HOMILIA NA NOITE DE PÁSCOA B 2018
1.É o amor fino e feminino, que move aquelas benditas mulheres e as leva de manhãzinha ao sepulcro. Vão ali, para selar o corpo morto de Jesus, com a unção do seu amor. O que as move é ainda uma fé afetiva, a força daquele amor imperfeito e com defeito, de quem ama e continua a seguir o Senhor, mesmo quando tudo se dá por perdido ou terminado. Mas este amor obstinado das mulheres abre espaço para a irrupção do “amor mais forte do que a morte”(Ct 8,6). E, naquela visita ao sepulcro, o seu cuidado amoroso é prendado e surpreendido com uma notícia ainda mais incrível que a da própria morte de Jesus: “Ressuscitou. Não está aqui” (Mc 16,6)! ARessurreição acontece como uma explosão de luz e de amor, no meio da noite. Aquele que descera pela escada da Cruz, até ao abismo da morte, entrou definitivamente na vida gloriosa de Deus e foi exaltado pelo Pai. O cristão sabe agora que não chega ao Céu, não encontra a plenitude da vida, senão pela escada da Cruz, pela qual se sobe descendo e se desce subindo!
2.As mulheres ficam muito assustadas, porque a inaudita notícia lhes chega de fora, vem do alto, é obra de Deus. E o que podem ver, com os olhos banhados de lágrimas, é apenas o sepulcro aberto, mas não vazio. Jesus já não está ali, morto e sepultado, porque, por fim, venceu “o amor mais forte do que a morte” (Ct 8,6). A ressurreição é a vitória doamor que vence o ódio, da vida que vence a morte, da luz que afugenta as trevas! Com as armas do amor, Deus derrotou o egoísmo e a morte! A morte, que se infiltrara abusivamente na Criação, é definitivamente superada! E é superada pela mesma palavra divina do Amor, que, no princípio da Criação, chamou todas as coisas à vida! Essa Palavra do Amor, manifesta-se agora em todo o seu poder e esplendor, «ressuscitando Jesus». Não se trata de um milagre absurdo, mas simplesmente da vitória do Amor que nunca acaba, do amor que jamais passará (cf. 1 Cor 13, 8)!
3.Doravante, a procura daquelas mulheres tem de ir noutro sentido. Inaugura-se um novo modo da presença de Jesus. Não O podem ter ou reter nas suas mãos. Terão agora de meter pés ao caminho, de ir sempre em busca, sempre mais adiante, porque esta presença na ausência só o amor lhes pode revelar, porque só o amor vê o invisível. Diz o Evangelho, que “as mulheres saíram, fugindo do sepulcro, pois estavam a tremer e fora de si. E não disseram nada a ninguém” (Mc 16,8). E, com esta nota, compreendemos que o caminho do amor, iluminado pela luz da Páscoa, é luz nas trevas que ainda persistem, é esperança na angústia que não desaparece de todo, é alegria no medo, que todos os dias havemos de vencer.
4.Amados irmãos e irmãs: Cristo morreu e ressuscitou de uma vez para sempre e para todos, mas a força da Ressurreição, esta passagem da escravidão do mal à liberdade do bem, iniciada no Batismo, deve realizar-se em todos os tempos, nos espaços concretos da nossa existência, na nossa vida de cada dia. Quantos desertos tem o ser humano de atravessar ainda hoje! Sobretudo o deserto que existe dentro dele, quando falta o amor de Deus e ao próximo.
5.Eis, portanto, o convite que dirijo a todos nesta noite de Páscoa: acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo, nós que, pelo Batismo, fomos mergulhados com Cristo na morte, para viver uma vida nova! Deixemos que a força do Seu amor transforme também a nossa vida, tornando-nos canais através dos quais Deus possa irrigar a nossa terra e nela fazer florir a civilização do amor.Tende esta certeza, queridos irmãos e irmãs: «Quem ama, já passou da morte à vida» (1 Jo 3,14), porque“o amor é mais forte do que a morte” (Ct 8,6).