Homilia no XX Domingo Comum 2018
Bons alunos ou todos Discípulos missionários na Escola do Mestre?
1.Estamos em pleno mês de agosto e “os dias que correm são maus” (Ef 5,16)para digerirmos o longo discurso do Pão da Vida, em que Jesus dá voltas e mais voltas para nos fazer saborear o mistério do Seu Corpo entregue por nós, no grão de trigo triturado no moinho da Cruz, e nos dar a inebriar, no vinho pisado no lagar do Calvário, o Seu Sangue derramado! Em todo o caso, este pão que Deus amassou, este vinho bom que Deus nos preparou… não é apetecível aos “irrefletidos” (Ef 5,17), que se fartam e contentam com as iguarias da mesa e se “embriagam com o vinho, que é causa de luxúria” (Ef 5,18). O alimento que Deus tem para nos dar é afinal o Seu próprio Filho, Jesus Cristo. Ele é que é o Pão que desce do Céu, Pão limpo e sem mistura, que nos alimenta e sacia para a vida eterna. Ele é que nos dá a beber, no vinho da nova aliança, a verdadeira bebida que sacia a nossa sede infinita de amarmos e de sermos amados!
2.Irmãos e irmãs: temos vindo a refletir, ao longo destes suculentos domingos do Pão da Vida, sobre a identidade do discípulo missionário! À luz do que escutámos hoje, podemos dizer e compreender que o discípulo não é propriamente um bom aluno de uma qualquer escola religiosa, moral ou teológica. O discípulo não faz um curso para seguir Jesus! O discípulo é sempre um aprendiz, um inexperiente (Pr 9,4), que faz um longo e árduo percurso de amizade com Jesus, aprende d’Ele e com Ele, cresce com Ele, caminha com Ele, encontra o segredo da Sua vida na intimidade da mesa. O discípulo é aquele que “faz a experiência pessoal, constantemente renovada, de saborear a sua amizade e a sua mensagem” (EG 266). De modo que o conhecimento que tem de Jesus não lhe vem dos livros, não é um saber académico ou escolar. O conhecimento de Jesus, mais do que ciência adquirida pelo saberbíblico ou livresco, é uma sabedoria que se alcança à medida que se aprende cada dia a “saborear e ver como o Senhor é bom” (Sl 33/34,9). “Não é o muito saber que enche e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear interiormente as coisas” (Santo Inácio de Loiola, cit. AL, n.º 207). Mais importante que uma assiduidade escolar à catequese é a experiência fiel do encontro com Cristo, na escuta da Palavra e na comunhão do Pão da Vida, em cada Eucaristia. É por aqui que podemos crescer no conhecimento e na amizade com o Senhor! Não há cursos para batizar, fazer a 1.ª Comunhão ou casar. Há, sim, percursos de vida no seguimento de Jesus e sempre no seio de uma comunidade, que nos ajudam a assimilar a amizade com Jesus, na frescura da Sua Palavra e no sabor do Pão, pelo qual Ele Se faz nosso alimento e companhia à mesa da Eucaristia.
3.Nesta mesma linha, podemos dizer: não há cursos para ser padrinho ou madrinha, para transmitir a fé, para ser evangelizador ou missionário. “Se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar que lhe deem muitas lições ou longas instruções. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus” (EG 120).
4.Irmãos e irmãs: sem a Eucaristia, qualquer saber teórico, catequético, bíblico, doutrinal ou moral, não passa de palha que o vento leva! Para se tornar discípulo missionário “é preciso frequentar a escola do Mestre, acompanhá-l’O afetivamente, deixarmo-nos transformar por Ele para que possamos difundir entre os de fora a beleza de se «matricular» nela e a alegria de se ser seu companheiro” (PDP 2018/2019, n.º 5).
O que queremos ser então? Bons alunos (que é só para alguns!) ou todos discípulos missionários, na Escola do Mestre?