Homilia no III Domingo do Advento B 2017
1. Homem livre, João Batista não se põe em bicos de pés, nem quer ser a Estrela da Companhia! Ele é o precursor e o apresentador de Jesus. Mas não quer que incida sobre ele a luz dos holofotes, que o podiam cegar de orgulho e vaidade. Ele retira-se e apaga-se, para que brilhe sempre e cada vez mais a Estrela Maior, o Sol Nascente, Cristo, nosso Deus. João Batista não quer ter luz própria; quer apenas refletir a luz verdadeira, que vindo a este mundo ilumina todo o homem: a luz de Cristo (Jo 1,9), a luz que é Cristo! Nisto está a sua liberdade inteira, a liberdade de um homem desapegado dos seus bens e dos seus pergaminhos, livre dos títulos de honra ou das manchetes da imprensa cor-de-rosa, livre das etiquetas sociais, das condecorações e das promoções de carreira. “Que Jesus cresça e eu diminua” (Jo 3,20), disse João Batista, que não se quer substituir a Jesus. Por isso, diante daqueles que procuram saber dele, João Batista não ousa sequer dizer “Eu sou”, porque isso só Deus disse de Si mesmo (Ex 3,14) e só Jesus, o Filho de Deus, o dirá de Si próprio. João Batista não é o Messias, não é Elias, não é o Profeta. Não é a Palavra; é a voz no deserto. Não é a Luz; é apenas «testemunha» d’Aquele que está no meio de nós e deve estar no centro de todas as atenções: Jesus!
2. Irmãos e irmãs: está a aproximar-se o Natal do Senhor. E este testemunho de João Batista vem libertar-nos do narcisismo, desta posse «do meu Natal», para não cairmos na tentação de fazer da festa do Natal uma «selfie» dos nossos desejos e caprichos. João Batista vem dizer a cada um: “Não é o teu Natal que estás a celebrar, é o Natal de Jesus. A Estrela do Natal não és tu! Não és tu que fazes anos. É Jesus, o Filho de Deus, dado e enviado pelo Pai a este mundo, na plenitude dos tempos. Abaixa-te, pois, para te reclinares diante d’Ele! Diminui o volume da tua voz e a intensidade do brilho da tua fotografia…. e deixa que este seja o Natal de Jesus, e não o teu Natal. Não és tu o Messias, o Salvador. Não é tua a última Palavra do Amor. Descalça então as sandálias. E debruça-te sobre este Deus, que veio a este mundo, para te salvar. E então sim faz do Natal de Jesus o Natal que acontece em ti, para que se torne Natal de Jesus nos outros, para os outros, com os outros”.
3. Em vez de um «autonatal», levemos à cena deste mundo um verdadeiro “auto de Natal”! Isto é, em vez do “meu Natal”, de mais uma festa autorreferencial, centrada em mim mesmo, procuremos ser arautos do Natal de Jesus, no anúncio público, feliz e corajoso da sua vinda até nós. Mas sobretudo, sejam um “auto de Natal” os gestos livres e libertadores do amor concreto a cada pessoa, do outro, que goza de prioridade sobre mim. Nesta semana não tenhamos medo, nem vergonha, de firmar e afirmar a liberdade de expressão da nossa fé na esfera pública. Realizemos um sinal de pública manifestação de fé, fazendo, por exemplo, um anúncio público do Natal de Jesus, sinalizando-o em presépios, que podem ser colocados em espaços públicos, ou tornemo-nos arautos do Natal, através do envio de mensagens e de publicações explícitas nas redes sociais. Aos mais familiarizados com as novas tecnologias, desafio a criarem um pequeno filme, de modo que possa chegar a todos o mais simples e o mais comovente anúncio de Natal: «Deus ama-te! Cristo veio por ti. Para ti Cristo é Caminho, Verdade e Vida» (São João Paulo II, CFL, 34)! Pode ser este o nosso tweet, um simples piar da alegria inefável do Natal que está a chegar!