Homilia no XXXII Domingo Comum A 2017
1. Não é a noiva que se atrasa! O noivo que Se demora a chegar é o Senhor Jesus! O tempo da demora é este que nos é dado viver, em ativa vigilância e atenta prontidão. E a noiva é a imagem da Igreja, que espera ansiosa a vinda do Seu Senhor. Como Esposa, a Igreja aguarda o seu Esposo! Até lá, deve manter acesa e bem visível a lâmpada da esperança!
2. À luz desta parábola, podemos olhar para Cristo como Esposo da Igreja e para a Igreja como Esposa de Cristo! Desde as núpcias de Caná, topamos com este Jesus, que vivia como celibatário, em contraste com os rabinos do seu tempo. Mas é precisamente numas bodas de casamento que Jesus começa a revelar-Se como o verdadeiro Esposo. Fazendo-Se homem como nós, e tornando-nos a todos um só com Ele, mediante a Sua entrega amorosa, pela morte e ressurreição, Cristo desposou-nos e fez de nós Sua Esposa. A Igreja é a Esposa amada e desposada por Cristo, que por ela Se entregou (cf. Ef 5,25-27). Quando o Esposo voltar, a Igreja apresentar-se-á diante d’Ele, qual “Esposa ornada para Seu Esposo” (Ap 21,2)!
3.Irmãos e irmãs: nesta relação esponsal entre Cristo e a Igreja percebe-se melhor o sentido do celibato sacerdotal. Identificado com Cristo, que não casou, para a todos nos desposar, “o sacerdote é chamado a ser imagem viva de Jesus Cristo, Esposo da Igreja, o que lhe exige ser capaz de amar a todos, com um coração novo, grande e puro, com um autêntico esquecimento de si mesmo, com dedicação plena, contínua e fiel” (São João Paulo II, PDV, n.º 22).
4. É verdade que o celibato sacerdotal não é um mandato divino, nem uma prescrição apostólica. Os Apóstolos, à exceção de Paulo, casaram e o Novo Testamento dá-nos conta de bispos, presbíteros e diáconos casados. Mas também é verdade, que muito pouco tempo depois, a Igreja assume o conselho do Apóstolo Paulo (cf. 1 Cor 7,25)e reconhece que o coração indiviso, ao serviço do Reino dos Céus e pelas coisas do Senhor, é muito adequado ao exercício do ministério pastoral. É uma forma de seguir Jesus, que confere maior disponibilidade afetiva e efetiva para o serviço do Evangelho, porque preserva das justas preocupações e atenções devidas à família. Num tempo de urgência missionária, esta liberdade interior e exterior é um tesouro frágil, é verdade, mas preciso e precioso!
5. Além do mais, o celibato sacerdotal devia permanecer para todos como um sinal luminoso de que o cenário deste mundo é passageiro (1 Cor 7,29)e como um sinal de esperança no futuro: mesmo quando o mundo adormece indiferente à vinda do Senhor, há sempre alguém de vigia, totalmente centrado e concentrado n’Ele, para ir ao Seu encontro.
6.Irmãos e irmãs: estamos a iniciar a Semana de Oração pelos Seminários. Não é fácil apelar às novas gerações para a beleza da vida sacerdotal, num ambiente cultural carregado de estímulos eróticos, em que a fidelidade a um tal propósito exige um alto grau de maturidade humana! Neste tempo, em que se perdeu a dimensão do eterno e do definitivo, o celibato provocará sempre desconfiança e desconforto! Mas a solução não será a simples revogação ou adaptação às modas e modos deste tempo. Porque a crise do celibato, que é notícia até pela sua raridade, não é menor do que a crise do matrimónio, numa cultura adversa a um amor definitivo e exclusivo. Não se resolvem as dificuldades do celibato com o casamento, porque, também na relação conjugal, é alto o preço da fidelidade e permanente o risco da infidelidade. O coração humano, como órgão espiritual, precisa de cuidados intermédios, contínuos e intensivos.
7. Movidos pelo amor de Deus, permaneçamos vigilantes perante os riscos e atentos ao Senhor, que vem de repente ao nosso encontro e nos pede prontidão na resposta! Que não nos falte o azeite na candeia acesa da fé e da esperança, nem o vinho novo da alegria, na ânfora inesgotável do amor! Que entre os padres e os casais cristãos haja estima e ajuda recíprocas. Que as nossas famílias despertem o coração dos seus filhos para a alegria de uma resposta pronta ao Senhor. Ele vem para a todos desposar no Seu amor. Digamos “sim” e “estaremos para sempre com o Senhor” (cf. 1 Ts 4,17).