Homilia no III Domingo do Tempo Comum B 2018
A síndrome de Jonas ou o sinal de Jonas
1. Hoje apetece-me voltar à história de Jonas. É a personagem de um livro, de três páginas apenas, numa espécie de parábola dramatizada, em quatro capítulos. Um belo conto marinho ou novela antiga. O argumento pode resumir-se assim: Deus confia a Jonas a missão de pregar a conversão em Nínive, capital da Assíria, a grande cidade, que era vista pelos judeus como símbolo por excelência do povo inimigo. E Jonas embarca no porto de Jafa, fugindo à missão impossível que Deus lhe confiara. Era como ir a Berlim em 1936 dizer aos nazis para se arrependerem! E parte, em sentido oposto, lá para o fim do mundo, para Társis, que ficaria ali pela Andaluzia, na vizinha Espanha. Na viagem, uma tempestade atinge o barco e os marinheiros acham que é Jonas quem lhes está a dar má sorte. Não têm mais: lançam-no ao mar. Engolido por um peixe, dentro do qual passará três dias, é largado em Nínive, onde cumpre a missão de anunciar a conversão, como caminho de salvação. E o mais improvável acontece. A cidade, do rei aos súbditos, aproveita a oportunidade e converte-se. Jonas fica arreliado, maldisposto, com o sucesso da sua pregação, porque tudo lhe sai ao contrário do programa que tinha na cabeça. Como é possível Deus amar e perdoar esta gente? Como pode esta gente, a seus olhos, má e terrível, acreditar na Sua Palavra? A grande cidade deixa Jonas deprimido. Será ele agora quem mais precisará de conversão.
2. Esta história bíblica está cheia de ironia e de sabedoria, sobretudo quando pensamos hoje na evangelização das grandes cidades, das culturas urbanas ou daqueles meios e ambientes, onde o anúncio do Evangelho nos parece condenado ao fracasso. Tal como Jonas, temos medo de enfrentar a grande cidade ou de começar, como Jesus, “pela Galileia dos pagãos”. Gostamos mais de pescar no nosso aquário, propondo o Evangelho àqueles que nos parecem recetivos ou simpáticos. E não nos damos conta de que, mesmo naqueles ambientes mais difíceis, Deus está lá, na busca e na luta diária por uma vida melhor. E não é preciso sequer inventar essa presença de Deus. Bastará ajudar a desvelá-la, pô-la a descoberto. Na história da vida das pessoas há tantos sinais de um Deus que não desaparece do mapa da vida de ninguém, nem sequer da vida de uma grande cidade.
3. Precisamos de vencer a síndrome de Jonas, o preconceito em relação aos que nos parecem não querer nada de Deus, do Evangelho, da Igreja. Temos demasiados respeitos humanos e infundados medos e, por isso, procuramos, como Jonas, fugir à missão, que temos por impossível, dando os outros como perdidos! A síndrome de Jonas manifesta-se na tentação de cumprir apenas as nossas obrigações religiosas, evitando sair para as periferias, a anunciar a Boa Nova!
4.Vençamos, pois, a síndrome de Jonas, saindo ao encontro das pessoas, para lhes levar a feliz notícia de que está próximo delas o Reino de Deus, de que Deus está nas encruzilhadas das suas vidas, nas suas casas, ruas e praças! Sair para encontrar as pessoas, para as ouvir, para as abençoar, para dialogar e caminhar com elas. Há que ir e sair por aí a chamar, como Jesus, um a um: o irmão em casa; o colega na escola; o amigo no emprego; o companheiro do café. Sair a anunciar, pessoa a pessoa, olhos nos olhos, coração a coração, o amor de Deus por cada um.
5. E escolhamos então o sinal de Jonas, de que falará Jesus (cf. Mt 12,40; Lc 11,30), que é o sinal da misericórdia, do triunfo do amor de Deus, que Se manifestará três dias depois, na manhã da Ressurreição. Dêmos testemunho da misericórdia e da compaixão de Deus por cada um, sobretudo junto dos pobres mais pobres, daqueles a quem falta o pão ou daqueles que, tendo o pão necessário, lhes falta descobrir a riqueza de Deus, nos anseios do seu coração. Irmãos e irmãs: movidos pelo amor de Deus, façamos da alegria do Evangelho a nossa missão!