Homilia no XXV Domingo Comum B 2018
“Todos discípulos missionários” é o lema do novo ano pastoral. O Papa Francisco não distingue “discípulos e missionários”. Porquê?
1. Porque é que não se pode ser discípulo sem ser missionário? O discípulo é aquele que se deixou seduzir, encontrar e encantar pelo Senhor, escutando-O, seguindo-O no caminho da Cruz, recebendo-O e servindo-O nos mais pequeninos. Ora, o discípulo que se deixou encontrar por Jesus, não pode jamais calar a alegria que brota desse encontro, não pode guardar só para si a experiência do amor recebido. Seduzido pelo amor de Cristo, é impelido a irradiar e a contagiar os outros com a alegria da sua fé. E, por isso, o discípulo torna-se necessariamente missionário, arauto e testemunha, humilde servidor da alegria do Evangelho.
2. E porque é que não se pode ser missionário sem ser discípulo?Pensemos o que se diria do discípulo missionário se este pretendesse anunciar e testemunhar Jesus, sem voltar constantemente ao encontro com Ele, sem frequentar a escola da humildade e do serviço, sem se tornar um contínuo discípulo, aprendiz e companheiro do Mestre? O discípulo que não segue Jesus, como um caminheiro desinstalado, não é um missionário, mas um ilusionista ou um propagandista da fé, um mercenário por conta própria. Na verdade, não podemos ter encontrado Cristo, não podemos seguir e servir o Senhor, como discípulos, se não O anunciarmos e proclamarmos aos outros, como missionários. Portanto, “não digamos mais que somos «discípulos» e «missionários», mas sempre que somos «discípulos missionários»” (cf. EG 120).
3.“Todos discípulos missionários”. Não se diz “todos voluntários”, como se na Igreja fôssemos uns tarefeiros de serviço, a dar umas horas por dia oupor semana à instituição. Não se diz “todos benfeitores”, como se fôssemos membros de uma associação humanitária, que faz o bem, para se sentir cada vez melhor. Não se diz “todos artistas”, como se trabalhássemos para aparecer e brilhar no palco do mundo, às vezes como solistas fora do coro. Não se diz “todos senhores”, como caudilhos de batalhas pessoais, a lutar por chegar ao primeiro lugar. O Evangelho de hoje traduz isto de modo muito simples: “Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35). Portanto, “todos discípulos missionários” quer dizer, no concreto, “todos servos de todos”, “todos servidores de todos”, “porque tu precisas dos outros e todos precisam de ti”, como nos recorda o nosso Plano Diocesano de Pastoral (n.º 10).
4.Corremos então o risco, na Igreja, de nos tornarmos meros voluntários de serviço religioso, mas não discípulos apaixonados do Senhor. Corremos o risco de procurar, mesmo através do serviço à Igreja, um lugar de destaque ou de trepar por aí para um lugar de poder, em vez de assumir a missão como serviço. O anúncio do Evangelho, por clérigos ou por leigos, sofre as tentações do poder, da satisfação, da boa imagem, da mundanidade. Há sempre o risco de cuidar mais da forma do que da substância, de se transformar mais em ator do que em testemunha. Ora, o discípulo missionário sabe que anunciar Jesus Cristo significa dar a vida, sem meias-medidas, até ao sacrifício total de si.
5.Muitas vezes tenho feito o apelo a que nos tornemos todos servidores do Reino, no mundo real, onde nos encontramos, ou na comunidade, onde nos alimentamos. Não nos tornemos utilizadores do templo, consumidores das coisas de Nosso Senhor.Muito alimento e muito sacramento, sem 0 exercício de aquecimento do serviço e da caridade, faz disparar o índice de massa gorda e põe em risco a nossa saúde espiritual!Nós, o que queremos ser afinal? Humildes servidores da alegria do Evangelho ou sorvedores que sugam tudo, a ver quem é o primeiro e o maior?!