Liturgia e Homilias no III Domingo da Quaresma B 2018
Destaque

Movidos pelo amor que Se entrega na Cruz, entramos, por assim dizer, no coração da Quaresma. São mais três domingos até à Semana Santa, que nos desafiam a descer mais três degraus na escada. Assim entramos mais profundamente no mistério e na loucura da Cruz.

Homilia no III Domingo da Quaresma B 2018

 

«O amor não é invejoso»(1 Cor 3,4)!

 

1. É a última, mas não a menos importante das dez palavras de amor, que o Decálogo desdobra assim: «Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo» (Ex 20,17). Na verdade, «o amor não é invejoso» (1 Cor 13,4). “O amor leva-nos a uma apreciação sincera de cada ser humano, reconhecendo o seu direito à felicidade” (AL 96).Por isso, “no amor, não há lugar para sentir desgosto pelo bem do outro. A inveja é uma tristeza pelo bem alheio, demonstrando que não nos interessa a felicidade dos outros, porque estamos concentrados exclusivamente no nosso bem-estar. Enquanto o amor nos faz sair de nós mesmos, a inveja leva a centrarmo-nos em nós próprios. O verdadeiro amor aprecia os sucessos alheios, não os sente como uma ameaça. Aceita que cada um tenha dons distintos e caminhos diferentes na vida; e, consequentemente, procura descobrir o seu próprio caminho para ser feliz, deixando que os outros encontrem o deles” (AL 95).

2. Pelo contrário, o impulso do invejoso é eliminar ou estragar o que pensa ser a fonte dessa alegria. O outro deixa de ser um parceiro e torna-se um rival. Deixa de constituir a possibilidade criativa de um encontro e torna-se uma sombra. Estranho sentimento é a inveja! E, contudo, está tão infiltrado nas relações humanas e é tão abrasivo da vida interior, tão capaz de fazer em cacos ambientes familiares, de trabalho, de amizade. Um coração invejoso ou ciumento é um coração amargo, um coração que, em vez de sangue, parece conter vinagre; é um coração que nunca está feliz, é um coração que desmembra uma família e contamina uma comunidade. Da inveja nascem a calúnia, a maledicência, as rivalidades, as discórdias, o ódio e até o homicídio. E qualquer um de nós, em alguma ocasião, não está livre de se deixar apanhar pela inveja, esse vírus corrosivo, essa patologia do desejo, caracterizada pela falta de amor.

3. Mas então, o que devo fazer? O contrário da inveja é a gratidão, que constrói e reconstrói o mundo. Contra a inveja, aprendamos o reconhecimento e cultivemos a gratidão, começando por apreciar os dons e as qualidades dos outros. E, se a inveja persistir, devo dizer ao Senhor: Obrigado, Senhor, porque concedestes isto àquela pessoa! O coração que sabe dizer obrigado é um coração bom e feliz!

4. Nesta 3.ª semana da Quaresma, não peçamos ao Senhor o “milagre” da multiplicação de coisas e mais coisas, que atulham e entulham o nosso coração, transformando-o numa sucata de desejos. Peçamos antes ao Senhor que limpe do nosso coração todos os comportamentos contra Deus, contra o próximo e contra nós mesmos, e que tanto esfriam o amor no nosso coração. Deixemos que o Senhor entre com a sua misericórdia, e não com o chicote, para limpar os nossos corações do ciúme, da inveja, da maledicência, que oxidam o nosso coração.

5. Para combater esse vírus letal da inveja, o 4.º dos sete pecados mortais, apliquemos mais fortemente os três remédios típicos da Quaresma: o remédio da oração, que nos leva a procurar a consolação em Deus e não nos bens deste mundo; o remédio da partilha, que nos faz descobrir que ninguém é tão pobre que não possa dar, nem tão rico que não possa receber; e o remédio do jejum, para sentir as mordeduras da fome, como as que sofrem aqueles que não têm o necessário para viver e de quem afinal não temos inveja nenhuma.

Com estes remédios, o coração ficará limpo da inveja! E ficará arejado este Templo que é o meu corpo, porque foi purificado e reconstruído pela alegria do amor!E quando não nos falta o amor, o que os outros têm não nos faz falta nenhuma. “O amor não é invejoso” (1 Cor 3,4).

 

HOMILIA NA MISSA COM CATEQUESE - III QUARESMA B 2018 

 

  1. Escutámos há pouco os Dez Mandamentos, essas dez palavras que nos ajudam a não deixar resfriar o amor a Deus e o amor ao próximo. E hoje vamos fixar-nos nos últimos dois mandamentos, que se podem resumir nesta afirmação de São Paulo: o amor não é invejoso.
  2. A inveja é realmente um sentimento perigoso, é um desejo descontrolado de querer tudo e mais alguma coisa, de querer mais e mais só para mim, de querer o que nem sequer me faz falta, de querer o que é dos outros. Vejo aquilo que os outros têm e fico ansioso (obcecado) por ter a mesma coisa! Fico triste porque o outro tem algo que eu não tenho: tem uma roupa de marca, um telemóvel topo de gama, umas férias no estrangeiro… Esqueço-me que se calhar essa pessoa não tem o que tenho: saúde, família, amigos, sossego…  
  3. Para curar este sentimento de inveja, que transforma o meu coração numa sucata de desejos, é preciso cultivar o sentimento feliz da gratidão. Há que ser e estar grato, ser e estar agradecido por aquilo que já tenho. Em vez de ficar a pensar no que não tenho, aprendo a dar graças, a dizer obrigado, sinto-me feliz por aquilo que já tenho e me faz feliz. E é tanto. Posso não ter um bom telemóvel, mas tenho um bom amigo; posso não ter a melhor roupa, mas tenho o conforto dos meus pais. Posso não ter um tablet, mas tenho alguém que me ensina e fala comigo. E se tiver amor, então nada daquilo que ainda não tenho me faz falta. Por isso, o amor não é invejoso.
  4. Sendo assim, em vez de ter inveja, por aquilo que o outro tem e eu não tenho, devo sobretudo estar preocupado com aquilo que eu tenho e o outro não tem. Nasce assim o desejo da partilha, da ajuda, da entreajuda, que nos aproxima mais uns dos outros. Em vez da inveja, que me faz pensar só em mim, o amor aos outros faz-me ir ao seu encontro, para lhes dar o que não têm e lhes faz falta.
  5. Precisamos muito de cuidar do nosso coração, para que este sentimento de inveja não o faça oxidar, não o enferruje. Peçamos a Jesus, que nos purifique esse «templo» onde Ele nos quer habitar e que, às vezes, está cheio de coisas e mais coisas… coisas que temos a mais. E às vezes o nosso coração está tão cheio das coisas que tem, como cheio das coisas que ainda não tem. Peçamos a Jesus, que nos dê um coração agradecido, um coração pobre, um coração puro, um coração feliz com o pouco. O pouco com Deus é muito. E o muito sem Deus é nada. Peçamos a Jesus, que purifique o nosso coração dos maus desejos, para fazer dele o templo da sua morada.
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