Homilia na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus 2018
51.º Dia Mundial da Paz
Pelo janeiro, um salto de carneiro, diz a sabedoria popular que vê crescer um pouco mais a luz do dia. Mas o tempo do Natal, com o seu salto de pardal, parece-nos, ao contrário, passar com a pressa dos pastores, a caminho do Presépio! A Oitava do Natal, no 1.º dia de janeiro, quase tira a respiração ao domingo da Sagrada Família, que contemplámos pobre de meios e rica no amor! Por isso, com tanta fartura celebrativa, e com tão breve tempo para a sua digestão, permitam-me três pensamentos simples para este dia, com três marcas especiais: é o 1.º do ano civil; litúrgica e solenemente dedicado a Santa Maria, Mãe de Deus; e, desde há 51 anos, por vontade do Beato Paulo VI, Dia Mundial da Paz.
1.O primeiro pensamento tem a ver com a importância deste 1.º dia do calendário civil. Nesta viragem de página do nosso tempo cronológico, passamos em revista as figuras e os acontecimentos marcantes do ano que passou e fazemos planos, conjeturas e projetos para o novo ano de 2018. Percebemos, nas surpresas da história e da vida, que afinal, quando muito, somos senhores do momento, mas não somos senhores do tempo. O tempo chegou à sua plenitude, quando o nosso Deus eterno enviou o Seu Filho ao mundo. Doravante, “cada instante não é apenas o tempo que corre, mas é um pequeno caminho, para uma grande pergunta” (Tolentino Mendonça). Maria, que «conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2,19)ensina-nos a acolher a graça deste tempo com gratidão, empenho e confiança. Ela ensina-nos a guardar no coração as marcas e as pegadas deste Deus, que passa pela nossa vida. Sim, precisamos da atenção espiritual de Maria para que o Senhor passe e nós nos dêmos conta. Procuremos olhar para o tempo da nossa vida na certeza de que Deus está connosco. Ele escreve direito por linhas tortas! Maria, que ponderava todas as coisas em seu coração, desafia-nos a ler o que Deus escreveu nessas linhas e o que nos quer dizer nos tempos e contratempos da nossa vida.
2.O segundo pensamento, aliás central, neste dia, é aclamar Maria, Mãe de Deus. Porque são inseparáveis em Jesus as duas naturezas, a humana e a divina, então Maria, Mãe de Jesus, é também Mãe de Deus. Este é o título maior de Nossa Senhora. Assim o definiu o Concílio de Éfeso (431).Desde sempre, Maria está presente no coração, na devoção e sobretudo no caminho de fé do povo cristão. «Nesta caminhada, a Igreja procede seguindo as pegadas do itinerário percorrido pela Virgem Maria» (São João Paulo II, R.M., n.º 2), por isso a sentimos tão próxima de nós! Celebrar, no início de um novo ano, a maternidade de Maria, aviva em nós esta certeza que nos acompanhará no decorrer de todos os dias do novo ano: não estamos órfãos. “Temos Mãe! Temos Mãe”: Mãe de Deus, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja, nossa Mãe!
3.E o meu último pensamento tem a ver com o quinquagésimo primeiro Dia Mundial da Paz. Na sua Mensagem, o Papa põe o foco nos migrantes e refugiados, muitos dos quais, como a Sagrada Família, partem, não para ter uma vida melhor, mas simplesmente para sobreviver ou viver em paz e segurança. São famílias pobres de meios, mas ricas no amor. “Elas não chegam até nós de mãos vazias: trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que as acolhem”. Importa ainda reconhecer a criatividade, a tenacidade e o espírito de sacrifício de inúmeras pessoas, famílias e comunidades que lhes abrem a porta e o coração, inclusive onde não abundam os recursos.
Irmãos e irmãs: o Senhor do tempo e da história está connosco! E onde está o Filho, aí está a Mãe. Reconheçamos a passagem do Senhor. Sigamos as pegadas de Maria, para avançarmos, sem medo, por um ano novo e uma vida nova!