Liturgia e Homilias no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor
Destaque

Movidos pelo Amor que Se entrega na Cruz, eis-nos chegados às portas de Jerusalém. Iniciamos, aqui e agora, a Semana Santa, a «Semana grande», a «Semana autêntica». E esta semana é «santa» e é «grande» pela importância e pelas consequências do grande acontecimento que celebramos: a entrega amorosa de Jesus, a sua Paixão, morte e ressurreição. 

Breve homilia na bênção dos ramos B 2018

“Os discípulos não entenderam isto ao princípio”(Jo 12,16)!

 

Por um lado, Jesus estava a ser aclamado como um Rei. Daí as capas e os ramos, com que O recebiam (2 Rs 9,13). Ele é proclamado Rei, o sucessor prometido à descendência de David! Ele é o Rei de Israel. Ele é o Messias esperado (cf. Mc 11,9-10). Mas por outro lado, Jesus não tinha um grande séquito atrás de si, como os reis deste mundo. Com Ele vêm apenas alguns discípulos. E a dois deles, Jesus pede que lhe arranjem um jumentinho atado (cf. Gn 49,10-11), que Lhe servirá de montada. Mas promete devolvê-lo, uma vez cumprida a sua humilde tarefa (cf. Mc 11,13). Eis um rei tão pobre, tão desarmado e desarmante, que não vem montado num cavalo de guerra, mas num jumentinho, animal de carga (cf. Zc 9,9)!

Com estes sinais contraditórios, Jesus vai dando a entender o modo novo e desconcertante como chegará ao Céu e como O veremos sentado à direita de Deus, Pai todo-poderoso. Subirá, descendo pela escada da Cruz, onde será elevado. Subirá descendo e não trepando por cima dos outros; antes Se inclinará e Se reclinará, como Servo humilde, para os servir e lhes lavar os pés (cf. Jo 13,1-17). Subirá, não conquistando território e poder com a violência das armas, mas alcançando e transformando o coração com o poder do seu amor.

Será preciso aos discípulos, como a nós, vê-l’O elevado na Cruz, para compreendermos bem o caminho do amor, daquele amor que é paciente e resistente, que não olha ao seu próprio interesse, que não inveja as riquezas deste mundo, que é amável no seu olhar, que não é arrogante nem orgulhoso, mas humilde e obediente (cf. 1 Cor 13,4-7). E só a história da Paixão que se seguirá nos mostrará bem o último atributo do amor:o amor que tudo suporta (1 Cor 13,7). 

......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Homilia no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor B 2018

“O amor tudo suporta” (1Cor 13,7)!

 

1. É o último atributo no Hino ao Amor e marca a última etapa no caminho da perfeição (1 Cor 12,31). Com a subida à Cruz, Jesus desce o último degrau, movido pelo amor que tudo suporta: suporta com paciência a fraqueza da nossa condição humana, capaz de O negar e trair, a troco de interesses mesquinhos; suporta com amável bondade as maquinações da inveja dos senhores do tempo e do templo; suporta com amor fraterno as perseguições e humilhações dos arrogantes, a tal ponto que o Filho do homem, que um dia veremos “sentado à direita do Todo-poderoso” (Mc 14,62), é agora crucificado entre dois salteadores! Movido pelo Amor que Se entrega na Cruz, Jesus tudo suporta. Suporta, silenciosamente, sem vingança, nem violência, a humilhação até à morte e morte de Cruz. Estamos, pois, no grau mais profundo do amor e, ao mesmo tempo, no degrau mais baixo na escada da Cruz, pela qual Jesus sobe descendo e desce subindo. Di-lo São Paulo: “Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio; aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de Cruz. Por isso Deus O exaltou” (cf. Fl 2,6-11).

2. O segredo desta “descida” ao abismo da Cruz e da morte, pela qual o Filho de Deus é exaltado na glória, é o amor: “Deus amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho Unigénito” (cf. Jo 3,14-21). É lá, no alto da Cruz, que esta verdade pode ser contemplada. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar” (Bento XVI, Deus Caritas est, n.º 12).Na Cruz, o cristão aprende de Cristo que se sobe descendo e que se desce subindo.

3. Somos discípulos deste Jesus que Se entrega por amor na Cruz. E por isso, também nós somos chamados a segui-l’O, neste amor, que tudo supera e tudo suporta [como o fizeram a mulher que ungiu de perfume a cabeça de Jesus, ou Simão de Cirene, que O ajudou a levar a Cruz, ou José de Arimateia, que O acolheu e recolheu depois de morto, ou como as mulheres, Maria Madalena e Maria, mãe de José, que ali se detêm em contemplação]. O amor suporta com espírito positivo todas as contrariedades. É capaz de manter-se firme, resistindo à lógica da violência e da vingança, mesmo no meio de um ambiente muito hostil. O amor, no seu mais alto grau de exigência, não paga o ódio com ódio ainda maior, mas quebra a cadeia do mal, com a oferta gratuita do bem.

4. Na vida familiar é preciso cultivar esta força do amor, que permite lutar contra o mal que a ameaça. O amor não se deixa dominar pelo desejo de se lamentar ou vingar de alguma coisa. O ideal cristão, nomeadamente na família, é viver este amor que resiste a tudo e todos, mas não desiste de ninguém, porque é capaz de transformar o direito à indignação perante o mal num profundo sentimento de compaixão para com o pecador (cf. Papa Francisco, A alegria do amor, números 118 e 119).

5. Movidos pelo Amor de Deus que Se entrega na Cruz”, vivamos então esta Semana Santa, percorrendo o caminho do amor, que tudo suporta! E suportá-lo-emos, na caridade, na medida em que tivermos os mesmos sentimentos de Jesus e permanecermos unidos e atraídos pela sua Cruz, neste movimento de saída de Si mesmo, que é, simultaneamente, de “descida” ao abismo da morte e de “subida” à glória do Pai. Aliás, é sempre assim o movimento do amor, na escada da Cruz: subimos descendo e descemos subindo.

Nunca mais o esqueçamos: “Fora da Cruz não há outra escada por onde se suba ao céu” (Santa Rosa de Lima, CIC, n.º 618)!

Top

A Paróquia Senhora da Hora utiliza cookies para lhe garantir a melhor experiência enquanto utilizador. Ao continuar a navegar no site, concorda com a utilização destes cookies. Para saber mais sobre os cookies que usamos e como apagá-los, veja a nossa Política de Privacidade Política de Cookies.

  Eu aceito o uso de cookies deste website.
EU Cookie Directive plugin by www.channeldigital.co.uk