Homilia no XV Domingo Comum B 2018
Todos discípulos missionários! Iremos ouvir, vezes sem conta, ao longo do próximo ano pastoral, este slogan, que define a graça e a missão de todos os batizados (cf. EG 119-121). Sei que o tempo de férias não é muito simpático para nos pormos a pensar “em trabalho”, mas pode, pelo menos, ajudar-nos a parar um pouco para preparar uma nova saída missionária. Deixo apenas algumas indicações muito simples, à luz da Palavra que acabámos de ouvir.
1. “Chamou-os a Si” (Mc 6,7). Em primeiro lugar, antes mesmo de enviar, Jesus chama a Si os Doze, chama-os até Si, chama-os para Si, para que O conheçam, para que se deixem amar por Ele, para que se deixem transformar por Ele, para que entrem na intimidade daquele amor que une o Pai e o Filho. Jesus chama-os a Si, para que, na escuta e no seguimento, se deixem contagiar e incendiar na Sua Paixão pelo Reino de Deus. Quando dizemos “todos discípulos missionários”, não podemos esquecer que não há envio sem chamamento, não há testemunho sem experiência, não há anúncio sem escuta; não se propõe a conversão aos outros sem se deixar converter a si mesmo. Não há saída para o mundo sem entrada na oração e no coração do Senhor. Por isso, o que Jesus faz primeiro é formar na sua “Escola” de vida e amor os seus discípulos, de tal modo que estes aprendam e apreendam d’Ele o Seu estilo de vida. O enviado não é aquele que diz coisas bonitas, mas aquele que adquiriu “os modos do Senhor” (Didaqué X, 1,8).
2. “Enviou-os dois a dois” (Mc 6,7)! Em segundo lugar, Jesus envia-os em missão. Mas esta missão não consiste num programa a aplicar, numa “cartilha a desbobinar”, numa “angariação” de adeptos ou de voluntários. Esta missão não se destina a conquistar almas ou territórios! A missão começa por ser a oferta de um sinal, de um testemunho: o da nossa vida em comunhão, o do amor vivido entre nós, seus discípulos. E esse testemunho não se oferece no isolamento, na solidão, na autogestão. Por isso, os discípulos são enviados dois a dois, porque só assim podem ser sinal credível de um terceiro, que é o primeiro, que é Jesus no seu meio. Antes do que há a fazer na missão, está o modo de o fazer: “Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Pela alegria da comunhão, pela beleza da amizade, pela prática do amor fraterno, os discípulos dão sinal do “poder de Jesus” e atraem outros para Ele.
3.“Que não levassem nada para o caminho, a não ser o bastão” (Mc 6,9), o bastão de Moisés, quer dizer, a força do poder de Deus. Jesus quer-nos, ao jeito d’Ele: pobres de meios, mas ricos no amor. Deste modo, Jesus reconduz-nos àquela simplicidade que “há de constituir um referencial ético para o mundo atual” (Dom Manuel Linda). Não se pode evangelizar os pobres, senão com os pobres, senão como pobres! O discípulo missionário anuncia e testemunha Jesus tatuado, estampado, refletido no seu próprio estilo de vida. A pobreza e a simplicidade são a sua carta de identidade, a sua credencial. E, por isso, o discípulo missionário é enviado como um pobre, quer dizer, alguém pronto a receber, pronto a acolher, porque Jesus está já presente naquele pobre a quem O anuncia.
Queridos irmãos e irmãs: no fundo, esta vocação universal à missão deriva da nossa vocação universal à santidade (cf. 2.ª leitura). Todos os batizados são chamados à santidade e à missão. Eis porque já não nos basta, na missão, novos métodos e novas expressões; é preciso “novo ardor de santidade”, porque “o verdadeiro missionário é o santo” (Red. Miss. 90).E a verdadeira santidade, como nos recorda o Papa Francisco, é “um caminho comunitário que se deve fazer dois a dois” (GE 141), com “audácia e ardor” (cf. GE 122-157).Lembrai-vos disto: a missão é, sobretudo, testemunho e obra da santidade! Sem isso, é piedosa mentira, seria enganosa publicidade! Mas é outro, felizmente, o nosso caminho de saída!