Homilia no XXX Domingo Comum B 2018
1.Mais um “sentado” à beira do caminho! Tem nome, Bartimeu, de pai conhecido, mas é cego e mendigo! Está sentado, mas não estacionado! Não vê, mas ouve! O desejo de cura põe-no aos gritos, como quem procura Jesus, pedindo misericórdia, um pouco de colo, uma carícia, um olhar, um afago, um embalo do coração. Muitos querem calá-lo. E Jesus passa e, quando Ele passa, tudo se transforma. Jesus manda-o chamar. Manda-o chamar precisamente através daqueles que o queriam calar, e que assim se tornam porta-vozes da sua vontade. A multidão de “censuradores” torna-se então um grupo de interlocutores, de animadores, de encorajadores: “Coragem, levanta-te que Ele chama-te”. Os que inicialmente impediam o cego de chegar a Jesus, convertem-se agora em mediadores, em facilitadores do encontro com Cristo.
2.E então dá-se um encontro pessoal entre Cristo e o cego. O cego, que quer ver, larga a capa do passado onde escondia as esmolas, e pede a Jesus: “Mestre que eu veja” (Mc 10,51). E Jesus não diz “Vê” (Lc 18,40), como era de esperar, mas diz-lhe simplesmente “Vai” (Mc 10,52), faz-te ao caminho, segue-Me. E ele, iluminado pela luz daquele novo olhar da fé, seguiu Jesus pelo caminho, com um novo horizonte, um rumo decisivo (cf. DCE 1). Assim Jesus acaba de dar à luz um discípulo! Este é o caminho luminoso do discípulo: ele reconhece a sua cegueira, anseia pela cura e procura Jesus, sem cessar; deixa-se encontrar por Ele, para depois o seguir pelo caminho, numa “intimidade itinerante” (EG 23).
3.Mas aqui está também a conversão de uma comunidade inteira, que não pode ser um grupo de eleitos que olham para si mesmos (EG 28), ou um grupo de murmuradores e desmoralizadores, que incutem desânimo e marginalizam quem porventura anda à procura de uma luz e se aproxima de Cristo. Todo o discípulo, chamado por Jesus, é chamado a chamar outro, a abrir caminho para outro, no mesmo caminho que faz com Jesus.
4.Que queremos afinal nós ser? Discípulos cegos e encobertos pela capa negra dos nossos interesses ou discípulos revestidos e iluminados pela luz de Cristo? Que queremos afinal nós ser? Discípulos estacionários, paralisados e paralisadores, ou discípulos missionários, irradiadores e mediadores da luz do Evangelho? Que queremos afinal nós ser? Uma comunidade surda, muda e cega, fechada e paralisada sobre si mesma, ou uma comunidade que atrai pela beleza e pela alegria, que sai ao encontro de quem anda à procura, que chama da periferia para o encontro com o Senhor, que toma a dianteira e convida, que envolve, anima, acompanha e encoraja?
5.Irmãos e irmãs: pelo Batismo, tornamo-nos filhos da luz (Ts 5,5).Não fomos iluminados (cf. Heb 10,38)para guardar a luz de Cristo na sombra dos nossos medos e preconceitos. Mas para ser luz (Ef 5,8)e fazer brilhar a luz sobre todos os outros, a começar pelos que estão nas periferias do Caminho!
Pode concluir-se com esta oração, feita pelo Presidente ou por um leitor.
«Ó Senhor, dá-me a Tua luz para que veja o Teu amor.
Dá--me um coração para amar-Te,
dá-me olhos para ver-Te,
dá-me ouvidos para escutar a Tua voz,
dá-me lábios para falar de Ti,
dá-me o gosto de saborear-Te,
dá-me o olfato para cheirar e exalar o Teu perfume,
dá-me mãos para tocar-Te
e dá-me pés para seguir-Te».
Bispo Tichon, 1783