Homilia no XVI Domingo Comum B 2018
“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco” (Mc 6,31)!
1.Não sei se era Verão, quando Jesus fez este convite! Mas o Senhor está bem atento ao cansaço dos seus discípulos missionários! Estecansaço pode apoderar-se não só dos padres, como dos variados servidores pastorais das nossas comunidades ou daqueles que fazem da ajuda e do cuidado dos outros a sua principal ocupação de vida.
2. Hoje fala-se muito da síndrome de bournout, que literalmente, significa, “queimar-se”, sentir-se em curto-circuito, como uma espécie de “terra queimada”, esvaziada de energia e potencialidade criativa, sem mais nada para dar. As causas podem ser diversas (cf. EG 82): uns por idealizarem projetos irrealizáveis e não viverem de bom grado o que se pode razoavelmente fazer; outros, por não aceitarem a custosa evolução dos processos e quererem que tudo caia do Céu; outros, por se agarrarem a sonhos de sucesso cultivados apenas pela sua vaidade; outros ainda, por não saberem esperar e quererem dominar o ritmo da vida. Em muitos casos, a ânsia de chegar a resultados imediatos faz com que padres e agentes pastorais, cuidadores e voluntários, não tolerem facilmente tudo o que signifique alguma contradição, um fracasso, uma crítica, uma cruz e assim se afundam neste esgotamento emocional, nesta síndrome do “bom-samaritano desiludido”.
3. Na verdade, a referida síndrome de bournot acontece na medida em que a pessoa, que se dá e cuida dos outros, põe o acento tónico no sucesso e no reconhecimento, mas descuida o mais importante: o sentido, o valor e o amor da sua entrega. Na verdade, “quem anda no amor não cansa nem se cansa” e por isso “só o amor dá repouso. Aquilo que não se ama, cansa de forma má; e, com o passar do tempo, cansa de forma pior” (Papa Francisco, Homilia na Missa Crismal 2015).Na verdade, “o problema não está tanto no excesso de atividades, mas sobretudo nas atividades mal vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que preencha a ação e a torne desejável. Daí que as obrigações cansem mais do que é razoável, e às vezes façam adoecer” (EG 82).
4. É por isso que Jesus, ao acolher os seus discípulos missionários não quer saber, em primeiro lugar, dos resultados obtidos, mas sobretudo do estado anímico e espiritual de cada um. É a pessoa que lhe interessa e não o fruto ou o produto do seu trabalho. Por isso, convida os seus discípulos missionários a descansar n’Ele, a fixarem-Se n’Ele, para não ficarem obcecados pelos êxitos ou fracassos. Há, na verdade, um cansaço mau e doentio, de que é preciso tratar-se, pedir ajuda, sem fugas nem rodeios. Mas há também um cansaço bom, que é precioso aos olhos de Jesus, que é como o incenso que sobe silenciosamente ao Céu. Neste caso, o nosso cansaço eleva-se diretamente ao coração de Jesus, que nos acolhe e faz levantar o ânimo, reiterando o convite a cada um: “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco” (Mc 6,31)!
5. Irmãos e irmãs: se estamos mortos de cansaço, prostremo-nos então em adoração e digamos ao Senhor: «Senhor, por hoje basta!» O segredo da fecundidade do nosso serviço e da nossa entrega é também o modo como sabemos repousar no Senhor, passar-lhe “a bata-quente”, rendermo-nos nos nossos limites, pormo-nos nas Suas mãos e ficarmos sossegados no Seu colo. Desse modo, tanto padres como outros servidores pastorais ou mesmo outros cuidadores ou voluntários sociais, manifestamos a consciência de que todos somos ovelhas e todos temos necessidade do Pastor que cuide de nós. Ele está de coração aberto à nossa espera. Repousemos no Senhor! A entrada é grátis!