Homilia no XXVIII Domingo Comum B 2018
1. Todos discípulos missionários! É o lema deste Ano Missionário, em resposta ao mandato de Jesus: “Ide, e de todas nações, fazei discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo quanto vos ensinei” (Mt 28,19-20). Mas o Evangelho deste domingo ajuda-nos a perceber que é bem mais fácil batizar e ensinar do que “fazer discípulos”. É mais fácil organizarmo-nos para a celebração dos sacramentos e para a catequese do que fazer discípulos, isto é, do que formar pessoas que se deixem olhar, encontrar, encantar, apaixonar e comprometer com Jesus, identificando-se com Ele, configurando-se a Ele. Porque o discípulo de Jesus não é um bom aluno que escolheu a melhor escola e os melhores mestres, de entre aqueles que mais admira, e depois segue as suas ideias, a sua filosofia, a sua moral. Não.
2.“No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa [Jesus Cristo], que dá à vida um novo horizonte e um rumo decisivo” (DCE 1). Não é possível fazer discípulos sem proporcionar a alegria e a beleza deste encontro, seja na oração pessoal ou comunitária, seja na escuta e meditação da Palavra de Deus, seja na beleza de uma celebração, seja no enc0ntro com o rosto ferido de um irmão. Para chegar a ser discípulo, não basta ouvir um ensinamento, obedecer a um mandamento. É preciso deixar-se seduzir e amar pelo olhar de Jesus, deixar-se encontrar e enamorar por Ele. Sem este encontro, poderemos chegar a ser admiradores, mas não seguidores, que se identificam com Jesus, pobre, manso e humilde de coração! Sem este encontro com Jesus, podemos angariar alguns generosos voluntários, dispostos a realizar tarefas na missão da Igreja, mas não discípulos missionários do Senhor, capazes de deixar tudo por Ele e pelo seu Reino.
3. Irmãos e irmãs: um menino de bem, um rapaz bem-educado, um jovem bem na vida, moralmente irrepreensível, busca a plenitude do significado da vida, admira Jesus, está disposto a cumprir todos os mandamentos e a fazer tudo por tudo… e todavia, nem o olhar intenso, repleto de ternura e carinho, com que Jesus o fixou e amou, foram bastantes para se deixar esvaziar do que lhe pesava no coração e conhecer a verdadeira alegria. E em vez do encontro com a pessoa de Jesus, que dá à vida um novo horizonte e um rumo decisivo, há um desencontro, uma vocação falhada, a esperança frustrada de um discípulo. Porquê? Porque tinha muitos bens!
4.Jesus não aceita ser o tapa-buracos de qualquer coisa que queremos somar. É preciso que aquele jovem se comece a esvaziar das suas conquistas e dos seus projetos que o levam a ficar fechado sobre si mesmo e prisioneiro do sucesso, enredado no labirinto da competição. Jesus pede ao jovem não a admiração, mas a reconfiguração de toda a sua existência. É uma chamada de valor acrescentado, a arriscar, a perder o adquirido, a confiar, não na segurança dos bens materiais, mas em Deus, o único Bem, o único Bom! Mas ele retirou-se triste como a noite.
5. E nós também ficamos tristes. E, com aquele olhar pensativo de Jesus, começamos a compreender melhor o fracasso da nossa catequese, da nossa pastoral juvenil, da nossa pastoral vocacional. Quantas pessoas já conhecemos, ricas em bens e ricas em qualidades humanas, cheias de sonhos e de grandes ideais, mas que, por causa dos seus apegos, não chegaram a encontrar-se e a identificar-se com Jesus, a reconfigurar a sua vida, a esvaziar-se do que têm, para se deixar preencher pela alegria do encontro com o Senhor. Mas também nós, cada um de nós, somos chamados, hoje, a pôr os olhos no olhar amoroso de Jesus, para vermos bem o que nos pesa, prende ou bloqueia, o que nos impede, o que ainda nos falta – e talvez nos falte o mais importante – para chegarmos a ser seus discípulos! Lembrai-vos disto: só um discípulo pode “fazer” outro discípulo!