte não aceite, não integrada, não assumida, que deixa vazio de esperança o sepulcro. Sem tempo nem espaço para pensar e viver a morte, sem Deus e sem esperança no mundo (Ef 2,12), a morte aparece aos olhos de muitos como um beco sem saída, que é preciso implodir e fazer desaparecer, o mais depressa possível, na moderna cremação, sem deixar rasto nem restos na memória humilhada do nosso orgulho. Ora, quando não se quer assumir a morte, não se pode sequer esperar a ressurreição. Por isso, hoje mais do que nunca, o discípulo missionário tem de descer como Jesus à mansão dos mortos, para aí evangelizar a morte, com a luz nova da ressurreição. Somos chamados então a tornarmo-nos hoje todos discípulos missionários da esperança!
2. Com efeito, o cristão não é um profeta da desventura. É “um missionário devorado pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida” (cf. GE 138). A essência do anúncio do Evangelho é Jesus, morto por amor, e que Deus ressuscitou na manhã de Páscoa. É este o núcleo da fé cristã. Se os Evangelhos se tivessem interrompido com a sepultura de Jesus, a história deste profeta iria juntar-se à de tantas biografias de personagens heroicos que deram a vida por um ideal. Neste caso o Evangelho seria um livro edificante, até consolador, mas não um anúncio de esperança.Felizmente a história de Jesus não acaba na Sexta-Feira Santa, vai muito mais além. Jesus ressuscita! Este facto inesperado inverte e subverte a mente e o coração dos discípulos. Porque Jesus não ressuscita só para Si, como um herói solitário: eleva-Se ao Pai, porque nos quer levar e elevar com Ele; não Se quer sozinho na glória, mas deseja que a sua ressurreição seja comunicada a cada ser humano, de modo que arrebate para o coração de Deus todos os seus filhos.
3. Sejamos, pois, missionários da esperança, anunciadores da ressurreição, não só com palavras, mas com o testemunho da nossa própria vida reencontrada, alcançada e transformada por Ele! Jesus não nos quer discípulos a repetir fórmulas aprendidas de cor. Deseja testemunhas da ressurreição, pessoas que propaguem a esperança, com o seu modo de acolher, de sorrir, de amar. Principalmente de amar, porque a força da ressurreição torna os cristãos capazes de amar mesmo quando parece que o amor perdeu as suas raízes e razões. O amor é a ponte que une o finito e o infinito, o passado, o presente e o futuro; mais forte do que a morte é o amor de Deus, que nunca acaba(1 Cor 13,8).
4. Por isso, o verdadeiro discípulo missionário não é lamuriento nem triste, não tem cara de vinagre, nem cara de funeral (EG 85;10), mas é alguém com um pedaço de Céu a mais em cima da cabeça, alegre e convicto. Ele sabe e anuncia que, pela força da ressurreição, a última palavra sobre nós não pertence à morte, mal algum é infinito, noite alguma é sem fim, pessoa alguma está definitivamente perdida, ódio algum é invencível pelo amor! Em Cristo ressuscitado podemos esperar!
5. Na boca do discípulo missionário da esperança ressoará sempre este anúncio fundamental: «Jesus Cristo ama-te, deu a Sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias, para te iluminar, fortalecer, libertar» (EG 164), até que a tua vida, seja consumada na morte, para se reencontrar, inteira e plenamente renovada na d’Ele. A nossa esperança tem nome de Ressurreição e garantiade pessoa. A nossa esperança chama-se Jesus Cristo, morto e ressuscitado por ti.
Nota: Parte da homilia é inspirada em Papa Francisco, Audiência, 04.10.2017