Homilia no XVII Domingo Comum B 2018
Discípulos em massa ou discípulos na massa?
São Marcos, o evangelista deste ano litúrgico, vai de férias até ao final de agosto! Nestes cinco domingos somos guiados pela leitura do quarto Evangelho, cuja autoria é atribuída a São João, o discípulo amado! O calor tira-nos algum apetite para digerir o longo capítulo sexto, em que São João nos apresenta o suculento Discurso do Pão da Vida, na sequência do grandioso sinal dos cinco pães e dois peixes, que alimentaram numerosa multidão! Como “em tempo de melões, não há sermões”, vamos digerir este “pedaço de pão”, saboreando-o, aos bocadinhos, domingo a domingo, sem perder migalha. Mas vamos fazê-lo como aprendizes de discípulos missionários de Jesus, aproveitando esta pausa sobre o relvado. Por hoje, ficam as três primeiras notas de terreno:
1. A primeira é que o discípulo missionário não se pode assustar ou deixar bloquear com a pobreza de meios: “Como posso, com isto, dar de comer a cem pessoas?». Ou: “Que é isso para tanta gente?”. O discípulo aprende de Jesus que a pobreza de meios faz parte da sua identidade e condição. É na medida em que o discípulo se sente carenciado, dependente de ajuda, que ele abre espaço para Deus agir e o surpreender com a Sua superabundância! Na simplicidade de vida e na míngua de meios, o discípulo missionário dá a cara por Jesus! Também para o discípulo missionário, “o meio é a mensagem” (Marshall McLuhan). No seu estilo de vida já diz tudo: donde vem e ao que vem! Vem livre e feliz do seu encontro com Jesus. E, pobre como Ele, sai ao encontro dos mais pobres!
2. Isto conduz-nos à segunda nota: o discípulomissionário não se assusta nem desanima, por passar despercebido ou se sentir tão pequenino, no meio de uma numerosa multidão. Ele não tem medo de meter as mãos na massa do povo! Pelo contrário, tal como a pequenina porção de fermento leveda toda a massa e faz crescer o pão que alimenta, assim o discípulo missionário é fermento na massa do povo e o seu testemunho tem um efeito multiplicador e transformador à sua volta. Não é importante o sucesso ou fracasso. Podem acreditar ou não, aceitar ou recusar, mas saberão que há Cristo e que há um cristão… no meio deles!
3.Terceira nota: o discípulo missionário não desperdiça as sobras, como é frequente na chamada “cultura do descarte” (Laudato Si’, n.º 16). Na sua missão, o que sobra são aqueles que porventura outros descartam, como resíduos da sociedade e até da Igreja (cf. EG 54). São precisamente as tais sobras (cf. EG 54)que o discípulo missionário deve acolher e recolher, cuidar e alimentar, para que nada nem ninguém se perca. “Se alguma coisa nos deve inquietar é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida” (EG 49). Como não aproveitarmos então o que nos sobra, enquanto lá fora há uma multidão faminta? Jesus repete-nos: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6,37)!
Na tua pobreza, meu querido discípulo missionário, deves estar a pensar: Como responder a este convite? Diz-te o Papa Francisco: “O teu coração sabe que a vida não é a mesma coisa sem Ele; pois bem, aquilo que descobriste, o que te ajuda a viver e te dá esperança, isso é o que deves comunicar aos outros” (EG 121). E diz-te o nosso bispo do Porto: “quem não souber dizer mais nada, garanta aos outros que se sente feliz por conhecer e se deixar amar por Jesus Cristo” (Plano Diocesano de Pastoral 2018/2019, n.º 3).
Lembra-te disto, digo eu: o mundo não precisa de discípulos em massa. O que faz falta ao mundo é que haja discípulos na massa!