HOMILIA NA CELEBRAÇÃO DO NATAL 2017
1. Movidos pela Estrela que brilha no amor, eis-nos chegados ao Presépio de Belém. Está tudo conforme o sinal dado pelo Anjo aos Pastores: “um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc2,12). É uma família que traz gravada nas pegadas do caminho esta marca de origem: “pobre de meios”. Maria e José vêm de Nazaré, de uma pobre povoação, perdida na periferia de um grande império, e agora pernoitam num curral, em Belém, nos arrabaldes de Jerusalém. Este é o sinal de sempre para encontrar Jesus: a simplicidade frágil de um Menino recém-nascido numa família pobre de meios, mas onde não falta a mansidão do Menino deitado na manjedoura, envolto nas fraldas que O resguardam, no amor inexcedível de Maria e de José. Ali está Deus. O Salvador nasce num Presépio, entre animais, como sucedia com os filhos dos mais pobres!O Verbo de Deus faz-Se Carne, monta a sua tenda (cf. Jo 1,14)no meio de nós e, neste empobrecimento, torna-nos ricos com os dons da vida eterna, da alegria plena, da paz verdadeira, da salvação.
2. E é com este sinal de “Cristo que Se fez pobre, para nos enriquecer com a Sua pobreza” (2 Cor 8,9), que o Evangelho nos desvenda o paradoxo do Natal: fala-nos do imperador, do governador, dos grandes de então, mas Deus não Se apresentou lá; não aparece no salão nobre de um palácio real, mas na pobreza de um curral; não nos faustos ilusórios, mas na simplicidade da vida; não no poder, mas numa pequenez tal que nos impressiona e surpreende. E, para O encontrar, é preciso ir aonde Ele está: é preciso inclinar-se, abaixar-se, fazer-se pequenino, fazer-se pobre. Compreenderam-no bem, naquela noite, os Pastores que se contavam entre os marginalizados de então. Foram eles os primeiros convidados do Natal. Quem se sentia seguro de si, autossuficiente, ficara em casa com as suas coisas; ao contrário, os Pastores «foram apressadamente» (Lc 2,16). Por isso, queridos irmãos e irmãs, continuam a ser os pobres o portal, a nossa porta principal de entrada no Presépio!
3. O Menino que ali nasce, pobre de meios, interpela-nos hoje a deixar as ilusões do efémero para ir ao essencial; a renunciar às nossas pretensões insaciáveis com coisas que enchem, mas não preenchem. O Menino, rejeitado e descartado, que Maria dá à luz num curral «por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2,7),sofre hoje a mesma indiferença quando o Natal se torna uma festa onde os protagonistas somos nós, em vez de ser Ele; quando as luzes do comércio deixam na sombra a Luz de Deus; quando só nos preocupamos com as ementas e as prendas de Natal e ficamos insensíveis aos pobres e sós. Esta mundanidade tornou refém o Natal; é preciso libertá-lo, para o vivermos no tempo presente “com temperança, justiça e piedade” (Tt 2,11-14). Só assim, em Jesus, saborearemos o verdadeiro espírito do Natal: a beleza de cada um ser e se saber amado por Deus.
4. Deixemo-nos mover e comover pelo brilho da Estrela que resplandece no rosto deste Menino nascido para nós em Belém, “a Casa do Pão”. Nasce como pão para nós; vem à nossa vida, para nos dar a Sua vida. Vem, não para devorar e comandar, mas para nos alimentar e servir. Esta é a linha que liga a manjedoura, a Cruz e a Eucaristia, onde Jesus Se faz Pão repartido para vida do mundo: é a linha direta do amor que Se dá e nos salva, que dá luz à nossa vida e paz aos nossos corações.
5. Irmãos e irmãs: “Movidos pela Estrela que brilha no amor, / encontramos Maria, José e o Menino, / nosso único salvador! /// Pobre de meios, como uma tenda, / é neste Presépio que nasce a Luz. / E o nosso tesouro escondido é Jesus. /// Vinde, Senhor, e enriquecei-nos, / com os pobres pela casa adentro. // E brilharemos como Estrelas no firmamento”!